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A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de autorizar quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua esposa, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro (PL), aprofunda o cerco jurídico ao casal no caso envolvendo as joias da Presidência.
Ao fato novo se soma a notícia dada pelo advogado Cezar Bittencourt, que faz a defesa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, à revista Veja e posteriormente ao jornal O Globo. Segundo ele, seu cliente deve admitir que vendeu joias no exterior a pedido de Bolsonaro – contrariando posição apresentada pela defesa do ex-chefe.
Ainda ontem (18), o hacker Walter Delgatti, conhecido pela “Vaza Jato”, afirmou em depoimento de quase sete horas em audiência pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, que Bolsonaro pediu a ele para forjar a invasão de urnas eletrônicas para desestabilizar o processo eleitoral e que assumisse a autoria de um suposto grampo telefônico contra Moraes em troca da promessa de um indulto que o inocentasse dos eventuais crimes.
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Os desdobramentos ocorrem uma semana após a Polícia Federal deflagrar a operação “Lucas 2:12”, em alusão ao versículo da Bíblia que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”. Nela foram realizadas buscas relacionadas a uma suposta venda ilegal dos presentes de Estado fora do país capitaneada por militares próximos a Bolsonaro.
O caso tem atraído cada vez mais atenção do mundo político e silenciado até aliados mais fiéis de Bolsonaro. Os efeitos sobre sua imagem ampliam as discussões sobre a organização do campo da direita, que já ganhavam terreno desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou sua inelegibilidade em junho.
Entenda o que se sabe até o momento sobre o caso, que corre sob sigilo no Supremo Tribunal Federal, e está sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes:
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Qual a linha das investigações?
A Polícia Federal, sob o comando do delegado Fábio Alvarez Shor, alega que teria sido identificada organização criminosa com atuação em cinco eixos.
Seriam eles: 1) ataques virtuais a opositores; 2) ataques às instituições (especialmente o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral; 3) tentativa de Golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; 4) ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia e; 5) uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens pessoais,
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Sobre este último eixo, os investigadores apontam duas situações: a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para fins de falsificação de cartões de vacina (motivo pelo qual Cid está preso há três meses em Brasília) e um suposto desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras a Bolsonaro, ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito.
A Polícia Federal aponta indícios de que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República (GADH/GPPR) – órgão responsável pela análise e definição do destino (acervo público ou privado) de presentes oferecidos por uma autoridade estrangeira ao Presidente da República – ter sido utilizado para desviar, para o acervo privado de Bolsonaro presentes de alto valor, mediante determinação do próprio mandatário. Os investigadores também dizem que fatos indicam que alguns presentes recebidos por Bolsonaro em razão do cargo teriam sido desviados sem sequer terem sido submetidos à avaliação do órgão competente.
Em uma das decisões mais recentes no âmbito do inquérito, Alexandre de Moraes sugere que os fatos novos teriam conexões com temas relacionados a outras apurações, como nos casos das fake news (Inq 4.781/DF) e das milícias digitais (Inq. 4.874/DF).
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Quais as provas mencionadas pela Polícia Federal?
Em relatório anexado às investigações, os policiais federais narram cinco episódios:
1) O primeiro deles envolve o transporte de esculturas de uma palmeira e um barco em suposto metal preciosos dados a Bolsonaro durante o mandato presidencial.
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O documento mostra detalhes do plano para levar de forma clandestina os objetos de Brasília até Orlando em dezembro de 2022, onde seriam avaliados e vendidos em lojas especializadas. Há trechos de conversas entre Cid, seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, além de outras figuras que orbitavam no círculo próximo do então presidente da República nos últimos dias de seu mandato.
Os investigadores alegam que os objetos foram recebidos por Bolsonaro em 16 de novembro de 2021, no encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, na cidade de Manama, no Bahrein.
Mas após sucessivas tentativas de avaliação, teria sido verificado que o valor dos objetos frustrou as expectativas dos envolvidos.
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Na representação, destacou-se que, apesar de os bens não possuírem valor patrimonial esperado, pesquisas indicaram que os objetos teriam valor histórico-cultural para o país, em semelhança a outros mantidos em acervo. Apesar disso, não foi identificado qualquer registro dos referidos bens nos documentos relacionados ao acervo privado de Bolsonaro.
“Assim, concluiu a Polícia Federal que há indícios de que as esculturas possam ter sido desviadas do patrimônio público sem sequer terem sido submetidas ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) para avaliação de decisão a quanto a destinação ao acervo público brasileiro ou privado do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, diz o documento.
