Haddad critica decisão do Copom e diz que BC está “contratando” inflação e aumento de carga tributária no futuro

Ministro da Fazenda fala em "descompasso" entre visão do BC e o que estão acontecendo no Brasil: "Na técnica, eu não consigo entender esse comunicado"

Marcos Mortari

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), discursa em cerimônia do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), no Palácio Itamaraty (Foto: Diogo Zacarias)
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), discursa em cerimônia do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), no Palácio Itamaraty (Foto: Diogo Zacarias)

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta quinta-feira (22), que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida foi “muito ruim” e evidencia um “descompasso” entre a visão da autoridade monetária sobre a economia brasileira e o que de fato está acontecendo no país.

[Foi] O quarto comunicado muito ruim. Todos foram ruins. Às vezes, ele corrige na ata, mas não alivia a situação, porque penso que o descompasso entre o que está acontecendo com o Brasil, com o dólar, com a curva de juros, com a atividade econômica. É claro o sinal de que nós podíamos sinalizar um corte da taxa Selic, que é a mais alta do mundo”, disse.

Haddad concedeu entrevista a jornalistas em Paris (França), onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agenda oficial. Durante a conversa, o ministro disse que, com a decisão de manter uma política monetária austera, o Banco Central prejudica a atividade econômica, a arrecadação da União e dos entes subnacionais.

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“O descompasso é evidente e não dá para deixar de mencionar, porque isso também vai impactar o fiscal. Os estados estão perdendo arrecadação, os municípios estão perdendo arrecadação, a União não está performando”, afirmou.

“Estou muito preocupado com o que vai acontecer na vida das pessoas. Estamos fazendo um esforço gigantesco de reversão de expectativas desde o começo do ano”, pontuou.

Ele citou o pacote anunciado por ele em janeiro com medidas para sanear as contas públicas, a reversão de decisões tomadas no governo anterior, a aprovação do novo marco fiscal pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal e o avanço das tratativas sobre a reforma tributária no parlamento.

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Haddad também disse que a manutenção da Selic no atual patamar leva o Brasil a uma taxa de juros real (ou seja, descontada a inflação) de cerca de 8% ao ano e que, com a decisão de ontem, o Banco Central “está contratando um problema futuro”.

“Nós estamos contratando um problema futuro com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Ela está contratando um problema. Ela está contratando uma inflação futura ou aumento da carga tributária futura”, disse o ministro, que também destacou as reações do mercado ao evento, com queda do Ibovespa e alta nos contratos de juros futuros.

“Tenho feito um esforço genuíno de entender o que está acontecendo”, disse. “Com tudo que aconteceu neste mês… Na técnica, eu não consigo entender esse comunicado”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.