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Principal conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em política externa, o assessor especial da Presidência Celso Amorim afirma que o Brasil não vê o mundo dividido entre China e Estados Unidos e não tem vetos prévios a negócios com os chineses, nem no sensível setor de semicondutores, um dos focos da crescente tensão entre Pequim e Washington.
“Não temos nenhuma preferência por uma fábrica de semicondutores chinesa. Mas se eles (chineses) oferecerem boas condições, não vejo porque a gente recusar. Não temos medo do lobo mau”, disse o embaixador.
“Se eles (EUA) quiserem, podem propor maiores e melhores condições e pronto, e escolheremos o deles”, seguiu Amorim na quarta-feira, dias antes de seu embarque previsto com a comitiva brasileira rumo a Pequim e Shangai.
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A viagem acontece menos de dois meses depois de Lula se encontrar com Joe Biden em Washington, num giro do novo governo para relançar suas principais relações comerciais.
Nesse movimento, cabe ao ex-chanceler dos governos Lula o desafio de calibrar a tradicional posição brasileira pró-multipolaridade em meio aos crescentes atritos entre as principais potências do globo — enquanto o Brasil tenta atrair investimentos em tecnologia de ponta que os dois países dominam.
No discurso do assessor de Lula, o interesse é em quem oferecer mais e melhor – mesmo com os recados velados do governo norte-americano ao mundo de que quem se associar à produção de microeletrônicos chineses pode ter problemas no mercado dos EUA.
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“Eu não dou bola para recados”, disse o embaixador.
“Nós não compartilhamos nenhuma ideia, nem de um lado e nem do outro. Nem a ideia de um comunismo internacional, nem a guerra das democracias contra as autocracias”, disse. “Não vemos o mundo assim dividido.”
Amorim disse que o Brasil “tem valores muito claros” e está grato pelo apoio recebido do governo norte-americano à democracia no Brasil.
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“A validação do processo democrático estava ameaçada pelo anterior presidente”, disse Amorim, em referência ao rápido reconhecimento de Washington ao resultado eleitoral brasileiro e à condenação dos ataques em Brasília em 8 de janeiro.
“Agora eu não posso condicionar onde eu vou comprar um chip, ou outra coisa, a esses valores. Aliás, o chip não vem impregnado desses valores, ele é value free”, ponderou.
Na entrevista à Reuters, Celso Amorim frisou que o Brasil não quer se imiscuir na disputa. “Olha, se nós podermos contribuir, ótimo. Eu acho que se a gente contribuir um pouco por uma distensão, melhor, mas não é esse o objetivo. Nós não vamos lá para isso”, disse.
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Um dos pontos da visita do presidente à China pode, inclusive, incomodar mais aos norte-americanos do que uma possível negociação em torno de semicondutores.
Lula deve visitar a fábrica da Huawei Technologies, gigante chinesa de telecomunicações que opera há 20 anos no Brasil, a convite dos diretores da empresa.
Fornecedora de boa parte da tecnologia 4G e 5G no Brasil, a Huawei teve a aprovação de novas tecnologias suspensas pelo governo norte-americano, que classificou a atuação da empresa de alto risco para a segurança nacional.
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Por pressão do então governo de Donald Trump, o então presidente Jair Bolsonaro chegou a considerar proibir a atuação da chinesa no 5G brasileiro, mas cedeu às empresas de telecomunicações que alegaram um custo alto demais para montar a estrutura sem os chineses.
Celso Amorim também cita o interesse do Brasil em ampliar a cooperação com a China em áreas como economia verde (os países estão negociando um fundo de investimento verde bilateral), economia digital, satélites – deve ser assinado um acordo para produção do equipamento sino-brasileiro CBERS6 – comunicações e microeletrônica.
De acordo com informações do governo brasileiro, até 30 acordos de diferentes tipos estão sendo negociados. Entram ainda temas como mudanças climáticas, abertura do mercado para novas plantas de carnes de aves e suínos, cooperação em ciência e tecnologia, sem contar acordos entre empresas privadas ou com estados.
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Estão no horizonte o anúncio da compra da antiga fábrica da Ford na Bahia pela montadora chinesa BYD e o da retomada por empreiteiros chineses da obra de uma ponte entre Salvador e Itaparica.
“Não é uma relação só de governo, é uma relação com agentes econômicos e que passa pelo agronegócio, pela indústria, pela Embraer, pelos setores mais variados”, afirma Amorim.
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