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SÃO PAULO – Mar calmo não faz bom marinheiro. A recente turbulência no mercado financeiro pegou muito investidor de surpresa.
De um dia para o outro, o Ibovespa, que em 2019 acumulara a maior alta nos últimos 3 anos, passou a sofrer sucessivos circuit breakers – mecanismo emergencial que interrompe as negociações quando a queda do Ibovespa ultrapassa determinados limite – e já acumula queda de 35,95% em 2020.
Para Gabriel Raoni, sócio e co-gestor da IP Capital Partners, o período de bull market (mercado com tendência de alta) vivido entre 2016 e 2019 fez com que muitos investidores abandonassem os cuidados necessários para a alocação de seu patrimônio, o que agravou os prejuízos na crise.
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“O bull market corrompe as pessoas. Com o tempo, o investidor vai baixando a guarda, é normal. Muita gente se prejudicou com esse pensamento de que a tendência não iria acabar”, afirmou o gestor.
Raoni foi o convidado do Coffee & Stocks desta terça-feira (7), e falou de algumas das estratégias que o fundo utiliza na hora de montar a carteira de ativos – e que o ajudaram a limitar as perdas na recente virada do mercado.
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“Nós tomamos as decisões esperando pelo melhor, mas nos preparando para o pior. Uma das receitas da IP e que aprendemos ao longo do tempo é que você tem que concentrar seus investimentos em excelentes empresas. Muita gente fala que investe em uma empresa boa, mas investir em uma empresa excelente é muito mais do que isso”, disse Raoni.
Segundo o gestor, o fundo usa uma estratégia de análise que leva em conta 5 critérios principais:
1 – Lucratividade
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Para Raoni, o questionamento sobre a lucratividade da empresa é fundamental. “É preciso saber se essa empresa gera um retorno sobre o capital investido acima do custo de capital. Senão, já pode descartar”, afirma.
2 – Posicionamento frente à concorrência
As respostas que a empresa dá às “investidas” da concorrência, segundo o gestor, também é um ponto de suma importância. “A empresa tem um posicionamento competitivo? Ela está tomando uma porrada da concorrência e está vencendo? Isso é importante para avaliar o potencial de adaptação que essa empresa tem”, explica.
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3 – As pessoas na gestão
“Quem são as pessoas que estão por trás dos negócios? Quais as motivações? Qual o turnover?”, questiona Raoni, acrescentando que é crucial não subestimar nenhum desses fatores na escolha em um ativo.
4 – Alavancagem
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Raoni defende que é preciso também buscar ter conhecimento sobre o cronograma de amortização das dívidas dessa empresa. “Não adianta atravessar a crise arrebentado”, ressalta.
5 – Preço
Por último, mas não menos importante, Raoni destaca a necessidade de uma avaliação do preço dos papéis da empresa diante dos atributos anteriores.
“Por exemplo, o setor de bancos. Está barato? Provável, por outro lado está faltando posicionamento competitivo. Eles estão enfrentando uma concorrência dura”, explica.
“O mesmo acontece com o setor de combustíveis. Falta o segundo atributo, que é o posicionamento competitivo. Eles estão tomando muita porrada dos postos bandeira branca há algum tempo”, acrescenta.
Como se preparar?
Em uma rápida leitura sobre a recente crise causada pela pandemia do novo coronavírus, Raoni afirmou que a turbulência deve atingir o resultado das empresas de maneira expressiva e que ele não tem nenhuma aposta sobre sua duração.
“Tem uma história da primeira guerra mundial, que pensavam que ela duraria 4 meses quando na verdade durou 4 anos. Então, não menosprezamos a possibilidade de extensão da crise”, disse.
Segundo ele, uma estratégia para atravessar bem uma crise é entrar nela com um bom leque de investimentos no exterior.
“Lá fora tem um universo maior de empresas, e muitas delas podem se encaixar nesses 5 atributos. É o que fazemos, nosso veículo pode investir aqui e lá fora. Só para fazer um retrospecto, entramos com 3/4 no exterior e 1/4 no Brasil. Estamos fazendo essa migração porque muita empresa boa ficou barata no Brasil”, disse.
Oportunidades
Questionado pelo analista Thiago Salomão sobre as oportunidades que enxerga no momento, Raoni destaca a holding do setor elétrico Equatorial e a operadora de planos de saúde Hapvida.
“A Equatorial passa tranquilamente pelos 5 atributos, tem um histórico de ter passado bem por crises passadas, é bastante conservadora quanto a alavancagem e não deve perder tamanho e valor. A Hapvida é outra empresa que adoramos. Ela é extremamente bem posicionada, com donos que gostam de trabalhar e tem o menor custo da cadeia”, explica o gestor.
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