Apego de Temer à presidência não desarrumará economia como em 1989 – mas o maior risco é outro

Em relatório, gestora Rio Bravo destaca ainda que os mercados não atribuem muitas chances a um retorno à "nova matriz econômica" - mesmo com "ameaça real" com eleições no ano que vem

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em carta de estratégia para comentar os resultados do mês de maio, a gestora Rio Bravo destacou a eclosão da crise política registrada no mês passado, apontando como uma espécie de antes e depois do governo a partir do dia 17, quando foram divulgadas as primeiras notícias sobre a conversa de Michel Temer com o empresário Joesley Batista. 

“Tudo parece diferente desde então, sendo certo que voltou a se firmar uma atmosfera de crise política e incerteza”, ressalta o relatório da Rio Bravo. Os gestores lembram que, no dia seguinte, o mercado (que tinha entrado em circuit breaker em meio à forte aversão ao risco) aguardava com grande ansiedade o pronunciamento do presidente, interrompia o violento declínio que vinha ocorrendo desde o começo do dia e encararam “o vazio que se abria com uma curiosa carga de otimismo”, em meio aos rumores de renúncia, que foram negados depois na fala de Temer. 

Dentre os motivos para tanto, estavam a garantia constitucional
de que a vacância nesses termos acarretava a realização de eleições indiretas no prazo de trinta dias. Isso levaria a uma possível solução rápida e, conforme lembra a Rio Bravo, haveria a permanência da equipe econômica e da continuidade das votações das reformas em andamento como ingredientes necessários e consensuais. 

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“Afinal, o presidente Temer está longe de ser uma liderança orgânica e carismática, seus índices de aprovação e popularidade são péssimos e a mesma maioria parlamentar que o sustenta poderia achar outro nome para seguir no mesmo rumo com certa facilidade. A descontinuidade se apresentava de forma clara, e não parecia assustadora”, ressalta a Rio Bravo.

Temer não renunciou e sua disposição para “resistir” tem sido o grande assunto do debate político desde então, ressalta a Rio Bravo. “As provas trazidas por Batista talvez não sejam suficientes para um processo penal, mas o desgaste para o presidente parecia terminal. 

Com Temer mais fraco, há paralisação das reformas, sobretudo as que envolvem alterações na Constituição e, segundo a gestora, deixa “meio órfã a agenda econômica”, o que se mostrou ser um ativo político absolutamente essencial para o governo. O governo se esforça para manter a aparência de normalidade na rotina, apontam os gestores, mas esses esforços não têm sido bem-sucedidos. Enquanto isso, por toda parte, há conversas sobre os nomes para a sucessão, sobre coalizões e possibilidades, bem como sobre acordos e salvo-condutos em caso de renúncia.

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Paralelo Temer X Sarney

A Rio Bravo traça ainda um paralelo entre Temer e José Sarney, que governou o País entre 1985 e 1990: “o presidente vai vivendo um dia de cada vez, encenando com mais velocidade o mesmo drama de Sarney”. 

A gestora aponta que, em seu quinto ano de mandato, Sarney presidiu uma “tragédia econômica” que contaminou a sua sucessão, a primeira eleição direta desde 1960. O segundo turno das eleições presidenciais de 1989 ocorreu no mesmo mês em que a inflação brasileira atingiu 50% mensais, o limiar técnico da hiperinflação, lembra a Rio Bravo.

Para os gestores, não se vislumbra que o apego de Temer à presidência, mesmo num ambiente de profundo desgaste político, possa desarrumar a economia como em 1989. “A grande maioria dos analistas se agarra às tendências e fundamentos econômicos dos últimos meses e aos resultados
já palpáveis do esforço de afastar o país da nova Matriz e de seus legados”, ressalta.

Neste sentido, há duas opções: ou Temer tem sucesso em restaurar a dinâmica anterior, ou em pouco tempo “outro Temer” vai ser escolhido para continuar a mesma coisa com mais ou menos as mesmas pessoas.

Deste modo, a real ameaça estaria em 2018, em eleições diretas gerais, nas quais haveria amplo espaço pra surpresas, inclusive desagradáveis, diz a Rio Bravo. Contudo, a gestora ressalta que, mesmo nesse evento, os mercados não atribuem muitas chances a um retorno à “nova matriz econômica” (como é conhecida a política econômica do governo Dilma Rousseff, caracterizada por expansão fiscal, crédito abundante, taxa de câmbio controlada e juros subsidiados.

“Pode ser um otimismo exagerado sobre o futuro, ou sobre os aprendizados efetivamente efetuados pelo país, mas os mercados raramente erram por ingenuidade ou desconhecimento”. De qualquer forma, a teoria dominante é que se Temer cair, entrará outro parecido em 30 dias, e não parece haver outra ideia factível.

Enquanto isso, a Rio Bravo destaca que o ambiente econômico já registrava melhoras sensíveis, com queda de juros bem firmada, inflação em queda, atividade reagindo, ainda que com “irritante lentidão”, contas externas muito positivas e, do lado ruim, desemprego ainda alto e resistente. “As perspectivas de médio prazo continuam no mesmo lugar, parecendo haver uma estranha crença na inexorabilidade das reformas e na força das ideias econômicas corretas”, conclui a Rio Bravo. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.