Após novo revés, a esquerda está definhando na América Latina? Não a subestime, aponta NYT

"O poder dos líderes de esquerda pode ter diminuído, mas de nenhuma maneira está esgotado"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Tendo como plano de fundo a nova vitória da direita na América Latina com a eleição de Sebástian Piñera para um novo mandato como presidente do Chile, o jornal americano The New York Times traça um panorama sobre a guinada à direita na região. 

Entre os exemplos, a publicação aponta que, no Brasil, o PT foi retirado do poder no último ano após o impeachment de Dilma Rousseff. No mês passado, o presidente da Argentina Mauricio Macri conseguiu uma grande vitória nas eleições legislativas contra o antes formidável partido peronista.

Segundo aponta a publicação americana, a mudança política da região começou como o fim de um boom de commodities uma década atrás que obrigou os governos a reduzir os gastos. Soma-se a isso os escândalos de corrupção que macularam “as imagens de líderes que assumiram o poder prometendo difundir a riqueza em uma região de extrema desigualdade”.

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Na reportagem, o NYT destacou a fala no Twitter do deputado Jair Bolsonaro, segundo lugar nas pesquisas eleitorais, logo após a vitória de Piñera no Chile. “A população latino-americana está dando o seu recado após sucessivos fracassos e crimes da esquerda em todos os países onde imperou! O Foro de São Paulo está com os dias contados”.

Entre os integrantes da esquerda que estão no poder, os dois líderes mais proeminentes estão sendo acusados de usar meios antidemocráticos para ficar no cargo. “Nicolás Maduro virou um pária regional após a Assembleia Nacional eleita democraticamente ter sido suplantada por um novo corpo fiel ao presidente venezuelano em agosto, sendo o mais agressivo de uma série de passos que seu partido tomou para consolidar o poder em meio a uma piora econômica e crise humanitária”, afirma o NYT.  O presidente Evo Morales, da Bolívia, por sua vez, foi criticado por querer disputar um quarto mandato em 2019, ignorando a vontade dos eleitores que decidiram em um referendo de 2016 que ele não deveria ser autorizado a concorrer novamente. 

De qualquer forma, o jornal americana aponta que, à medida que a região desloca-se para a direita, seus líderes enfrentam desafios enormes em uma era de crescimento econômico lento e sociedades profundamente polarizadas. 

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“Em grande medida, essas dificuldades são o produto de políticas e expectativas que os líderes de esquerda inflaram”, avalia a publicação, ao destacar que as medidas de austeridade destinadas a reduzir a inflação e colocar os orçamentos de equilíbrio em países como o Brasil e a Argentina podem irritar grandes segmentos da população que tem demandas como educação gratuita e quer uma previdência generosa como direitos básicos.

O jornal aponta que, no Brasil, o presidente Michel Temer, que gastou a maior parte de seu capital político este ano se defendendo de denúncias de corrupção, está lutando para construir apoio para a reforma da previdência – e enfrenta muitas dificuldades no caminho. Já a reforma da previdência do presidente da Argentina Mauricio Macri passou, mas com muitos protestos no país. 

Com esse cenário desenhado, o NYT aponta que “o poder dos líderes de esquerda pode ter diminuído, mas de nenhuma maneira está esgotado”. A reportagem cita o ex-presidente Lula que, apesar de poder ter sua candidatura suspensa em 2018 após ser condenado na Lava Jato, segue como o presidenciável mais popular do Brasil. No Equador, Lenin Moreno, um socialista, derrotou um rival de centro-direita em abril.

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O jornal também lembra que, embora como candidato Piñera tenha feito uma guinada ainda mais à direita e até afirmado que, caso seu adversário ( Alejandro Guillier, apoiado pela atual presidente Michele Bachelet) vencesse o Chile se transformaria na “Chilezuela”, ele também prometeu preservar amplamente algumas das iniciativas de Bachelet. Se ele buscar governar de forma eficaz, apontam analistas, ele precisará de apoio da esquerda. E o tom conciliador que ele usou durante seu discurso de vitória deixa claro que Piñera pretende tentar, diz o NYT. “Meus amigos, podemos pensar de forma diferente, as diferenças são ótimas, uma pluralidade de ideias é excelente”, disse ele. “Mas essas diferenças nunca nos devem transformar em inimigos. Toda vez que os chilenos se viraram uns contra os outros como inimigos, colhemos nossas maiores derrotas “.

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.