Apoio-relâmpago de Bolsonaro leva Capitão Contar ao 2º turno com Eduardo Riedel em Mato Grosso do Sul

Novatos em disputa no Executivo estadual, candidatos desbancaram adversários tradicionais e terão o desafio de mostrar que sabem gerir a máquina pública

Dhiego Maia

Já não bastasse ser base eleitoral de duas candidatas à Presidência, Simone Tebet (MDB) e Soraya Tronicke (União Brasil), Mato Grosso do Sul experimentou, neste domingo (2), uma das disputas de 1º turno das eleições mais acirradas e surpreendentes de sua história recente.

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Com vários postulantes ao cargo embolados nas intenções de voto, a decisão sobre quem vai comandar o estado pelos próximos quatro anos acabou adiada para o segundo turno.

Os eleitores sul-mato-grossenses decidiram levar à segunda etapa do pleito dois novatos em disputa para um cargo no Executivo e que buscaram apoio de Jair Bolsonaro (PL) ao longo da campanha.

Capitão Contar, do PRTB, e Eduardo Riedel, do PSDB, lograram êxito nas urnas neste domingo e desbancaram nomes de peso na corrida pelo comando de Mato Grosso do Sul, estado rico em biodiversidade e um dos polos da agropecuária do país.

Capitão Contar subiu nas pesquisas de intenção de voto na reta final da campanha de forma inesperada, após ver seu nome recomendado por Bolsonaro no debate promovido pela TV Globo, na última quinta-feira (29).

Pressionado por sua rival nas urnas, Soraya Tronicke (União Brasil), Bolsonaro declarou apoio, por cerca de 1 minuto, ao candidato do PRTB, que, ironicamente, passou a campanha inteira buscando aliança com o atual presidente.

Com o slogan “Capitão lá, Capitão cá”, Contar tinha 26,94% dos votos válidos às 19h58 (de Brasília), em primeiro lugar na preferência do eleitor, com 98,45% das urnas apuradas no estado. Em entrevistas, o candidato do PRTB disse que Bolsonaro não tinha um nome para o governo de Mato Grosso do Sul neste ano. E que a neutralidade demonstrada pelo mandatário não era “um problema”.

O problema foi que o “vote em Capitão Contar”, emitido por Bolsonaro em rede nacional, causou um “incêndio” nas costuras políticas locais, uma vez que o candidato apoiado pelo partido de Bolsonaro, o PL, era Eduardo Riedel (PSDB), ex-secretário de Governo e Infraestrutura de Reinaldo Azambuja, que tinha 24,97% dos votos válidos às 19h58, ficando em segundo lugar.

Coube à Tereza Cristina, do PP, eleita neste domingo senadora por Mato Grosso do Sul (veja abaixo), fazer a operação “panos quentes” na questão ao reinterar em um vídeo postado na internet que, no âmbito estadual, Riedel sempre foi o candidato apoiado por Bolsonaro. Mas as palavras de Tereza não colaram com a força pretendida junto ao eleitorado, que acabou seguindo a recomendação de última hora do atual presidente e votando mais em Capitão Contar.

Com o resultado, ficaram de fora da disputa ao segundo turno o ex-governador por dois mandatos, André Puccinelli (MDB), que somava 17,23% dos votos válidos às 19h58, e Marquinhos Trad (PSD), que havia deixado o comando da prefeitura de Campo Grande para buscar a eleição ao governo estadual, mas anotava 8,66% dos votos válidos às 19h58. Trad viu uma rejeição contra seu nome crescer quando passou a ser investigado, neste ano, por suspeita de assédio sexual contra mulheres. Ele nega as acusações.

Puccinelli sempre apareceu na liderança das pesquisas, situação que não se confirmou na abertura das urnas neste domingo. O restante dos postulantes ao governo sul-mato-grossense, como Trad, Riedel, Capitão Contar e a ex-vice-governadora Rose Modesto (União Brasil), figuraram em posições muito próximas nas intenções de voto, situação que dava a qualquer um dos quatro candidatos alguma chance de ir ao segundo turno.

Outros três candidatos, todos oriundos de partidos da esquerda, concorreram ao governo de Mato Grosso do Sul, mas não obtiveram êxito nas urnas. São eles: Giselle Marques (PT), Adonis Marcos (PSOL) e Magno Souza (PCO).

Novatos no Executivo

Contar e Riedel terão o desafio de mostrar ao eleitor sul-mato-grossense capacidade para governar o estado, uma vez que ambos disputam, pela primeira vez, um cargo no Executivo.

Renan Barbosa Contar, mais conhecido como Capitão Contar, ingressou na política em 2018, quando foi eleito deputado estadual pelo PSL. Nestas eleições, concorre pelo PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro).

Em 2019, teve seu nome envolvido em uma polêmica ao redigir um projeto de lei que proibia coreografias de danças em escolas públicas. Segundo Contar, a medida foi lida de forma errada porque buscava coibir a erotização infantil, e não a dança em si que, para ele, é uma manifestação cultural. O projeto de lei foi aprovado em segunda votação na Assembleia Legislativa, mas vetado pelo governador Reinaldo Azambuja.

