Ibovespa sobe 1,79% e mostra que ações foram a melhor aplicação em março

Poupança fica abaixo da inflação pelo oitavo mês seguido, mas outras aplicações na renda fixa têm retorno real positivo

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – O mês de março não deu trégua aos investidores, que tiveram que dividir suas atenções entre a agitada temporada de resultados e um turbilhão de notícias inesperadas no front externo. Em um cenário desafiador para o mercado, o Ibovespa novamente conquistou uma alta modesta (+1,79%), a exemplo do visto em fevereiro (+1,22%), suficiente, porém, para garantir ao índice que compila o desempenho das ações mais líquidas da bolsa o posto de melhor investimento do mês. No ano, contudo, o desempenho ainda é negativo em 1,04%.

Entre as principais aplicações de renda fixa, os CDBs pré-fixados de trinta dias acumularam no mês retorno de 0,92%, mesma variação do CDI. Descontada a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercados), que veio abaixo das expectativas do mercado, as aplicações registraram retorno real positivo, ao contrário do visto no mês passado. Já a caderneta de poupança teve retorno real negativo pelo oitavo mês seguido. 

Já o dólar, medido pela taxa Ptax, registrou a pior performance dentre as principais métricas de investimentos no mercado de capitais brasileiro, com baixa de 1,96%. Por fim, o ouro negociado na BM&F ficou estável neste mês de março.

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Investimento Março Real* Fevereiro Real**
Ibovespa +1,79% +1,16% +1,22% +0,22%
CDI*** +0,92% +0,30% +0,84% -0,16%
CDB **** +0,92% +0,30% +0,91% -0,09%
Poupança +0,54% -0,08% +0,60% -0,39%
Ouro  0,00%  -0,62% +5,52% +4,47%
Dólar Ptax -1,96% -2,56% -0,73% -1,71%
IGP-M +0,62% +1,00%

* Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,62% em março de 2011
** Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 1% em fevereiro de 2011
*** Taxa Efetiva Andima
**** Taxa pré 30 dias

A preocupação com a Europa retorna
A Europa foi um dos principais focos de atenção no mês, mostrando que a crise de dívida enfrentada pelos países da região não deve mesmo ter um fim rápido. Irlanda e Grécia voltaram à tona – a primeira no fim do mês, com a divulgação de que quatro bancos do país precisarão de € 24 bilhões para se recapitalizar. Já a Grécia teve seu rating rebaixado novamente pela Standard & Poor’s.

Mas a preocupação maior agora se volta para Portugal, economia mais representativa na Zona do Euro do que as duas primeiras. Apesar de ainda não admitir precisar de ajuda para lidar com sua dívida soberana, o país enfrentou um mês difícil. Depois de não conseguir aprovar um plano de ajuste fiscal no parlamento, o governo português renunciou, aumentando os temores do mercado sobre um resgate. Como consequência, Moody’s, S&P e Fitch cortaram o rating português. A Espanha também teve sua nota de classificação de risco rebaixada pela Moody’s.

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Mas eventos inesperados também pesam
A continuidade dos conflitos no Oriente Médio e Norte da África – região conhecida como MENA, na sigla em inglês – também foi destaque em março. Na Líbia, os ataques da coalizão internacional contra tropas do governo continuam, agora sob tutela da Otan. O ditador Muammar Ghaddhafi, contudo, não dá sinais de que vá abdicar do poder, como aconteceu no Egito depois de semanas de violentos protestos.

O clima de tensão aumenta principalmente por conta do contágio dos conflitos para outros países, e o temor de que eles atinjam a Arábia Saudita e levem à interrupção da oferta de petróleo pelo país, que é uma das maiores produtoras e exportadoras globais da commodity. Em meio a esse cenário, o preço do barril de petróleo avançou 10% no mês, encerrando cotado a US$ 106,72 por barril em Ny, maior patamar desde setembro de 2008.

Mas a segunda semana de março terminou com todos os olhos voltados para o Japão, depois de um terremoto e tsunami que paralisaram boa parte do país. Apesar de os efeitos práticos no mercado serem limitados, a crise nuclear iniciada com o tremor ainda segue na pauta do noticiário diário, em meio a temores de contaminação da água e dos alimentos exportados pelo país ou de um vazamento maciço de material nuclear.

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Inflação e câmbio dão o tom 
No cenário doméstico, a inflação seguiu em pauta apesar da desaceleração mostrada pelo IGP-M do mês. Depois da elevação da taxa Selic para 11,75% ao ano, em linha com as expectativas do mercado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou esperar que a inflação se desloque para níveis compatíveis com o centro da meta do Governo no segundo semestre e defendeu o sistema de metas de inflação. 

Ainda sobre o assunto, o Relatório de Inflação do BC revelou uma perspectiva mais favorável para a inflação, mas admitiu que a meta inflacionária não será cumprida em 2011, já que o custo para a atividade econômica seria muito elevado.

