“Ideia de combate a privilégio reduz resistências”, diz diretor da Eurasia

Christopher Garman avalia que o governo de Jair Bolsonaro precisa trabalhar a comunicação do projeto para compensar a falta de habilidade para articulação política

Estadão Conteúdo

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Principal consultoria política do mundo, a Eurasia dá uma probabilidade de 70% para a aprovação da reforma da Previdência no Congresso.

Na visão de Christopher Garman, diretor para Américas da consultoria, para ter êxito, o governo de Jair Bolsonaro precisa trabalhar a comunicação do projeto, compensando, assim, a falta de habilidade para articulação política. “O governo pode compensar uma articulação ruim se vender a reforma bem”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O projeto do governo Bolsonaro é mais duro que o do Temer. Qual a probabilidade de passar no Congresso?

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Estamos dando uma probabilidade de 70%. A pergunta maior é quanto o governo vai conseguir aprovar em termos de economia esperada. Nossa aposta está

para um valor entre R$ 400 bilhões e R$ 600 bilhões (em dez anos). O governo está começando com base e apoio popular razoavelmente elevados. Dois anos de debate fazem uma grande diferença para vender a reforma para a opinião pública. Justificá-la como uma maneira de combater privilégios foi um grande avanço.

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Talvez o maior acerto da nova proposta é que foi desenhada para se alinhar a esse discurso. As alíquotas diferenciadas de contribuição facilitam o argumento de que os que ganham mais terão de pagar mais. Regras mais duras para políticos também facilitam. Houve algum êxito nesse desafio, mas ainda vai ser um debate difícil.

Quão difícil vai ser o debate?

Com a narrativa de igualar benefícios e combater privilégios, diminui as resistências, mas ainda assim será difícil. Temos um governo que não está distribuindo cargos e verbas para costurar base parlamentar e está com uma articulação política no Congresso muito aquém do necessário. O resultado final é “aprova”, mas acho que (a proposta) tem de diluir ao longo do caminho de forma considerável.

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A queda de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, dificulta ainda mais a aprovação?

Acho que não. O episódio do Bebianno é mais um sintoma de um problema maior, que é um presidente que não está acolhendo novas lideranças para tentar criar uma tropa de choque na Câmara e no Senado.

A estrutura na Casa Civil, liderada pelo ministro-chefe Onyx Lorenzoni, é para tentar fazer uma negociação direta no varejo, de contemplar as demandas do baixo clero – que é de onde vêm o presidente e o Onyx. Isso não cai bem com as lideranças. O problema está aí: se você tem um debate difícil e lideranças descontentes, é claro que as medidas mais polêmicas tendem a cair mais rápido nesse contexto.

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Esse governo não vai voltar para a maneira de fazer política do anterior, mas tem maneiras de dar respeito e contemplar as lideranças que não necessariamente equivalem a voltar ao passado.

O presidente vai ter de fazer correções de rumo, incluir as lideranças no processo decisório. Mas, como não se está negociando com verbas e cargos, a comunicação da reforma vai ser muito importante. O governo pode compensar uma articulação ruim se vender a reforma muito bem.

O senhor disse que a Eurasia aposta em uma economia de R$ 400 bilhões a R$ 600 bilhões. Quais pontos vocês preveem que sejam barrados?

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O coração da economia é na idade final da aposentadoria e na regra de transição. Nossa aposta é que provavelmente vai ter de diluir a regra de transição em mais anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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