Fed precisa estar confiante de que inflação desacelerou para reduzir juros, diz Jerome Powell

Presidente do Fed afirma que os juros vão precisar se manter em patamar restritivo por mais tempo; mercado elogiou declarações

Mitchel Diniz

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Após a alta de 75 pontos base nos juros dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou o compromisso da autoridade americana em reduzir a inflação. “Nós não podemos falhar em relação a isso”, disse ele, durante a coletiva de imprensa após a reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). O chairman voltou a dizer que a estabilidade de preços é uma prioridade e, sem ela, a economia não funciona.

“Estamos mudando nossa postura política propositalmente”, afirmou Powell. O presidente do Fed admitiu que a economia americana desacelerou em relação a 2021, com um enfraquecimento significativo do setor imobiliário. Uma desaceleração da economia global também está enfraquecendo as exportações. Enquanto isso, Powell reforça que o mercado de trabalho americano continua extremamente apertado e deve permanecer assim. Os salários continuam elevados e a geração de empregos segue robusta.

“O mercado de trabalho continua fora de equilíbrio”, ressaltou Powell. “Esperamos que condições de oferta e demanda entrem em equilíbrio com o tempo”. No entanto, segundo Powell, por enquanto existem apenas evidência modestas de que o mercado de trabalho está desaquecendo. O chairman afirma que a situação atual é atípica e a taxa de desemprego não deve crescer como ocorreu em recessões anteriores.

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“É possível que a geração de empregos diminua sem provocar uma alta de mesma intensidade no desemprego”. Powell disse que o Fed ainda não desistiu da ideia de que é possível ter uma leve alta na taxa de desemprego enquanto a inflação é trazida para baixo.

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Fed vai seguir dependente de dados para decidir sobre juros

chairman também afirmou que a inflação continua bem acima da meta do Federal Reserve, de 2%. As pressões inflacionárias atravessam uma série de bens e serviços e os dirigentes do BC americano continuam vendo riscos de elevação nos índices. Powell diz que não há espaço para ser complacente com a inflação e que, nos próximos meses, o Fed vai monitorar evidências de que os preços estão caindo.

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Mais uma vez, o Fed vai depender de dados para decidir sobre a magnitude de suas próximas decisões. “Em algum momento vai ser apropriado reduzir o ritmo de alta de juros”, afirmou Powell. As decisões serão tomadas a cada reunião, mas Powell diz que uma política monetária mais restritiva será necessária por mais tempo.

“Para reduzir juros, precisamos estar confiantes de que a inflação está desacelerando”, disse. Powell também falou que existe a chance do Fed chegar a um patamar de juros e se manter nele, mas acrescentou que esse nível ainda não foi alcançado.

“Nos movemos hoje para o nível mais baixo do que consideramos restritivo”, disse Powell. Segundo ele, os dirigentes do Fed consideram que o núcleo da inflação não está onde deveria. “Queremos ser agressivos agora e manter assim até derrubar a inflação”.

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Risco de recessão é incerto, segundo chairman

Powell acredita que a atual condução da política monetária vai ser o suficiente para restaurar a estabilidade de preços e reduzir a inflação.

chairman também afirmou que parte da inflação é causada por choques de abastecimento e que o preço das commodities parece ter chegado a um pouco. “Se os choques de oferta diminuíram, também podem ajudar a aliviar pressões sobre a inflação”.

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Sobre o risco de uma recessão, Powell se mostrou incerto, dizendo que um “pouso suave” é desafiador. “Ninguém sabe chegaremos a uma recessão e, se isso acontecer, o quão profunda será”, disse ele. “Mas não trazer a inflação para baixo traria dores maiores mais adiante”.

Para o chairman, a economia americana é forte e robusta e a população ainda tem poupança o suficiente para sustentar um crescimento econômico. “Ainda há bastante dinheiro circulando na economia”.

Repercussão no mercado

Para a equipe da CM Capital, os duros recados e a postura de Powell na coletiva mostram que o Fed está em linha com o comportamento esperado diante do tamanho do problema enfrentado atualmente pelo país. “Os Estados Unidos encaram uma inflação em patamares históricos e que também vem demonstrando rigidez excessiva, mesmo diante de uma política monetária agressiva por parte do Fed”, diz o comentário.

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A equipe citou especificamente a fala do presidente do Fed a respeito de como as commodities devem ter um papel importante no atual cenário. “Novos choques externos de preços, como no caso do petróleo, ou a retomada dos gargalos de oferta via cadeias de suprimento, farão com que o cenário inflacionário se torne ainda mais desafiador e demanda uma postura cada vez mais ortodoxa por parte do Fed.”

Para a corretora, a redução gradual da perspectiva de crescimento em detrimento de um cenário recessivo e com inflação ainda fora de controle no curto prazo parece ser mais aderente à realidade do que apontavam as projeções anteriores.

“Daqui para frente podemos esperar uma economia cada vez mais desaquecida e em busca de um mercado de trabalho menos apertado como forma de, gradualmente, vencer a batalha contra inflação.’

Para a CM capital, as informações compartilhadas hoje parecem ter sido bem recebidas pelo mercado, “tendo em vista que, após a volatilidade inicial gerada pelo anúncio, a expectativa do mercado para os juros deste ano passou a convergir para 4%, patamar mais baixo inclusive que as previsões do Fed como exposto ao longo deste informe.”

Alison Correia, CEO da Top Gain, também considerou que Powell se comunicou de forma serena e passou tranquilidade ao dizer que as expectativas de inflação estão ancoradas.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados