Como o fundo Neo Multiestrategia subiu no pior trimestre da história da Bolsa

Mario Schalch, gestor do fundo, conta como o uso de operações de valor relativo ajudaram o fundo a ter uma boa performance, apesar da queda do mercado

Stéfani Inouye

(Getty Images)
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SÃO PAULO – No mercado financeiro, muito se fala sobre a importância de se preparar para momentos de crise. Mas, na prática, são poucos os investidores que realmente se blindam para cenários extremos.

No último trimestre, o Ibovespa registrou a maior desvalorização de sua história, acumulando uma queda de 36,85% entre janeiro e março. Muitos investidores foram pegos de surpresa e viram seus ativos de risco despencarem vertiginosamente.

Enquanto isso, o fundo Neo Multiestrategia se descolou do mercado e teve uma performance positiva tanto em março (+2,01%), quanto no acumulado do trimestre (+3,7%).

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Mario Schalch, gestor do Neo Multiestrategia, foi o convidado do Coffee & Stocks desta quarta-feira (8), e contou um pouco sobre as estratégias do fundo para buscar retornos independentemente da direção do mercado.

“O fundo tem um histórico longo de 17 anos, e eu tenho mais de 20 anos fazendo gestão. Quando um fundo tenta identificar o que vai cair ou subir, nós chamamos de operações que buscam o Beta. Nós somos um fundo que vai atrás de operações que buscam alfa, ou seja, operações que independem da direção do mercado”, conta Schalch.

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Segundo Schalch, foram operações no mercado de juros que ajudaram a trazer essa rentabilidade positiva registrada em março. Ele explicou que, de uma forma resumida, o mercado de juros começou o mês precificando uma alta das taxas até o final de 2022, depois previu uma estabilização dos juros entre 2022 e 2025, e passou a precificar uma alta muito forte entre 2025 e 2027.

“O que fizemos foi comprar juros entre 2023 e 2025 e vender juros entre 2025 e 2027. Essas posições se ajustaram no final do mês, o fez com que a gente conseguisse trazer essa rentabilidade em março”, afirmou.

Schalch ressaltou que o fundo também tem pequenos mandatos para apostar na mesma direção do mercado, mas que, no geral, a maior parte do retorno do fundo vem de operações alfa.

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“Dando um exemplo de uma operação de alfa, é como se a gente comprasse o índice Bovespa aqui no Brasil e vendesse o S&P500 lá fora. A ideia é ganhar dinheiro independentemente da direção do mercado”, explica.

O que esperar dos juros?

Em entrevista ao analista Thiago Salomão, Schalch destacou que o mercado já precifica uma alta de juros a partir do final desse ano. “Há uma aposta de uma alta ao final de 2020, que se estenderia por um período de dois anos, somando, aproximadamente, 600 pontos-base de alta (juros na casa de 8%)”.

Segundo ele, o fundo aposta que essa expectativa de alta se reduza ao longo dos anos, e acredita em intervenções do Banco Central para ajudar neste processo.

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“É um tópico que o BC vai citar, vai atuar, pra tentar diminuir esse ciclo. Esse juro baixo não chega na ponta final. Está muito mais caro tomar empréstimo para dois anos do que de longo prazo”, disse Schalch.

E o dólar?

Questionado sobre sua visão quanto à atuação do Banco Central e o atual patamar do dólar, Schalch defendeu a posição do banco em dar liquidez para o mercado e não buscar um nível específico para a moeda americana.

“Se pegarmos a apresentação do Roberto Campos Neto (presidente do BC), vimos uma saída de capital absurda em março, da ordem de 4 a 5 vezes acima do que saiu do Brasil em 2008. Esse capital, provavelmente, estava indo para a Europa e os EUA. Não tem jeito, o real vai se desvalorizar”, disse.

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Schalch destacou a atuação do BC ao ter vendido R$ 12 bilhões em dólares ao longo de março, e defendeu a posição de ir realizando essas vendas dia após dia, sempre observando o comportamento do mercado.

“Estamos vivendo o pior da crise, mas não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias. Acho correta a visão do BC de dar liquidez para o mercado de forma paulatina e não querendo achar um nível especifico. O real está desvalorizado, mas países que são vistos de maneira similar ao Brasil também tiveram suas moedas se depreciando, e não há muito o que fazer em relação a isso” afirmou Schalch.

Para o gestor, o maior desafio do BC deveria ser estabilizar o mercado de modo que ele não estimule a saída de capital do Brasil, e, ao mesmo tempo, fazer com que a taxa Selic baixa seja praticada pelo mercado.

“É só olhar as taxas prefixadas de 3, 4 ou 5 anos com taxas a 8%, sendo que o BC quer fazer as taxas ficarem em 3%. O grande ponto que é importante ter em mente é que teremos um déficit de R$ 500 bilhões, sendo que a Reforma da Previdência aprovada no ano passado deve gerar uma economia de R$ 1 trilhão em 10 anos. E não tem como ser diferente, temos que gastar isso.”

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Stéfani Inouye

Analista de conteúdo do InfoMoney, aborda temas ligados à educação financeira e mercado de ações.