No início de 2021, o Open Finance marcou o início de uma transformação no mercado brasileiro envolvendo o relacionamento dos clientes junto às instituições financeiras. De lá para cá, diferentes etapas desse processo foram implementadas, sendo que a última delas – o Open Investment – entrou em vigor em 29 de setembro de 2023.
Assim como nas fases anteriores, o objetivo do Open Investment é aumentar o leque de serviços financeiros para a população, dessa vez com foco especificamente nos investimentos. Se você ainda não sabe como funciona esse processo, continue a leitura e confira detalhes sobre o que será disponibilizado aos clientes, qual a segurança desse serviço e demais aspectos importantes para que possa avaliar se vale a pena ou não participar dele – afinal, a adesão é da escolha do investidor.
O que é Open Investment?
O Open Investment é a nova fase de implementação do Open Finance, na qual os clientes de instituições participantes do sistema podem compartilhar seus dados relativos a investimentos.
Breve histórico do Open Finance
No Brasil, o Open Finance foi implementado em quatro etapas. A primeira, iniciada em fevereiro de 2021, quando o projeto ainda se chamava Open Banking, envolveu o compartilhamento de dados das instituições financeiras entre si, como canais de atendimento, tarifas praticadas e produtos e serviços financeiros oferecidos.
Meses depois, em agosto de 2021, veio a segunda etapa, voltada aos dados de clientes. Primeiramente, as instituições puderam compartilhar entre si informações de identificação, como endereço, renda e demais dados pessoais. Logo após, começaram a trocar informações financeiras dos clientes, incluindo movimentações de conta-corrente, cartões e operações de crédito.
A terceira fase, iniciada em outubro de 2021, disponibilizou o Pix, e os clientes puderam fazer pagamentos e transferências fora dos aplicativos dos bancos.
Por fim, dois meses depois, veio a quarta fase, que transformou o Open Banking em Open Finance. Dessa vez, outros dados dos clientes relativos a produtos financeiros já podiam ser compartilhados, como câmbio, seguros, previdência privada – e, agora, investimentos.
O Open Investment, portanto, faz parte da quarta fase do Open Finance, pois o cliente permite que instituições financeiras participantes deste ecossistema tenham acesso a seus dados sobre investimentos. Por exemplo, se um banco ou corretora sabe quando vence uma aplicação, ele pode se antecipar e oferecer uma nova, mesmo que o cliente não seja seu. Com isso, teoricamente, aumentam as chances de o cliente receber ofertas de produtos e serviços mais adequados ao seu perfil e objetivos financeiros.
Como funciona o Open Investment?
Inicialmente, os grandes bancos serão obrigados a participar do Open Investment. Demais instituições, como bancos digitais e corretoras, têm participação voluntária. Mas o Banco Central já avisou que, daqui a algum tempo, o sistema incluirá todas as outras instituições financeiras do mercado.
Além disso, neste início, o compartilhamento de informações abrangerá somente os produtos mais populares, os quais veremos mais adiante. Em entrevista à Folha, o chefe de regulação do BC, João André Pereira, disse que essa limitação de participantes e produtos é necessária para garantir o bom funcionamento do ecossistema. Isso porque ainda há muitas instituições financeiras que precisam ajustar seus processos às exigências da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e à Lei do Sigilo Bancário, o que demanda expressivos investimentos em tecnologia.
Quanto ao cliente, mesmo que ele já tenha aderido ao Open Finance em alguma etapa anterior, precisará manifestar sua vontade de participar especificamente do Open Investment, com autorização válida por 12 meses, assim em outras etapas da iniciativa. A adesão é feita diretamente nos canais online das instituições participantes – não há um aplicativo nem serviço específico do Open Investment.
Quais ativos poderão ser acessados pelo Open Investment?
O início do Open Investment contemplará o compartilhamento dos seguintes ativos de renda fixa e renda variável:
- títulos do Tesouro Direto;
- CDBs (Certificados de Depósito Bancário);
- RDBs (Recibos de Depósito Bancário);
- LCIs e LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio);
- CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio);
- ações;
- debêntures;
- cotas de fundos de investimentos (renda fixa, multimercados, de ações e cambiais) e de fundos de índices (ETFs) listados na bolsa.
O Open Investment é seguro?
O Banco Central conta com o apoio de outros órgãos reguladores para a supervisão do Open Finance. No caso dos investimentos (no âmbito do Open Investment), quem cria as diretrizes é a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), com respaldo na LGPD.
Tecnologicamente, o ecossistema do Open Finance se baseia em conexões protegidas por criptografia, que aumenta a segurança das trocas de informações. Em um primeiro momento, com o acesso disponível principalmente aos grandes bancos, a expectativa é que o monitoramento dos compartilhamentos de informações seja facilitado.
Em seu site, o Banco Central explica que, por motivos de segurança, não há uma plataforma centralizada ou aplicativo específico para o compartilhamento de informações. Desse modo, o interessado em participar precisa os canais digitais da instituição com quem deseja compartilhar seus dados e procurar por “Open Finance”. Ao fazer isso, ela pode estar certa de que somente essa instituição terá acesso aos seus dados, até que ela repita esse processo com outra.
No portal da Estrutura de Governança, o usuário pode obter mais informações sobre o funcionamento do Open Finance e saber as instituições que participam do sistema.
Vantagens do Open Investment
As fases anteriores do Open Finance buscaram trazer mais inclusão financeira no Brasil, estimulando mais competitividade entre instituições na oferta de pagamentos e crédito. O mesmo se espera do Open Investment em relação aos investimentos.
Ao abrir as suas informações, o cliente tem a promessa de ter acesso a uma oferta maior de ativos financeiros, potencialmente com taxas mais atrativas, sem precisar começar um relacionamento com uma instituição.
Por sua vez, sairá na frente a instituição que oferecer a melhor assessoria e cultivar um relacionamento mais próximo. Segundo profissionais da área, a tendência é de que aumente o contato entre clientes e instituições financeiras, tanto para ofertar produtos de investimentos próprios quanto para incentivar o compartilhamento das informações.
A iniciativa segue uma tendência do brasileiro, que se mostra mais disposto a tornar seus dados conhecidos, conforme mostrou um estudo realizado pela Ipsos e TecBan divulgado no final de agosto. De acordo com a pesquisa, a fatia das pessoas que aceitam compartilhar suas informações passou de 40% em 2021 para 52% em 2023. Já a preocupação sobre a utilização desses dados caiu para 34% neste ano, contra 46% no último levantamento.
Rogério Melfi, gerente de Open Finance na TecBan, atribuiu essa queda da desconfiança no compartilhamento de dados a mais educação financeira por parte das pessoas e a entrada em vigor da LGPD.
“As pessoas começaram a entender o que elas têm de direitos e deveres com a Lei de Proteção de Dados”, disse.
A recomendação do gerente ao consumidor para proteger seus dados é de sempre utilizar os canais oficiais da sua instituição financeira e observar com cuidado se links em e-mails e SMS são, de fato, provenientes do seu banco.