Bolsonaro chama Musk de ‘mito da liberdade’ em evento para anúncio do Starlink na Amazônia

Presidente elogia o empresário pela compra do Twitter e diz que "a liberdade é a semente para o futuro"; atualmente a plataforma restringe fake news

Anderson Figo

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao lado do empresário sul-africano Elon Musk e do presidente Jair Bolsonaro, em Porto Feliz (SP)
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao lado do empresário sul-africano Elon Musk e do presidente Jair Bolsonaro, em Porto Feliz (SP)

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A pessoa mais rica do mundo, o empresário sul-africano Elon Musk, se encontrou nesta sexta-feira (20) com o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, em Porto Feliz, no interior de São Paulo. O encontro foi para anunciar o lançamento do Starlink, projeto de satélites de baixo custo da SpaceX, para levar internet a 19.000 escolas de áreas rurais e monitorar a Amazônia.

Na ocasião, Bolsonaro chamou o executivo de “mito da liberdade”, citando a recente tentativa de aquisição do Twitter, e falou que o anúncio do negócio “para nós aqui foi como um sopro de esperança”. “O mundo todo passa por pessoas que têm essa vontade de tirar a liberdade nossa. E a liberdade é a semente para o futuro”, afirmou.

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“O futuro é o presente. Cada vez mais a tecnologia ficará presente entre nós. Lá atrás, a gente viu o fim da máquina de datilografia. Aqui foi anunciado o fim das auto-escolas e da carteira nacional de habilitação”, brincou o presidente. “O mais importante da presença dele [Elon Musk], é algo que é imaterial. Hoje em dia, poderíamos chamá-lo de mito da liberdade. É aquilo que nos fará falta para qualquer coisa que por ventura possamos pensar para o futuro”, disse.

Bolsonaro também disse que Musk poderia estar “se preocupando consigo próprio, mas não, veio ao nosso país, assim como tem andado pelo mundo todo, divulgando o que ele pretende deixar para todos nós”. O presidente disse que a passagem do executivo pelo país e a breve explanação sobre o Starlink já são “uma coisa que nos marcará para sempre”.

Quando foi falar sobre a Amazônia, Bolsonaro citou um versículo da Bíblia (João 8:32): “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”, disse. “Nós pretendemos e precisamos e contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo, mostrar a exuberância dessa região e como ela é preservada por nós e quanto malefício causam para nós aqueles que divulgam mentiras sobre essa região”, completou.

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Fábio Faria, ministro das Comunicações, citou que Bolsonaro entregará uma medalha e honra a Musk por sua “preocupação com a Amazônia” e disse, em inglês, ao convidado: “todos no Brasil te amam”. A apresentação foi transmitida ao vivo pelas redes sociais do presidente.

No Twitter, Musk disse que estava “superempolgado de estar no Brasil para lançar o Starlink para 19.000 escolas sem conexão com a internet em áreas rurais e o monitoramento da Amazônia”. Em abril deste ano, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), havia dito em um tuíte que Musk teria interesse em trazer a SpaceX ao Brasil. “Vamos trabalhar para consolidar esse negócio”, escreveu.

Com a proximidade a Elon Musk, Bolsonaro tenta engajar sua base de apoiadores, principalmente defendendo a “liberdade” prometida pelo empresário com a compra do Twitter. A plataforma atualmente impõe restrições à divulgação de fake news e desinformação, e o sul-africano já afirmou que, uma vez que o negócio for concretizado, irá rever essa política.

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Seguidores do presidente celebraram na internet o anúncio do negócio e, na ocasião, o próprio presidente chegou a afirmar durante uma live em suas redes sociais que a operação “mudou o humor do Brasil”, e continuou dizendo que perfis de direita na plataforma ganharam mais seguidores após o anúncio da aquisição porque os algoritmos teriam respondido à ela — mas não apresentou dados que comprovem isso.

A desinformação é uma estratégia da campanha do presidente, inclusive quando o assunto é Amazônia, segundo cientistas políticos. Ao citar que, através do Starlink de Musk, o mundo e os brasileiros verão como a região está sendo preservada, o presidente ignora as informações confiáveis, checadas e utilizadas em todo o planeta, trazidas por outros satélites (inclusive do próprio governo brasileiro), que comprovam o avanço do desmatamento da floresta.

Após o breve lançamento do projeto, Musk seguiu para uma reunião fechada com Faria e Bolsonaro, além de empresários convidados, que incluem representantes de empresas do setor de telecomunicações no Brasil. O Palácio do Planalto e o ministério das Comunicações não souberam informar se haverá uma coletiva de imprensa na sequência do encontro.

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Entenda o Starlink

A internet do Starlink, de acordo com a empresa, funciona enviando informações através do vácuo do espaço, onde se desloca mais rapidamente do que em cabos de fibra óptica, o que a torna mais acessível a mais pessoas e locais.

Segundo a SpaceX, enquanto a maioria dos serviços de internet por satélite atuais são possibilitados por satélites geoestacionários simples que orbitam o planeta a cerca de 35 mil km de altitude, o Starlink é uma constelação de vários satélites que orbitam o planeta a uma distância mais próxima da Terra, a cerca de 550 km.

Uma vez que estão em baixa órbita, o tempo de envio e recepção de dados entre o utilizador e o satélite – a latência – é muito menor do que com satélites em órbita geoestacionária, diz a empresa.

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Em janeiro deste ano, a companhia de Musk foi autorizada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) a funcionar no Brasil. Com isso, a empresa vai poder oferecer seu serviço de satélite em todo o território brasileiro. O direito de exploração vale até 2027.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.