Divulgação do Focus mostra BC com dificuldades de quebrar expectativas inflacionárias, dizem analistas

Projeção para o IPCA de 2022 já é mais que o dobro da meta e para 2023 e 2024 as estimativas já estão acima do centro da meta, em sinal de desancoragem

Lucas Sampaio Lara Rizério

Sede do Banco Central, em Brasília (Divulgação)
Sede do Banco Central, em Brasília (Divulgação)

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A volta da divulgação do Relatório Focus nesta terça-feira (26), após quase um mês de “apagão” sobre as projeções do mercado, mostra que o Banco Central está com dificuldades para quebrar as expectativas inflacionárias, segundo analistas.

O Focus é um levantamento semanal coletado pelo BC com mais de 100 instituições financeiras, e sua última publicação havia sido em 28 de março. Desde então, estava suspensa devido à greve dos servidores da instituição.

Os dados divulgados hoje mostram que o mercado elevou a estimativa para inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2022 pela 15ª semana consecutiva. Em quatro semanas, a previsão subiu de 6,86% para 7,65%.

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Expectativas do mercado para 2022:

Assim, a expectativa para o índice oficial de inflação do país deste ano já é mais que o dobro da meta do BC, que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja: a meta será cumprida se o índice ficar entre 2% a 5%).

O mercado também elevou as estimativas para 2023 e 2024 (para 4% e 3,2%, respectivamente), e as projeções dos próximos dois anos já estão acima do centro da meta dos próximos dois anos (3,25% e 3,00%), em um sinal de desancoragem de expectativas.

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Expectativas inflacionárias

Para Roberto Ivo, economista e professor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), isso “indica que o Banco Central está tendo dificuldades de quebrar as expectativas inflacionárias com os movimentos mais bruscos da taxa de juros”.

Ivo diz que “ainda há uma inércia inflacionária carregada desde 2021”, causada pela depreciação do real ante ao dólar e pelos aumentos recorrentes nos preços dos combustíveis (que atingem o consumo das famílias e os setores de logística e transporte), por isso a inflação “será acomodada somente nos anos subsequentes ao atual”.

O professor da UFRJ diz que o IPCA-15, que será divulgado amanhã, ainda virá em um patamar elevado, “especialmente em função dos preços elevados dos combustíveis, que estão ‘comendo’ a cesta de orçamento das famílias”. “Isso contamina toda a cadeia de bens de consumo via fretes”.

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Ele cita também os preços de produtos importados que seguem pressionados, como o trigo — que “rebate direto em pães e massas” — e o reajuste de até 10,89% nos remédios autorizado pelo governo desde 1º de abril. A expectativa do Itaú é de uma alta de 1,86% do IPCA-15 na comparação mensal, enquanto o Bradesco projeta um avanço de 1,84%.

Alta maior da Selic

O BC já elevou a Selic de 2% para 11,75% desde março do ano passado e indicou que vai subir a taxa básica de juros da economia brasileira em mais 1 ponto percentual na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima semana, para 12,75% ao ano.

O Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, têm reiterado a mensagem de que a intenção é encerrar a alta de juros nesta reunião do Copom, em 12,75% ao ano, exceto se houver novas surpresas negativas. Mas o mercado já prevê que será necessário continuar o aperto monetário.

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Segundo o Focus, o mercado passou a prever uma Selic e um PIB (Produto Interno Bruto) maiores neste ano. A estimativa é que a taxa básica de juros termine o ano em 13,25% (contra 13% há quatro semanas) e que a economia cresça 0,65% (contra 0,5% do último relatório).

As projeções para a Selic permaneceram as mesmas para 2023, 2024 e 2025 (9,0%, 7,50% e 7,00%, respectivamente), mas a do PIB para 2023 diminuiu, de alta de 1,30% para alta 1,00%. Para 2024 e 2025 a estimativa de crescimento da economia é de 2,00%.

PIB maior em 2022, mas menor em 2023

O Bradesco BBI destacou a piora da expectativa nas últimas quatro semanas e que analistas esperam taxas de juros mais altas, além de dizer que o Focus veio “em linha com a perspectiva de maior inflação/crescimento em 2022”.

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O Itaú afirmou que as expectativas de inflação aumentaram “significativamente” e que “o hiato de quatro semanas mostrou de uma forma mais cristalina o quadro macroeconômico do país”. O banco disse ainda que “o destaque foi o PIB, cuja projeção passou de 0,50% em 2022 para 0,65%, embora tenha piorado para 2023, caindo de 1,30% para 1,00%”.

Roberto Ivo tem uma projeção pior para o crescimento da economia neste e no próximo ano. “Esperamos que o PIB feche o ano de 2022 entre uma pequena contração de -0,5% e 0% em 2023. Para 2024 e 2025, o valor deve ficar em 1% [abaixo dos 2% do Focus]”.

“Isso decorre de um mercado de trabalho fraco, com renda média do trabalhador deprimida, e serviços e indústria ainda enfraquecido, ressacados dos efeitos pandêmicos e da pressão de alta de custos na cadeia de suprimentos dos principais setores do país, como o automobilístico”, afirma o professor da UFRJ.

Veja abaixo todas as projeções do Relatório Focus de 22 de abril:

Indicador 2022 2023 2024 2025
IPCA 7,65% 4,00% 3,20% 3,00%
Selic 13,25% 9,00% 7,50% 7,00%
PIB 0,65% 1,00% 2,00% 2,00%
Câmbio R$ 5,00 R$ 5,00 R$ 5,05 R$ 5,10

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.