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Renda fixa e petróleo são caminhos para defender carteira no exterior diante de conflito Israel-Hamas

Alocadores, no entanto, seguem atentos a possível acirramento do conflito, que pode intensificar as pressões inflacionárias

Ana Paula Ribeiro

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O conflito entre Israel e o grupo militar palestino Hamas reforça a presença de petróleo e de títulos de renda fixa — em especial os do Tesouro dos Estados Unidos — na carteira de investimentos do exterior, afirmam especialistas em alocação consultados pelo InfoMoney.

Segundo eles, investidores precisam ficar atentos, no entanto, à possível intensificação dos combates e na eventual entrada de novos países, o que pode mudar o cenário para quem possui recursos dolarizados, sejam de renda fixa ou variável.

Com a deflagração do combate, a primeira reação do mercado foi vista no preço do petróleo. O barril do tipo Brent subiu 4,11%, para US$ 88,06, revertendo, temporariamente, uma tendência de queda. No final de setembro, a cotação da commotidy tinha superado os US$ 94, o maior patamar desde outubro de 2022, mas começou a cair com uma previsão de demanda menor em meio a juros mais altos nos Estados Unidos por mais tempo.

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“A gente já gosta das ações de petróleo. Sobre a renda fixa, ela já estava atrativa. Esse evento não muda muito a nossa cabeça em termos de alocação”, diz Eduardo Rahal, analista-chefe da Levante Corp.

Na visão da Levante, as ações de petrolíferas, nos preços atuais, mostram múltiplos atrativos em relação a outros setores que já subiram muito esse ano no mercado externo, mais especificamente, na comparação com as do setor de tecnologia. As ações da Exxon (XOM), uma das maiores petrolíferas do mundo, subiram 3,50% na segunda-feira (9), para US$ 110,92.

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Já a renda fixa é vista como oportunidade devido à perspectiva de juros elevados nos Estados Unidos, o que tem garantido o maior rendimento em mais de 15 anos. “É uma forma de se proteger em moeda forte a uma taxa [de retorno] que não se viu nos últimos anos”, explica.

O comportamento dos agentes financeiros nas bolsas na segunda-feira sugeriu que há uma percepção de que esse risco está “contido” e não é “significativo”, segundo Mohamed El-Erian, presidente do Queens’ College, da Universidade Cambridge.

“Se isso expandir e trouxer outras partes, a perspectiva é de uma economia global ainda mais fraca e de mais pressão inflacionária. Os mercados terão mais dificuldade em lidar com isso”, afirmou em entrevista à CNBC.

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A escalada do conflito poderia acontecer por alguns caminhos, segundo El-Erian – por exemplo, com Israel retaliando o Irã, o Irã entrando no conflito, a Síria e o Líbano aumentando sua atividade na região. “Então, você teria uma guerra significativa acontecendo”, disse. “O que acontece com a Ucrânia nesse ponto? Com a China?”, questiona.

Com um conflito de maiores proporções, agentes de mercado esperam que o barril de petróleo possa seguir uma escalada maior, em especial se a Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) não elevar a produção a partir de 2024. Com inflação, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) poderá aumentar as taxas de juros, e o dólar poderá se fortalecer.

Mas, para Rahal, da Levante, até mesmo uma eventual escalada da guerra não mudaria muito a alocação em renda fixa e petróleo. O investidor, porém, teria que conviver com uma volatilidade maior que viria a reboque do aumento da inflação e dos juros.

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Explique-se: quando os juros das Treasuries sobem, investidores que já possuíam papéis na carteira com remuneração menor tendem a vê-los desvalorizar, em função da marcação a mercado. Ao mesmo tempo, quem possui recursos disponíveis para investir consegue assegurar taxas elevadas por um período mais longo – ainda que possivelmente marcado por alguma volatilidade até o vencimento.

Pontos de atenção

No cenário atual, Guilherme Sahadi, CEO do familly office Bull Side, também vê poucos efeitos de curto prazo do conflito na carteira do investidor. Em caso de acirramento do conflito para outras nações, vê um impacto maior nos investimentos, mas pondera que isso ainda não está no horizonte.

“Se há uma escalada, haverá um efeito nas empresas do setor de defesa, que se beneficiarão dos gastos com armamentos por parte dos países envolvidos. Além disso, em momentos de tensão, há uma busca maior por ouro e por moeda forte, como o dólar. A renda fixa americana se beneficiaria desse cenário”, explica.

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Sem uma clareza sobre os próximos passos, a recomendação de Sahadi é não fazer alterações na alocação e, na renda fixa, aproveitar os títulos de prazo mais curto. Os retornos de Treasuries recuaram nesta terça, mas os papéis de dois anos seguem pagando quase 5% ao ano.

Pela volatilidade dos títulos mais longos, o investidor deve ficar nos mais curtos, de um ou dois anos, que já estão com yield [rendimento] bem interessante.

Guilherme Sahadi, CEO do familly office Bull Side

Para Alex Lima, economista da Guide Investimentos, o risco maior também é o de um conflito mais longo. No entanto, ele vê como improvável que se repita o que acontece entre Rússia e Ucrânia.

“Essa guerra de Israel com Hamas tem potencial para ser mais curta, embora talvez mais custosa por atacar áreas muito populosas”, diz.

Já o reflexo no petróleo, segundo ele, era esperado, uma vez que a região do atual conflito é próxima ao Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico. É por esse trecho que passa 20% da produção global de petróleo.

“Se tiver uma escalada do conflito, a alta do petróleo pode ser maior, gerando um choque inflacionário. E a gente já estava vendo uma inflação americana mais alta. Mas hoje não há muito o que falar de impactos. A resposta está sendo branda nos ativos de risco”, avalia.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney