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Principal cartada do presidente Jair Bolsonaro (PL) para recuperar os níveis de aprovação de seu governo e ganhar competitividade em sua campanha pela reeleição em outubro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios deve produzir efeitos nas pesquisas de intenção de voto, mas a estratégia pode enfrentar restrições.
A avaliação é dos analistas que participaram da edição da última quinta-feira (7) do Timing Político, exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube. Assista à íntegra do programa pelo player acima ou clicando aqui.
A PEC dos Auxílios, em tramitação no Congresso Nacional, cria programas sociais, como um “voucher caminhoneiro” de R$ 1.000,00 mensais a transportadores autônomos e um auxílio emergencial até o limite de R$ 2 bilhões a taxistas, e amplia benefícios já existentes, como o Auxílio Brasil, cujas parcelas passariam de R$ 400,00 para R$ 600,00, distribuídas a todo o público elegível, e o auxílio-gás, que garantiria a compra de um botijão a cada dois meses às famílias contempladas.
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O texto tem impacto fiscal estimado em R$ 41,25 bilhões, gastos através de crédito extraordinário, ou seja, fora do teto de gastos – regra fiscal que limita o crescimento de despesas públicas à evolução da inflação no ano anterior.
Ele também dribla a chamada regra de ouro das finanças públicas, que diz que o Tesouro Nacional não pode se endividar para financiar gastos correntes, e a própria Lei Eleitoral, ao reconhecer estado de emergência em razão da alta dos preços dos combustíveis – o que abre espaço para a distribuição de benefícios a menos de três meses do pleito.
O governo corre contra o tempo para concluir a tramitação da matéria e operacionalizar os benefícios, na tentativa de fazer com que seus efeitos sejam percebidos pelos eleitores a tempo do pleito.
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A expectativa era que a PEC fosse votada em dois turnos pelo plenário Câmara dos Deputados na última quinta-feira, mas o quórum baixo fez com que o presidente da casa legislativa, Arthur Lira (PP-AL), adiasse a deliberação para a semana seguinte – a última antes do recesso parlamentar. Com isso, o Palácio do Planalto terá ainda menos tempo para operacionalizar os benefícios.
“Talvez o governo tenha perdido o timing político para fazer essas mudanças”, avaliou o pesquisador Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
“Eu não sou louco de achar que R$ 40 bilhões não alteram a percepção política dos eleitores. Obviamente que alteram. Mas vale refletirmos o real peso que isso tem”, ponderou.
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Para o especialista, Bolsonaro corre o risco de despertar no eleitorado a percepção de oportunismo com a implementação de medidas às vésperas do pleito e com prazo de validade – os benefícios têm duração prevista apenas até 31 de dezembro de 2022.
Além disso, a forte identificação desta faixa do eleitorado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas na corrida pelo Palácio do Planalto, deve dificultar a migração de apoio para Bolsonaro mesmo com os estímulos.
Segundo a última pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 05 de julho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 55% das intenções de voto em cenário estimulado de primeiro turno entre eleitores com renda familiar mensal de até 2 salários mínimos. Já Bolsonaro é apoiado por 22%.
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O grupo, principal beneficiário das medidas em discussão no Congresso Nacional, responde por 34% da amostra e é o principal responsável pela vantagem de 14 pontos percentuais de Lula sobre Bolsonaro na simulação de primeiro turno.
“Dificilmente o eleitor vai acreditar que o ex-presidente Lula não vá continuar com essas medidas ou, se fosse ele [o presidente], o valor não seria maior do que os R$ 600,00″, observou Meirelles.
“Hoje, 2/3 dos brasileiros que recebem esse auxílio tendem a chamar o programa social de Bolsa Família, não de Auxílio Brasil. Aliás, a maioria dessas pessoas tem o cartão físico escrito Bolsa Família. E o Bolsa Família, obviamente, é associado diretamente à imagem do ex-presidente Lula”, complementou.
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O marqueteiro Lula Guimarães, especialista em campanhas eleitorais, concorda que a PEC dos Auxílios pode ter impactos relevantes na disputa, mas que o momento pode fazer com que a medida seja entendida como eleitoreira pela população.
“As pesquisas podem nos dar um pouco da dimensão de quanto esse dinheiro pode significar de crescimento de Bolsonaro. Mas, embora não tenhamos a força da propaganda na casa das pessoas [com as peças na televisão], existe a possibilidade de essa medida ser percebida como algo eleitoreiro e oportunista, e não ter o resultado de crescimento tão poderoso. Mas ainda é cedo para se fazer essa avaliação”, disse.
O especialista, por outro lado, chama atenção para o potencial de mobilização de grupos apaixonados por Bolsonaro e os possíveis impactos de esforços de comunicação orgânica sobre grupos que hoje estão à margem do núcleo de apoio ao mandatário. O engajamento pode ajudar na construção de uma narrativa mais favorável ao presidente no imaginário popular.
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“Isso aconteceu em 2018. Bolsonaro é um fenômeno de públicos internos e foi irradiando, tomando conta da sociedade. O grupo de comunicação do bolsonarismo aposta muito que se repita esse fenômeno de 2018”, observou.
“O que vemos agora é que, se a pauta em 2018 era o antipetismo, a pauta deste ano é o antibolsonarismo, que é muito mais poderoso. Não sabemos quanto essa força interna, irradiada, pode reverter esse sentimento negativo que a população tem do desempenho de Bolsonaro”, ponderou.
Há elementos da atual fotografia do processo eleitoral que dão algum otimismo à campanha de Bolsonaro em seu esforço de recuperar apoio e equilibrar o jogo na disputa com o ex-presidente Lula.
O pesquisador Renato Meirelles destaca o fato de o atual presidente contar com um voto proporcionalmente mais consolidado, quando se observa a relação entre intenções de voto no cenário espontâneo e os votos totais nas simulações estimuladas de primeiro turno.
Além disso, chama atenção o fato o grupo de mulheres de baixa renda um dos maiores responsáveis pela atual vantagem do petista sobre o mandatário nas pesquisas divulgadas – público que tradicionalmente decide seu voto mais perto do dia da eleição.
“Boa parte das medidas que foram tomadas na PEC atingem diretamente o eleitorado feminino. São as mulheres de baixa renda as destinatárias de boa parte dos mais de R$ 40 bilhões da PEC. Então, tem chance de haver uma alteração no placar. Sabemos hoje que 22% dos eleitores recebem o Auxílio Brasil ou têm alguém da família que recebe. Sob este ponto de vista, a hipótese do governo de conseguir virar o jogo nas eleições através de medidas heterodoxas na economia vale”, observou.
“Por outro lado, o foco da comunicação do governo historicamente são as mídias sociais. E esse público é o menos suscetível às mídias sociais. Essas mulheres, em especial as de baixa renda, são pessoas que formam seus votos, buscam informação sobre voto através dos programas eleitorais e noticiário jornalístico”, ponderou.
“89% dos 19 milhões de votos que Lula tem na frente de Bolsonaro são formados por mulheres. É este o destino de boa parte do dinheiro. No entanto, se o governo não for capaz de ter uma comunicação assertiva para esse público, e isso não se dará pelas redes sociais, dificilmente ele vai conseguir um efeito eleitoral a contento e condizente com o dinheiro público que está sendo gasto nisso”, concluiu.
Assista, na íntegra, ao Timing Político desta semana no vídeo acima ou clique aqui. O programa é exibido ao vivo às quartas-feiras, às 18h (horário de Brasília), no canal do InfoMoney no YouTube.
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