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A solidariedade não é fato novo: acompanha a humanidade desde os primeiros agrupamentos sociais, como mostra a arqueologia e a antropologia. Mas a caracterização de um setor dedicado a ações solidárias e de defesa de direitos, como identificamos hoje o terceiro setor, remonta a meados do século XX.
“A Segunda Guerra propiciou, no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, o surgimento de muitas organizações de solidariedade na Europa visando a reconstrução das ruínas em todos os sentidos, não só material. Então, em muitos países da Europa Ocidental surgiram ONGs, que aí sim começaram a ter esse nome — esse nome é instituído em 1948, na ONU, abrindo para organizações que não eram os Estados em alguns debates, algumas comissões de organizações que não eram Estados, então foram denominadas organizações não governamentais, essa é a origem do nome”, conta o sociólogo Domingos Armani.
Em entrevista ao podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa, produzido pelo Instituto MOL com apoio de Movimento Bem Maior, Morro do Conselho Participações e Ambev, e divulgação do Infomoney, Armani ressalta os marcos que moldaram a trajetória das organizações da sociedade civil nas últimas décadas.
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“Quando as organizações começam a incorporar o elemento da defesa de direitos e tem um marco importante nisso, que é o regime militar, e o segundo marco é a Assembleia Nacional Constituinte. Ali foi um marco importante, porque todo o campo de ONGs no Brasil, articulado com Igrejas, Universidades e outras instituições, institutos e fundações, elaborava propostas, fazia pressão, fazia lobby dentro da Constituinte, e se teve muito sucesso! Tanto que essa é uma Constituição Cidadã, ela incorpora a perspectiva dos direitos de uma forma bem ampla em relação à história brasileira, pelo menos”, conta. O sociólogo vê a evolução do debate e uma diversificação de pautas como consequência natural da sofisticação da experiência humana no mundo.
Ao falar sobre o contexto atual das organizações, Armani vê um momento de inflexão no debate, o que relaciona com a qualidade da democracia brasileira. “O Brasil, hoje, dá menos valor à solidariedade, menos valor a direitos. A democracia está sendo solapada. É sobre esses valores que se assenta a razão das ONGs. A consequência é que isso também fragiliza as chances de sobrevivência e fortalecimento de todo o campo das organizações da sociedade civil”, reflete.
Ainda assim, identifica um momento importante de pressão por mudanças, principalmente no que diz respeito às respostas que o capitalismo é capaz de produzir diante das mudanças climáticas, por exemplo. Também vê nas novas gerações um vetor de transformação da realidade.
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“A juventude vem com uma pegada muito mais firme em termos de exigências e padrões do que espera de uma sociedade minimamente decente. Nem todos vão fazer disso uma militância, mas não fazer disso foco de ativismo não quer dizer que não haja consciência que se posiciona no mínimo na hora de consumir ou de fazer algumas escolhas”, conclui.