“Como se vê, as investigações apontam que as esculturas foram evadidas do Brasil para os Estados Unidos da América, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30/12/2022 e que Mauro Cesar Barbosa Cid, em unidade de desígnios com seu pai, Mauro Cesar Lourena Cid e com os assessores do então Presidente Osmar Crivelatti e Marcelo Camara, remeteu os bens para lojas especializadas, com objetivo de avaliá-los e vendê-los, para posterior incorporação do valor arrecadado ao patrimônio pessoal do então presidente Jair Messias Bolsonaro, o que não se concretizou, tão somente, em razão do baixo valor patrimonial das esculturas”, complementou.
2) Em uma troca de mensagens obtida pelos investigadores, também há referência apontada pelos investigadores a outros US$ 25 mil possivelmente pertencentes a Bolsonaro que estariam sob posse do general da reserva Mauro Lourena Cid.
Nas interações, verificou-se estratégia do então ajudante de ordens para entregar os recursos ao mandatário. A ideia era evitar transações a partir do sistema bancário para evitar registros e dar preferência a repasses feitos em dinheiro vivo, dificultando, assim, a verificação de origem, localização e propriedade dos valores.
3) O terceiro conjunto de evidências envolve história já revelada há mais tempo, na qual o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, trouxe de viagem à Arábia Saudita, realizada em outubro de 2021, um conjunto de itens masculinos da marca Chopard, contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (‘masbaha’) e um relógio, presenteados pela família real daquele país. O patrimônio foi batizado de “Kit Ouro Rosé” e teve valor estimado em US$ 120 mil.
Contam os investigadores que os itens foram evadidos ilegalmente, no fim de dezembro de 2022, por meio do avião da Presidência da República, e submetido à venda em procedimento de leilão através da empresa Fortuna Auction, em Nova York, nos Estados Unidos. Segundo eles, no entanto, por circunstâncias alheias à vontade dos investigados, as joias não foram arrematadas ‒ o que permitiu que Bolsonaro pudesse devolver os bens ao Estado brasileiro, em 24 de março de 2023, após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).
A Polícia Federal narra troca de mensagens entre os envolvidos no qual Mauro Cid questiona a necessidade de devolução dos bens, sob a alegação de que eles teriam sido identificados como “itens personalíssimos” e que seriam de livre destinação a critério do ex-presidente. Os investigadores indicam que, “além da existência de um esquema de peculato para desviar ao acervo privado do ex-presidente Jair Bolsonaro” os presentes de alto valor recebidos, os envolvidos tinham “plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior”.
4) Os investigadores também fazem menção a um outro conjunto de bens do acervo privado de Bolsonaro batizado como “Kit Ouro Branco”, composto por um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco, entregues ao ex-presidente em sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019. Neste caso, os itens chegaram a ser vendidos e foram recuperados posteriormente pelos envolvidos após a divulgação de reportagens e o avanço de investigações sobre o assunto.
Segundo a Polícia Federal, a operação envolvendo o “Kit Ouro Branco” teria ocorrido em junho de 2022, antes portanto da última descrita, mas também com a utilização de avião presidencial. Naquele mês, Bolsonaro viajou aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas. Conforme descrito pelos investigadores, os bens foram mantidos na residência do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, pai do então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. À época, o militar trabalhava no escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami, nos EUA.
Conta a investigação que Mauro Cid vendeu o relógio Rolex Day-Date 18946, produzido em ouro branco, em junho de 2022 para o estabelecimento Precision Watches, localizado na cidade de Willow Grove, na Pensilvânia (EUA). Na mesma operação, também foi vendido relógio Patek Philippe, ambos totalizando o valor de US$ 68 mil, pago na conta do pai do ajudante de ordens. Os demais itens que compunham o “Kit Ouro Branco” foram vendidos no mesmo mês no complexo Seybold Jewelry Building, em Miami.
Segundo a Política Federal, depois da publicação de reportagem sobre o extravio de joias recebidas por Bolsonaro ainda durante o mandato, o grupo próximo ao ex-presidente iniciou uma operação para resgatar bens vendidos e devolvê-los ao governo brasileiro, de modo a cumprir determinação do TCU. No caso do “Kit Ouro Branco”, houve maior preocupação em razão de as vendas dos objetos terem sido feitas de forma separada.
