Nomura: desconfiança não é irracional mas, como Lula em 2003, Dilma deve virar o jogo

Corretora japonesa destaca que, assim como o ex-presidente petista, Dilma pode retomar confiança no mercado se mantiver sinalizações de ajustes; do contrário, ela enfrentará o "pior dos mundos"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As nomeações de Joaquim Levy como ministro da Fazenda, Nelson Barbosa como ministro do Planejamento e a permanência de Alexandre Tombini no Banco Central são uma boa notícia, mas ainda encontra resistência e uma repercussão tímida no mercado.

Porém, na opinião da corretora japonesa Nomura, a nova equipe econômica certamente tem o “conjunto de habilidades” necessário para implementar as medidas para restabelecimento o equilíbrio macroeconômico.

No entanto, a reação do mercado tem sido tímida. “De fato, os investidores locais estão expressando uma grande dose de ceticismo sobre a capacidade da nova equipe econômica para trabalhar. Muitos acreditam que não haverá apoio político para a nova equipe”, afirma o chefe de pesquisa para mercados emergentes da corretora, Tony Volpon.

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Ele avalia, em relatório chamado “Back to the future 2003” (ou De volta ao futuro 2003), que o medo não é irracional. “A mudança assinalada em curso é muito radical, diriam alguns, até mesmo contraditória, com as políticas econômicas no Brasil durante o período de 2012-2014, e as que foram defendidas durante as últimas eleições”.

Volpon vê poucas mudanças no curto prazo que possam aliviar esses medos de forma significativa. “Na verdade, a situação atual tem paralelos com o início do governo Lula no início de 2003. Apesar de escrever a ‘Carta ao Povo Brasileiro’ durante a eleição, comprometendo-se com a estabilidade econômica, e apesar de nomear um ex-banqueiro, Henrique Meirelles, para assumir o Banco Central, os mercados permaneceram sob pressão. O dólar, por exemplo, atingiu os R$ 3,60 em março de 2003. Só mais tarde, observou-se uma melhora significativa da percepção de risco dos mercados.

Ele avalia que, no caso atual, o governo está a implementando e assinalando uma série de medidas de ajuste em um ambiente de crescimento muito fraco e condições externas desfavoráveis. Em meio a esse cenário, o Brasil deve ver, num primeiro momento, menor crescimento e maior desemprego no ano novo.

Se o governo mantiver o seu programa de ajuste no primeiro semestre do próximo ano, então o mercado deve, como fez em 2003, avaliar que a mudança na orientação da política é real e durável, afirma Volpon.

“Isso será muito importante para as perspectivas de crescimento, porque uma vez que o mercado acredita que há apoio político real para a equipe econômica, deve haver uma importante redução do prêmio de risco elevado e ainda um aumento na confiança dos empresários, que iria aliviar o impacto recessivo da as medidas de ajuste”, ressalta o diretor.

Por outro lado, avalia, se o governo não mantém a sua determinação, ele provavelmente vai encontrar-se no pior dos mundos possíveis, sofrendo o impacto negativo das medidas tímidas de ajuste sem nenhum benefício compensatório.

“Continuamos mais otimista do que o atual consenso sobre as perspectivas do governo para implementar as medidas de ajuste. Nós acreditamos que a janela política para as medidas vai além do próximo ano. Acreditamos que, uma vez que a decisão política foi tomada para implementar o ajuste, a liderança do Partido dos Trabalhadores, que viveu durante o período de 2003, entendeu que não ia ser um custo a curto prazo e que, dadas as condições externas adversas atuais, a recuperação seria lenta. Os próximos meses vão nos diz se o nosso otimismo se justifica ou não”, finalizou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.