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SÃO PAULO – Pelo menos 75 das 102 universidades e institutos federais do País convocaram, para esta quarta-feira (15), protestos em resposta à decisão do ministro Abraham Weintraub (Educação) de reduzir o orçamento de sua pasta em 30% e cortar bolsas de pesquisa. O movimento conta com o apoio de universidades públicas estaduais e foi potencializado com a convocação do ministro a prestar esclarecimentos hoje ao plenário da Câmara dos Deputados.
Nas redes sociais, o movimento ganhou maior reverberação ao longo da manhã. No Twitter, às 12h34 (horário de Brasília), a hashtag #TsunamiDaEducação liderava os trending topics Brazil com 153 mil compartilhamentos, sendo a sexta mais comentada no mundo. Também no recorte nacional aparecem na lista as hashtags #NaRuaPelaEducação (15 mil), #15MGreveGeral (10 mil) e #TodosPelaEducação.
Apesar do avanço, os impactos da onda ainda são considerados moderados por quem acompanha o debate nas redes. Para Manoel Fernandes, diretor da Bites, consultoria especializada no monitoramento de plataformas digitais, o tema segue mobilizando uma faixa muito específica da sociedade e ainda não conseguiu avançar significativamente para além de alas contrárias ao governo Jair Bolsonaro (PSL). De todo modo, ele acredita que ainda é cedo para descartar uma escalada nos protestos.
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“[A reverberação] Aumentou expressivamente, mas mantemos a perspectiva de que vai ser um grupo barulhento que vai chamar atenção. Não parece ser um movimento estruturado que vai mobilizar a sociedade. É uma categoria. A pergunta a ser feita é se esse grupo tem condições de ser o gatilho”, observa.
Para ele, a tendência é que os protestos se concentrem em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas que sejam identificados por apoiadores do governo como movimentos de esquerda, narrativa patrocinada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Nos Estados Unidos, o mandatário afirmou que os estudantes que estão protestando são “massa de manobra” e “idiotas úteis”.
“O momento é de explosão. A percepção que se cria é que a sociedade está indignada, mas indignados estão os professores e alunos. Claramente, estamos vendo que as pessoas estão acreditando que é um movimento de esquerda. Essa manifestação é muito parecida com o #EleNão. Mas também pode ser um catalisador”, avalia. O especialista se refere à campanha feita contra Bolsonaro durante as eleições de 2018, movimento muito associado à oposição ao pesselista.
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A temperatura das redes
Um levantamento feito pela Bites mostrou que, ontem, até as 19h, o interesse em torno da paralisação das escolas e universidades era superado pelas discussões sobre campanha da empresa de cosméticos Natura, que apresentava propagandas com casais lésbicos.
No Twitter, a hashtag #boicotenatura registrou, até as 19h de ontem, 91.327 citações, contra 11.152 em torno do conjunto de expressões em apoio aos movimentos contra o governo Bolsonaro: #tsunamidaeducação, #15M, #levantedoslivros, #grevenacionaldaeducação e #defendendoaeducação.
No Google, em uma escala de 0 a 100, o interesse pela Natura estava em 73. As buscas para a expressão “paralisação” registravam taxa de 31. A média do País estava em 45, sendo que em sete estados esse resultado estava acima da média, incluindo São Paulo. No estado, o nível de interesse era de 52.
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Nas últimas horas, a pauta educacional apresentou significativo avanço nas buscas e deixou para trás a polêmica em torno do comercial. “Aumentou o volume, mas dentro do espera. O volume é grande, mas continua dentro de um universo restrito”, afirma Fernandes. O fato de as manifestações terem conquistado espaço nas redes apenas algumas horas antes de seu início pode representar mobilização pontual, em função de expectativas, e reforçar a tese de que o movimento segue restrito a determinados segmentos da sociedade.
Interesse ao longo do tempo no Google:
O evento deve ser monitorado com atenção pelo Palácio do Planalto. Para Fernandes, não se pode descartar a possibilidade de uma escalada nos protestos. “Há risco de embates de estudantes contra forças de segurança, o que pode desencadear, como ocorreu em 2013 no centro de São Paulo, uma onda de solidariedade digital em escala nacional em torno dos alunos e professores”, pontua.
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“Essa probabilidade aumenta porque algumas escolas de elite, especialmente de São Paulo, suspenderam as aulas para seus estudantes e professores participarem dos protestos. Imagens de estudantes de classe média em confronto aberto com a Polícia Militar podem mudar radicalmente a percepção do movimento junto à opinião pública”, conclui.
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