A operação de recuperação do Rolex envolveu diretamente o nome do advogado de Bolsonaro, Frederick Wasseff, que mais tarde admitiu ter desembolsado quase US$ 50 mil para reaver o relógio de luxo, após mudar de versão três vezes sobre os fatos. Ele foi alvo de operação de busca e apreensão autorizada pela Justiça na última quarta-feira (16). Já as demais joias foram recuperadas por Mauro Cid em viagem a Miami no fim de março. Em 4 de abril, o kit completo foi entregue à Caixa Econômica Federal.
“Cabe salientar, que toda a operação foi realizada de forma escamoteada, fato que permitiu os investigados devolverem os bens sem revelar que todo o material estava fora do país, ao contrário das afirmações prestadas, inclusive em procedimento criminal instaurado para apurar a possível entrada irregular das joias que integravam o denominado ‘Kit Rose’, em que afirmaram que todo o acervo do ex-presidente Jair Bolsonaro estava armazenado na localidade denominada ‘Fazenda Piquet’, no Distrito Federal. Da mesma forma, a operação encoberta permitiu que, até o presente momento, as autoridades brasileiras não tivessem conhecimento que os bens foram alienados no exterior, descumprindo os normativos legais, com o objetivo de enriquecimento ilícito do ex-presidente JAIR BOLSONARO, e posteriormente recuperados para serem devolvidos ao Estado brasileiro”, pontuaram os investigadores.
5) Os investigadores também relatam informações de um relógio Patek Philippe com certificado de origem e valor verificado de US$ 51.665,00, conforme pesquisa feita por Mauro Cid. O relógio, obtido durante viagem presidencial ao Bahrein, foi vendido pelo ajudante de ordens na loja Precision Watches, na cidade de Willow Grove, no estado da Pensilvânia (EUA), juntamente com o Rolex Day-Date, com recursos pagos à conta do general Mauro Cesar Lourena Cid.
A Polícia Federal diz que não foi identificado nenhum registro do relógio Patek Phillipe em consulta a documentos referentes ao acervo privado de Bolsonaro, o que indica que o bem sequer teria passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica – GADH (hoje DDH) para realização do tratamento e classificação.
“Tal fato explicaria não ter existido, ao contrário dos demais itens desviados, uma ‘operação’ para recuperar o referido bem, pois, até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência”, afirmaram os investigadores.
Quem seriam os envolvidos na operação envolvendo as joias, segundo a Polícia Federal?
Além de Jair Bolsonaro e sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, são citados pelos investigadores: 1) o ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid, responsável por boa parte das operações envolvendo as joias; 2) seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que teria mantido em sua residência em Miami objetos que possivelmente foram dados como presentes oficiais de autoridades estrangeiras a Bolsonaro, permitido o uso de sua conta bancária pessoal para a realização das operações de venda dos bens e encaminhado os itens a leilão em estabelecimentos especializados; 3) os ex-assessores Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara; 4) os advogados Frederick Wasef e Fabio Wajngarten; e 5) Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República.
Eis um resumo feito pela própria Polícia Federal das atribuições de alguns dos nomes citados na operação de venda das joias:
“Após o desvio para o acervo privado do ex-Presidente, conforme demonstrado, Mauro Cesar Barbosa Cid, Marcelo Camara e Mauro Cesar Lourena Cid empreenderam esforços para vender os bens nos Estados Unidos, fato que se iniciou, pelo menos, em meados de 2022, progredindo até o início do ano de 2023.
O General da reserva, Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cesar Cid, então lotado no escritório da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami – EUA, participou das ações descritas, exercendo diversas atividades relevantes no contexto descrito.
Inicialmente utilizou sua conta bancária para receber o montante de US$ 68.000,00 decorrente da venda dos relógios Rolex Daydate e Patek Phillipe, em 13 de junho de 2022 para a empresa Precision Watches. Posteriormente, já em 2023, guardou em sua residência, na cidade de Miami, as esculturas douradas (barco e árvore) objetos dados como presentes oficiais de autoridades estrangeiras a Jair Messias Bolsonaro em viagens internacionais, para serem vendidos nos Estados Unidos. Da mesma forma, Mauro Cesar Lourena Cid e seu filho Mauro Cesar Barbosa Cid encaminharam os objetos desviados, pertencentes ao acervo público brasileiro, para estabelecimentos comerciais especializados, para serem avaliados e vendidos por meio de leilão. Evidenciou-se ainda que Mauro Cesar Lourena Cid seria ainda a pessoa responsável por receber, em nome e em benefício de Jair Messias Bolsonaro, os recursos decorrentes da venda dos bens. Por fim, identificou-se que os recursos auferidos com as vendas eram encaminhados em espécie para Jair Bolsonaro, evitando, de forma deliberada, não passar pelos mecanismos de controle e pelo sistema financeiro formal, possivelmente para evitar o rastreamento pelas autoridades competentes. Diante do exposto, há fortes indícios de que Mauro Cesar Lourena Cid praticou atos de lavagem de capitais, se unindo, em unidade de desígnios, com os demais investigados, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos recursos financeiros decorrentes da alienação dos bens desviados do acervo público brasileiro.
