Aprovação de Bolsonaro no mercado despenca 72 pontos em 4 meses, diz sondagem XP

Apesar da piora do ambiente político, investidores mantêm confiança na aprovação de uma reforma da Previdência com impacto fiscal de R$ 700 bilhões em dez anos

Marcos Mortari

O presidente da República, Jair Bolsonaro (Crédito: Fotos Públicas)
O presidente da República, Jair Bolsonaro (Crédito: Fotos Públicas)

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SÃO PAULO – Com menos de cinco meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) experimenta uma profunda reversão na avaliação da sua gestão entre investidores do mercado financeiro. O movimento é mais agudo do que o observado na população em geral. É o que mostra sondagem feita pela XP Investimentos com profissionais do setor.

Segundo o levantamento, feito entre os dias 22 e 24 de maio (antes, portanto, das manifestações de domingo), a percepção ótima ou boa do governo do pesselista saiu de 86% em janeiro para atuais 14%. No sentido oposto, o nível de ruim ou péssimo saltou de 1% para 43% no mesmo intervalo. Já as avaliações regulares foram de 13% a 43%, tendo alcançado o pico de 48% no mês passado.

A sondagem ouviu 79 investidores institucionais, entre gestores de recursos, economistas e consultores de grupos nacionais e estrangeiros. Os resultados não refletem a opinião da XP Investimentos.

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A deterioração da imagem do governo junto ao mercado foi muito mais rápida e intensa do que a observada nas pesquisas de avaliação junto à população em geral, embora estas tenham mostrado, pela primeira vez, um empate técnico entre aprovação e reprovação da gestão, com as impressões negativas numericamente à frente.

A sondagem com os investidores mostra, ainda, uma convergência entre o otimismo e o pessimismo com relação ao futuro do governo Bolsonaro. Hoje, 27% dos entrevistados esperam uma gestão ótima ou boa, contra 23% que apostam em uma administração ruim ou péssima. Em janeiro, a fotografia mostrava 83% de projeções positivas e apenas 4% negativas. No, o grupo dos que apostam em um governo mediano cresceu de 14% para 51%.

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Ponto para o “centrão”

Se para parcela do público bolsonarista a cruzada do presidente contra o que ele chama de “práticas tradicionais” pode surtir efeito positivo, o resultado parece diverso entre os investidores.

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A partir da série histórica do levantamento, observa-se que a recente piora nas relações entre o presidente e os parlamentares coincide com dois movimentos: a explosão em sua avaliação negativa e uma significativa melhora na percepção dos investidores sobre o Congresso Nacional.

Segundo a sondagem, o nível ótimo e bom do parlamento chegou a 32% entre agentes do mercado financeiro. É a maior marca registrada desde o fim das eleições. Já as avaliações negativas ficaram em 25%, 7 pontos percentuais acima da melhor marca, mas 15 p.p. abaixo do percentual registrado em abril.

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O choque entre os poderes, na avaliação da maioria dos investidores consultados, porém, é uma tendência da atual gestão. De acordo com o levantamento, apenas 13% acreditam que o relacionamento entre presidente e parlamento irá melhorar. Já 71% apostam na manutenção do quadro atual, enquanto 16% veem espaço para piora.

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A Previdência vai bem

Do ponto de vista da agenda econômica, a melhora na percepção dos investidores sobre os parlamentares pode ter ajudado na manutenção do otimismo em relação à aprovação da reforma da Previdência, mesmo em um mês marcado por turbulências políticas.

O levantamento mostra que 80% dos respondentes apostam que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe mudanças no sistema de aposentadorias seja aprovada no parlamento ainda neste ano. O percentual é o mesmo dos últimos dois meses, quando a avaliação de Bolsonaro entre os investidores era muito melhor.

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Apesar dos tropeços na tramitação da proposta, a média das apostas dos investidores consultados aponta para uma reforma com impacto fiscal de R$ 700 bilhões em dez anos.

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O número, abaixo do piso mínimo indicado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para a introdução de um regime de capitalização, é o mesmo do apontado nos últimos dois meses, apesar de o governo ter elevado a projeção de economia de R$ 1,165 trilhão para R$ 1,237 trilhão para o texto originalmente encaminhado ao parlamento.

Segundo o levantamento, as expectativas majoritárias dos investidores são de que a PEC seja aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados entre junho e julho e seja votada em primeiro turno no plenário da casa apenas na volta do recesso parlamentar – ou seja, a partir de agosto. Mesmo assim, a expectativa é que o Senado Federal decida sobre a matéria até o último trimestre do ano.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.