A atuação do BC foi intensa no front cambial, na tentativa de conter a pesada queda do dólar. A autoridade monetária anunciou que fará ajustes técnicos nas regras de recolhimento dos compulsórios sobre recursos a prazo e na exigibilidade adicional sobre depósitos a partir de 4 de abril.

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Ademais, a alíquota de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as compras efetuadas via cartão de crédito no exterior passará de 2,38% para 6,38% no final do próximo mês. O IOF também foi estendido para as operações de câmbio de empréstimo externo. A partir do novo texto, as operações de empréstimo externo que possuam prazo de até 360 dias serão taxadas em 6,00%. As medidas, contudo, foram recebidas com ceticismo

Também foram divulgados mais detalhes sobre o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, que incluem a redução de 10% no abono salarial e seguro desemprego. Na agenda, destaque para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, que avançou 7,5% em 2010.
No front político, duas notícias marcaram o mês de março: a visita do presidente norte-americano, Barack Obama, e a morte do ex-vice presidente José Alencar

EUA sem novidades
Nos EUA, o número final do PIB mostrou que a economia norte-americana cresceu 3,1% no último trimestre de 2010, melhor do que o esperado. A reunião do Fed não trouxe novidades quanto à Fed Funds Rate ou ao QE2, que deve mesmo acabar em junho. A agenda de indicadores, contudo, continua a dar sinais divergentes sobre a recuperação da maior economia do mundo.

Destaques corporativos
Não faltaram novidades no cenário corporativo em março. Além da temporada de divulgação de resultados, os investidores também avaliaram os rumores de interesse da Gerdau (GGBR4) e da CSN (CSNA3) no controle acionário da Usiminas (USIM3, USIM5), que ganharam força depois de a primeira anunciar uma captação de até R$ 6,53 bilhões em oferta de distribuição pública primária e secundária de papéis ordinários e preferenciais. As ações ordinárias da Usiminas, representativas do controle da empresa, já somam alta de 31,75% no ano.

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Apesar das muitas referências, é inegável que grande parte do mercado focou suas atenções na disputa pela cadeira de CEO da Vale (VALE3, VALE5). Depois de diversas tentativas de permanecer no cargo – algumas não tão bem-vistas pelos acionistas – parece que Roger Agnelli sairá mesmo do comando da mineradora depois de 10 anos.

Segundo os rumores, o Governo teria articulado a saída do executivo com o Bradesco (BBDC4), que através da Bradespar (BRPA4) faz parte do bloco de controle da mineradora. Com a intervenção de Guido Mantega, o Governo teria o apoio de todos os principais acionistas – que incluem ainda a Previ, fundo de pensão dos funcionários, Banco do Brasl, e o BNDESpar – a seu favor. O mais cotado para o cargo de Agnelli é Tito Martins, atualmente diretor da Inco, subsidiária canadense da Vale – a indicação de alguém do quadro de funcionários da mineradora teria acalmado os executivos, que pensavam em se demitir em solidariedade à Agnelli. O Bradesco negou a informação, e a Vale não comenta os rumores. Já Agnelli diz que está alheio à questões políticas e somente fazendo seu trabalho. 

Cabe dizer que o ministro da Fazenda foi convidado para esclarecer a eventual interferência do governo na Vale pela Câmara dos Deputados. De acordo com os jornais, o convite da Câmara tem Agnelli nos bastidores, o que teria irritado o Bradesco e colocado um fim na discussão sobre a permanência do atual CEO. Os papéis ON e PNA da mineradora fecharam o mês em queda de 5,24% e 4,46% em meio ao noticiário conturbado. 

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As pontas do Ibovespa
As ações da Brasil Telecom (BRTO4) encerram o mês de março com a maior variação positiva dentre os papéis que fazem parte da carteira teórica do Ibovespa, acumulando alta de 16,02%, com sua cotação passando de R$ 12,55 – preço visto no fechamento do último pregão de fevereiro – para R$ 14,56.  As ações da empresa de telefonia dispararam na última semana do mês com a repercussão do resultado do aumento de capital promovido pela Telemar Norte Leste (TMAR5) e a Tele Norte Leste Participações (TNLP3, TNLP4). O objetivo foi abrir espaço para acomodar a entrada da Portugal Telecom no capital da Oi. A ação TMAR5 acabou por também repercutir a notícia e subiu 14,83% no mês, a terceira maior alta do índice no período.

Já a pior performance dentre as ações que compõem o Índice Bovespa ficou com a B2W (BTOW3), que pressionada pelo fraco balanço apresentado no início do mês e pelo aumento de capital de R$ 1 bilhão anunciado na última semana, recuou 11,54%, com suas ações cotadas a R$ 22,35.

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