A investigação também identificou a participação relevante de Osmar Crivelatti, assessor do ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, nos atos para recuperar os itens que compunham o denominado ‘Kit Ouro Branco’, atuando em conluio com Mauro Cesar Cid, Marcelo Camara, Jair Bolsonaro e o advogado Frederick Wassef, com o objetivo de escamotear, das autoridades brasileiras, a evasão e a venda ilícitas dos bens no exterior. Por fim, a investigação também trouxe fortes indícios de que Frederick Wassef integrou o esquema criminoso, atuando na recuperação do relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a loja Precision Watches. Frederick Wassef viajou para os Estados Unidos, reavendo o bem no dia 14 de março de 2023. Posteriormente, de forma oculta, no dia 29 de março de 2023, trouxe o relógio para o Brasil, entregando para Mauro Cesar Cid na cidade de São Paulo, para posterior devolução ao Estado brasileiro”.
Como os fatos vieram a público?
Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 3 de março de 2023 revelou que o governo de Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o país um conjunto de itens preciosos avaliados em € 3 milhões, o equivalente a R$ 16,5 milhões.
As joias eram um presente do regime saudita ao então presidente e à primeira-dama Michelle Bolsonaro e foram apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em mala de um militar, assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que viajara ao Oriente Médio em outubro de 2021.
A reportagem conta que, ao saber da apreensão das joias, o ministro retornou à área da alfândega e tentou usar o cargo para liberar os diamantes. O Fisco reteve os itens, uma vez que no Brasil é obrigatória a declaração de qualquer bem que entre no país cujo valor seja superior a US$ 1 mil.
Ainda segundo a matéria do Estadão, haviam sido identificadas ao menos oito tentativas frustradas de Bolsonaro de reaver as pedras preciosas, envolvendo seu próprio gabinete, três ministérios e militares.
O que diz a lei sobre acervos privados de presidentes?
A lei nº 8.394 (de 30 de dezembro de 1991) trata dos acervos documentais privados de presidentes e o acesso à sua consulta e pesquisa. Segundo o texto, “os documentos que constituem o acervo presidencial privado são na sua origem, de propriedade do Presidente da República, inclusive para fins de herança, doação ou venda”.
O mesmo dispositivo, no entanto, determina que os acervos documentais privados “integram o patrimônio cultural brasileiro e são declarados de interesse público”, sendo sujeitos a duas restrições: 1) em caso de venda, a União terá direito de preferência; e 2) não poderão ser alienados para o exterior sem manifestação expressa da União.
Desta forma, os investigadores alegam ter havido descumprimento de ambos os dispositivos com a evasão dos bens ao exterior e tentativa de venda sem qualquer comunicação oficial junto ao Estado brasileiro.
As autoridades policiais argumentam que, na administração de Bolsonaro, “a GADH atribuiu presentes de altíssimo valor, dados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado do Presidente da República, adotando uma interpretação que contraria os princípios que regem a Administração Pública e a teleologia do acórdão proferido pelo TCU, que teve a finalidade, atendendo ao interesse público, de esclarecer e ratificar o entendimento de que a regra é a incorporação ao acervo público da União, dos presentes recebidos pelos Chefes de Estado brasileiro, em razão da natureza pública do cargo que ocupa, visando com isso, evitar a destinação de bens de alto valor ao acervo privado do Presidente da República”.
“O referido entendimento firmado pela GADH, na gestão do ex-presidente da república Jair Bolsonaro, além de chancelar um enriquecimento inadmissível pelo Presidente da República, pelo simples fato de exercer uma função pública, proporciona a possibilidade de cooptação do chefe de Estado brasileiro, por nações estrangeiras, mediante o recebimento de bens de vultosos valores”, pontuaram.