Em seu plano de governo, de 62 páginas, Contar prometeu implantar o maior programa social de habitação popular do estado; erguer escolas cívico-militares, criar um cintutrão de segurança na fronteira; e promover, de forma gradativa, a desoneração fiscal de produtos essenciais.

Já Eduardo Riedel viu seu nome crescer nas pesquisas, mas ainda enfrenta a pecha de ser rosto desconhecido entre a maioria do eleitorado. Em sua campanha, enfatizou o trabalho que exerceu ao longo de seis anos como integrante do secretariado de Reinaldo Azambuja.

Com apoio da máquina pública, do atual governador como cabo eleitoral e uma coligação formada por seis partidos, teve maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV no primeiro turno. Tem, como vice, o deputado estadual Barbosinha (PP) em sua chapa.

Em seu plano de governo, de 38 páginas, Riedel prometeu ampliar o programa local de transferência de renda “Mais Social”, para parcelas de R$ 450; construir mais policlínicas; e incentivar novas cadeias produtivas no estado.

Incêndio no Pantanal (Mayke Toscano/Secom-MT)

Trajetórias políticas

Renan Barbosa Contar, 38, nasceu em Campinas (SP). Formado na Academia Militar das Agulhas Negras, o capitão do Exército foi eleito deputado estadual em 2018. Na casa legislativa presidia a Comissão de Turismo, Indústria e Comércio. O advogado Beto Figueiro, 54, também do PRTB, é o candidato a vice.

Já Eduardo Corrêa Riedel foi secretário de Governo e Gestão Estratégica de Mato Grosso do Sul. Nascido no Rio de Janeiro, tem 53 anos e é formado em ciências biológicas, com mestrado em zootecnia.

Foi considerado uma das cem pessoas mais influentes do agronegócio, tendo sido vice-presidente e diretor da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

O que faz um governador?

O governador é o responsável por comandar o Poder Executivo no Estado e no Distrito Federal. Cabe a quem ocupa o cargo representar, dentro do país, a respectiva Unidade da Federação nas relações jurídicas, políticas e administrativas. Na chefia da administração estadual, é auxiliado pelas secretárias e secretários de Estado.

Governadores podem propor leis e vetar ou sancionar leis aprovadas pelos deputados estaduais. Também respondem pela Segurança Pública dos estados, da qual fazem parte as polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros. Como no Brasil os Estados (e o DF) têm autonomia, as competências e responsabilidades do cargo são estipuladas pelas respectivas Constituições estaduais (e, no caso do DF, por sua Lei Orgânica).

O mandato de um governador é de quatro anos, com possibilidade de reeleição para mais um mandato de quatro anos. Caso reeleito, o governador tem como limite o período de oito anos no poder, ou seja, ele não terá o direito de se reeleger novamente de forma consecutiva para o mesmo cargo.

Tereza Cristina

Votação para o Senado

Seis candidatos concorreram a uma vaga ao Senado pelo estado de Mato Grosso do sul. E quem se saiu vitoriosa na disputa foi a ex-ministra da Agricultura do governo de Jair Bolsonaro, Tereza Cristina (PP), com 61% dos votos válidos às 19h58. Ela chegou a ser cogitada como vice de Bolsonaro, mas acabou disputando uma vaga ao Congresso Nacional.

Nas principais pesquisas eleitorais no estado, Tereza Cristina liderou as intenções de voto ficando à frente de seu principal adversário, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), do União Brasil, que ganhou projeção nacional na coordenação das ações de enfrentamento ao coronavírus, no primeiro ano da pandemia.

Natural de Campo Grande, Tereza Cristina é formada em engenharia agronômica pela UFV (Universidade Federal de Viçosa). Tem no currículo passagens por multinacionais do ramo de alimentos. Em Mato Grosso do Sul, foi secretária de Desenvolvimento Agrário.

Em 2014, acabou eleita deputada federal e, no pleito seguinte, reeleita. Mas se licenciou para assumir o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo Bolsonaro.

O que faz um senador?

Senadoras e senadores são os representantes dos Estados e do Distrito Federal no Congresso Nacional. Assim como os integrantes da Câmara dos Deputados, têm a prerrogativa constitucional de fazer leis e de fiscalizar os atos do Poder Executivo.

Além disso, a Constituição Federal prevê como competência privativa do Senado: processar e julgar, nos crimes de responsabilidade, os que ocupam os cargos de presidente e vice-presidente, os ministros de Estado e os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), os membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o advogado-geral da União.

O mandato de senador ou senadora tem duração de oito anos — e não quatro, como outros cargos eletivos, como de presidente da República ou governador. Por isso, é comum que ocupantes do cargo participem de outras disputas em anos em que não necessitem renovar o mandato.

A garantia do cargo funciona como um incentivo no meio político para que esses parlamentares busquem novas posições ou para que trabalhem na construção de suas imagens para disputas futuras, com o aproveitamento de recursos como do fundo eleitoral e sem riscos de perda de posição.

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Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.