A sedução do pessimismo

Investidor que traça uma estratégia para seus objetivos não deveria se deixar levar por frenesis momentâneos que ocorrem de tempos em tempos, e sim seguir como o piloto do avião, mantendo a tranquilidade mesmo durante a instabilidade

Lucas Devito

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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O título deste artigo é o mesmo de um capítulo do livro “A Psicologia Financeira”, de Morgan Housel, que me chamou muita atenção, e faz todo sentido refletirmos sobre a maneira como somos influenciados por essa abordagem ao longo da nossa trajetória como investidores.

Os pessimistas sempre soam como os mais inteligentes da roda, com suas projeções catastróficas e apocalípticas. Eles parecem ser nossos pais nos dando conselhos, como se realmente quisessem o nosso bem e estivessem apenas nos ajudando.

Pode até ser que, em alguns casos, a intenção seja essa. Porém, em 90% das vezes, tudo o que vimos, lemos e ouvimos que contenha um teor de tragédia, é apenas mais uma notícia para reter a nossa atenção.

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Intuitivamente, o ser humano é atraído por manchetes negativas, seja porque são mais impactantes ou até mesmo porque nós nos sentimos “aliviados” sabendo que existe muita coisa pior do que estamos passando. Isso gera um certo conforto psicológico.

Trazendo para o mundo dos investimentos, a dinâmica é exatamente a mesma. As instituições financeiras e os economistas volta e meia publicam uma matéria sobre recessão mundial, aversão a risco, bear market, estagflação e vários outros temas que podem assustar a maioria das pessoas. Mas a principal intenção é sempre atrair nossa atenção, com intuito de oferecer produtos ou serviços.

Não estou fazendo juízo de valor, quero apenas deixar explícito como funciona o sistema para que o entendimento do texto fique mais claro para o leitor.

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Você, a partir do momento que se descobre como investidor e traça uma estratégia para seus objetivos, não deveria se deixar levar por esse frenesi momentâneo que ocorre de tempos em tempos. O correto é você seguir como piloto do seu avião, mantendo a tranquilidade mesmo durante a instabilidade, pois só assim você vai chegar no seu destino.

Não estou querendo parecer otimista iludido e muito menos dizer que crises não ocorrem, o ponto a que quero chegar é que mesmo sabendo que a humanidade caminha para frente, inevitavelmente nós vamos passar por turbulências durante a jornada. Contudo, o mais importante é que você mantenha a sua estratégia durante o percurso e concentre-se no que está em seu controle.

Acredito que existem bons produtos para todos os perfis de investidor, desde o mais conservador ao sofisticado. Tudo é uma questão de entender seus objetivos e escolher a melhor estratégia para alcançá-los, os produtos são apenas a ponta final dessa cadeia, pois eles serão os veículos que vão te levar às suas metas.

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Ainda sobre a utopia otimista, imaginem se no auge da recente crise sanitária que passamos alguém dissesse que as bolsas iriam se recuperar das quedas em menos de um ano. No mínimo seria taxado de louco, né?

Pois então, vamos aos números:

O S&P500 se recuperou da queda em seis meses, e depois disso engatou uma alta consistente até então.

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Já o nosso Ibovespa foi mais lento, mas em 10 meses alcançou os patamares anteriores e retomou a sua trajetória.

Isso serve também para vários outros eventos ao longo da história:

Nos gráficos acima, observamos a performance do S&P 500 durante as recessões ou crashes e a sua capacidade de recuperação, mesmo que mais lenta em alguns períodos.

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É claro que nunca sabemos de fato o que está por vir, mas uma certeza que eu tenho é que para o investidor de renda variável, o melhor amigo é o tempo. Pois mesmo que passemos por vários tropeços durante a jornada, o tempo vai fazer com que tudo volte aos trilhos e as empresas se ajustem, seguindo em frente e gerando lucro aos sócios.

Seguem abaixo algumas provas sobre essa afirmação:

Chance de perder dinheiro na bolsa Americana em relação ao período do investimento (Fonte: Robert Shiller, Schroders)
Chance de perder dinheiro na bolsa Brasileira

Assim, me sinto seguro em dizer que não sou um tolo otimista, mas sim que confio nas estatísticas.

Portanto, o investidor que decidiu seguir a estratégia de renda variável, por saber que dela advêm os maiores retornos, deve se lembrar sempre de ser paciente, manter o foco e confiar na estratégia de longo prazo. A volatilidade deve ser sua aliada, e não uma inimiga.

Obviamente, diversificação e acompanhamento são fundamentais, mas não se deixe influenciar pelas notícias e movimentações de curto prazo, sejam elas pessimistas ou otimistas. Isso pode jogar seu plano por água abaixo.

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Lucas Devito

É formado em administração pela Universidade de Ribeirão Preto, pós-graduado em gestão financeira pela FGV e habilitado pela Planejar como Planejador Financeiro CFP®. Tem dez anos de experiência no mercado financeiro e atualmente é consultor de Investimentos na Suno Consultoria.