8 ações de empresas brasileiras que ganham com o El Niño

Secas na Índia já têm afetado produções, o que inclusive levou algumas ações da Bolsa brasileira a terem um forte desempenho na semana passada

Lara Rizério

El Niño (Foto: Getty Images)
El Niño (Foto: Getty Images)

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O mês de julho foi o mais quente no Brasil desde 1961 e muitas cidades bateram recordes de temperaturas em agosto, ainda que tenham registrado uma forte baixa nas temperaturas nos últimos dias.

Isto se deve, em parte, ao evento climático El Niño, um fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico, que ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos e tem duração média que varia entre um ano a um ano e meio, conforme aponta a Ágora Investimentos, citando especialistas. O último El Niño de forte intensidade aconteceu entre 2014 e 2016.

Além do aumento da temperatura, o Brasil deverá sofrer com secas prolongadas no norte e nordeste, e chuvas intensas e volumosas na região sul. O fenômeno climático deve provocar também secas no sudeste da Ásia e nos países da Oceania, com aumento da incidência de chuvas na região central do pacífico, assim como na costa oeste dos EUA. Além disso, secas na Índia já têm afetado produções, o que inclusive levou algumas ações da Bolsa brasileira a terem um forte desempenho na semana passada.

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Abaixo, estão listadas as principais teses das empresas agrícolas e de alimentos expostas ao evento climático:

1. Camil CAML3; arroz

Os preços do arroz estão subindo na Ásia, uma vez que a seca que atinge a região deve impactar as safras, aponta a Ágora. Esta situação provavelmente irá piorar nos próximos meses, à medida que o evento climático El Niño provavelmente ganhará força.

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Alguns países asiáticos, como a Índia (cerca de 35% do comércio global), já sinalizaram restrição as exportações de arroz, e outros produtores, como o Vietnã, a Birmânia e o Camboja (combinados respondem por outros 20% do comércio global), fizeram o mesmo em situações passadas, como em 2019-2020.

“Este cenário na Ásia deverá fazer com que os preços do arroz continuem subindo no Brasil (a alta anual já é de quase 25%) porque os compradores de arroz terão que encontrar novos fornecedores, uma vez que os produtores asiáticos enfrentam desafios”, avalia a casa.

O movimento já parece ocorrer, uma vez que as exportações de arroz do Brasil aumentaram 91% em relação ao ano anterior até agora em agosto, conforme dados publicados na segunda-feira da semana passada, destaca a casa.

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2. São Martinho SMTO3, 3. Jalles Machado JALL3 e 4. Raízen RAIZ4, de açúcar

Historicamente o El Niño provoca seca nos países asiáticos, o que resulta numa redução entre 6% a 8% na produção global de açúcar em comparação com a colheita anterior. Isto provoca aumento entre 50-60% nos preços internacionais, aponta a Ágora.

O Brasil é responsável por cerca de 40% do total das exportações de açúcar, mas com o aumento dos preços internacionais, as exportações tornam-se mais atrativas, como aconteceu em 2015/16, colocando assim uma pressão altista sobre os preços internos. Além disso, a Índia provavelmente proibirá as exportações de açúcar a partir de Outubro de 2023 para evitar a inflação alimentar no país, contribuindo para o esperado aumento dos preços.

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Neste cenário, na semana passada, o Bradesco BBI elevou a recomendação para São Martinho e Jalles Machado para equivalente à compra.

A Guide também aponta que Jalles Machado e a São Martinho  são as empresas mais beneficiadas com a alta do açúcar. A Raízen é outra produtora de açúcar listada na B3. Tanto a Jalles quanto a São Martinho tem a produção de açúcar e álcool como sua atividade principal. Já a Raizen possui outras atividades, como distribuição de combustível.

A redução da produção de açúcar pela Índia não é novidade. Os preços do açúcar estão em alta, principalmente a partir do 2S22 quando uma combinação de safra ruim na Índia e migração pra etanol ganhou força.

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“Acreditamos que os preços do açúcar devem continuar elevado por pelo menos mais alguns meses (enquanto não houver sinais claros de aumento da produção), favorecendo os produtores de açúcar na bolsa”, aponta.

Para a Levante Corp, a Raízen também conta com um forte potencial. Ela tem um total de 35 usinas e capacidade para moer 105 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ao ano. A empresa liderada por Cosan (CSAN3) e Shell é considerada uma das maiores do mundo quando se fala da produção de açúcar e etanol.

A Raízen também possui um projeto de expansão muito relevante, o chamado E2G ( Etanol de segunda geração), um combustível que não precisa expandir a área plantada para existir, uma vez que ele é oriundo do bagaço da cana. A Raízen é pioneira nesta tecnologia, possuindo uma planta deste novo segmento em atividade e já com outras cinco em construção, sendo que o projeto contempla expansão para vinte plantas deste novo segmento até o ano de 2031, ressalta a a casa.

5. Ambev ABEV3, de bebidas

Historicamente, as altas temperaturas ajudam nas vendas de bebidas frias, como a cerveja, avalia a Ágora. Assim, dado que o El Niño provavelmente permanecerá ativo até o 1T24, pode haver algum impulso para as vendas da Ambev no Brasil – fator-chave para o preço das ações, segundo a casa.

Por exemplo, no 3T15, quando houve um inverno mais quente devido ao El Niño, os volumes de cerveja da Ambev aumentaram 3,5% em base anual, apesar de uma crise econômica que levou o PIB a cair 1,7%.

Ambev (ABEV3): calor fora de época pode impulsionar resultados? Dados históricos mostram que sim

Em sua teleconferência de resultados do 3T15, a Ambev mencionou que “o crescimento do volume voltou a território positivo, crescendo 3,5%, impulsionado, primeiro: pelo clima favorável, já que as temperaturas no Brasil atingiram o maior nível em cinco anos para o período entre julho e setembro…”.

Além disso, o consenso da Bloomberg para a Ambev projeta queda de 0,6% no volume de cerveja em base anual no 3T23, o que pode parecer conservador dada esta situação, enquanto os analistas da Ágora modelam crescimento anual de 1,7%.

6. JBS JBSS3) e 7. Marfrig (MRFG3, de proteínas

Depois de 3 anos consecutivos de La Niña causando seca nos Estados Unidos, a chegada do El Niño deve ajudar gradualmente a recuperar as pastagens e a oferta de grãos para alimentar os animais, reduzindo assim os custos dos insumos e favorecendo a recomposição de margens para JBS e Marfrig –que possuem a maior parte das plantas produtivas no país, diz a Ágora.

8. 3tentos TTEN3, de insumos agrícolas

O provável aumento da incidência de chuvas no sul do país deve favorecer a produção agrícola na região, apoiando o aumento da lucratividade da 3tentos, finaliza a Ágora.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.