Os investigadores apontam, ainda, um modus operandi que consistiu na criação de uma estrutura para desviar bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras a Bolsonaro, para serem posteriormente evadidos do Brasil por meio de aeronaves da Força Aérea Brasileira e vendidos nos Estados Unidos.
O que diz a defesa de Bolsonaro?
Os advogados de Jair Bolsonaro afirmaram, na última sexta-feira (11), que o ex-presidente colocaria sua movimentação bancária à disposição das autoridades. Segundo comunicado oficial, Bolsonaro reiterou que “jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos”.
O que diz a defesa de Mauro Cid sobre o caso das joias?
Após trocar duas vezes de advogado, Mauro Cid deverá admitir que vendeu nos Estados Unidos as joias recebidas por Bolsonaro enquanto presidente e que repassou ao mandatário os valores obtidos com a negociação em dinheiro, segundo seu novo advogado, Cezar Bitencourt.
Em entrevista à revista Veja, Bitencourt disse que Cid responderá à Justiça que toda a movimentação em torno das joias e presentes de delegações estrangeiras foi feita a pedido de Bolsonaro, cuja ciência dos fatos também será apontada.
Segundo a reportagem, teria partido de Cid a ideia de usar a conta bancária de seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid para receber os pagamentos referentes à venda das peças de alto valor nos Estados Unidos.
A informação é que inicialmente o general teria resistido à ideia, mas posteriormente aceitou para evitar que o filho viajasse ao Brasil com o dinheiro em espécie. Os dois teriam falado sobre aproveitar a ida de Bolsonaro a Miami em dezembro de 2022 para entregar parte do valor recebido com a venda dos presentes oficiais.
Por que Mauro Cid foi preso?
A Polícia Federal prendeu o tenente-coronel Mauro Cid em 3 de maio, em fase anterior das investigações, após apuração sobre a inserção de dados falsos em cartões de vacinação contra a Covid-19. A operação batizada de Venire foi deflagrada no âmbito do inquérito das milícias digitais, que tramita no STF sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Os investigadores informaram que as alterações nos cartões de vacinação ocorreram de novembro de 2021 a dezembro de 2022 e tiveram como consequência “a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários”.
“Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de Covid-19. A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, disse a corporação em nota divulgada à época dos fatos.
Na mesma operação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em desfavor de Jair Bolsonaro, Mauro Cid e Marcelo Costa Camara.
Além de Mauro Cid, também foram detidos: o policial militar Max Guilherme e o militar Sérgio Cordeiro, ambos seguranças de Bolsonaro; Luís Marcos dos Reis, sargento do Exército e assessor de Bolsonaro; João Carlos Brecha, secretário municipal de Duque de Caxias (RJ); e Ailton Gonçalves Barros, major do Exército.
Em depoimento à PF, Mauro Cid optou por permanecer em silêncio. Já Bolsonaro negou ter orientado a falsificação de seu certificado de vacinação no ConecteSUS. Segundo a defesa do ex-presidente, ele disse que “jamais se vacinou, que desconhecia toda e qualquer iniciativa para eventual falsificação, inserção, adulteração no seu cartão de vacinação bem como de sua filha”.
Bolsonaro também chegou a afirmar que, se o tenente-coronel arquitetou tudo, foi “à revelia e sem o seu conhecimento”.
O que mais pesa contra Bolsonaro e preocupa aliados?
Também na última quinta-feira (17), em depoimento à CPMI dos ataques golpistas de 8 de Janeiro, o hacker Walter Delgatti Netto acusou Bolsonaro de orquestrar diversas ações criminosas contra as instituições democráticas. Na reunião do colegiado, ele falou em uma trama para sabotar o processo eleitoral brasileiro com a participação do mandatário.
Segundo Delgatti, que não apresentou provas à CPMI, Bolsonaro lhe deu orientações para manipular as urnas eletrônicas e pediu para que assumisse a autoria de um suposto grampo realizado contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Em troca, ele disse que o então presidente teria oferecido a garantia de um indulto para isentá-lo dos crimes.
Durante a audiência, Delgatti disse que a ideia de Bolsonaro no caso das urnas eletrônicas era criar um código-fonte “malicioso” e simular para o público, no dia 7 de setembro, que poderia invadir as urnas eletrônicas. Para tal, o então presidente teria colocado o hacker em contato com o Ministério da Defesa, à época chefiado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, e com o comando do Exército.
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