Vinte anos depois da derrota que o afastou do governo federal, em 2002, o PSDB amargou seu pior desempenho eleitoral na disputa por assentos na Câmara dos Deputados. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com 99,99% das urnas apuradas até a manhã desta segunda-feira (3), a legenda que rivalizou com o PT como um dos polos da política brasileira entre 1994 e 2014 terá, a partir do ano que vem, sua menor bancada na Casa, passando dos atuais 23 para apenas 13 deputados.
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Há quatro anos, nas eleições de 2018, os tucanos elegeram 29 parlamentares na Câmara. Contando com os quatro deputados eleitos em 2022 pelo Cidadania – partido com o qual o PSDB formou uma federação para disputar as eleições deste ano –, a bancada do grupo chegará a 17 deputados na próxima legislatura.
Alguns nomes tradicionais do tucanato, como o ex-governador de São Paulo José Serra e o ex-senador José Aníbal, não conseguiram se eleger na Câmara dos Deputados. Serra, que preferiu não disputar a reeleição ao Senado, teve 88.926 votos. Aníbal, apenas 7.692. No Paraná, o ex-governador Beto Richa também não se elegeu – recebeu 64.868 votos.
A maior bancada da Câmara será a do Partido Liberal (PL), legenda do presidente Jair Bolsonaro, que passará dos atuais 76 para 99 deputados. Em seguida, aparecem PT (68), União Brasil (57), PP (47) e MDB (42). Os dados do TSE são preliminares, pois não levam em consideração os deputados eleitos pelo estado do Amazonas, que ainda não havia concluído a apuração.
Fim da hegemonia em São Paulo
Como se não bastasse o desempenho ruim do partido que governou o Brasil por oito anos, entre 1995 e 2002, com Fernando Henrique Cardoso, o PSDB foi derrotado naquele que era seu principal reduto político no país: o estado de São Paulo.
O governador e candidato à reeleição Rodrigo Garcia terminou em terceiro lugar na disputa, com 18,4% dos votos (cerca de 4,2 milhões). Apoiado por Bolsonaro, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi o mais votado, com 42,32% (9,8 milhões), seguido por Fernando Haddad (PT), com 35,7% (8,3 milhões).
O PSDB era hegemônico no estado mais populoso do país havia 27 anos, desde 1995. O partido chegou ao poder em São Paulo com Mário Covas, eleito governador em 1994 – na esteira do Plano Real – e reeleito em 1998. Em 2001, com a morte de Covas, o então vice Geraldo Alckmin (hoje no PSB) assumiu o cargo e completou o mandato, disputando a reeleição no ano seguinte. Vitorioso em 2002, seria sucedido por José Serra (PSDB) em 2006.
Em 2010, Alckmin venceu mais uma vez e, em 2014, conquistou seu quarto mandato como governador. Em 2018, Doria – que havia sido eleito prefeito da capital dois anos antes – disputou e venceu a eleição para o governo paulista e manteve a supremacia tucana no estado.
Em entrevista ao InfoMoney em abril deste ano, Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria, já projetava uma grande dificuldade de Garcia para se viabilizar na corrida estadual. “Houve uma perda de competitividade do PSDB em dimensão nacional. Não é mais o partido que organiza o campo da centro-direita. O PSDB perdeu essa hegemonia, o que o afetou em sua capacidade de mobilizar apoio político”, afirmou.
Na mesma reportagem, o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, por sua vez, atribuiu a decadência do PSDB à mudança de feição do partido nos últimos anos. “O que você tem hoje não é mais exatamente o PSDB. O partido foi se liquefazendo, se desmanchando aos poucos”, afirmou. “[O ex-governador] João Doria teve uma participação importante nesse reposicionamento do PSDB, tirando aquela feição de um partido mais progressista, social-democrata. Aos poucos, o PSDB foi perdendo essa cara.”
Sinal amarelo no Rio Grande do Sul
Se o polo paulista do PSDB sofreu uma derrota fragorosa no primeiro turno das eleições, a ala liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também enfrenta a ameaça de perder o governo do estado.
Leite, que protagonizou um duro embate com João Doria no ano passado em torno de uma suposta candidatura própria da legenda ao Planalto – que acabou não se viabilizando –, voltou sua artilharia para a eleição gaúcha, defendendo o legado de seu primeiro mandato como governador.
No primeiro turno, porém, o mais votado foi Onyx Lorenzoni (PL), com 37,5% dos votos (mais de 2,3 milhões). O tucano avançou com muita dificuldade para o segundo turno, terminando com 26,81% dos votos (1,7 milhão). Leite teve uma vantagem de pouco mais de 2 mil votos sobre o petista Edegar Pretto, o terceiro colocado.
Esperança em Pernambuco
Derrotado em São Paulo e ameaçado no Rio Grande do Sul, o PSDB deposita suas fichas na disputa do segundo turno em um estado predominantemente alinhado à esquerda nos últimos anos.
Em Pernambuco, a candidata do partido, Raquel Lyra, conquistou mais de 1 milhão de votos (20,58%) e passou para o segundo turno. A tucana terá como adversária a ex-petista Marília Arraes, hoje no Solidariedade, que teve 23,97% dos votos (1,1 milhão). Neta do ex-governador Miguel Arraes, personagem emblemático da política pernambucana, Marília deve contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além do Rio Grande do Sul e de Pernambuco, o PSDB disputará o segundo turno das eleições estaduais na Paraíba, com Pedro Cunha Lima, e no Mato Grosso do Sul, com Eduardo Riedel. Todos os tucanos finalistas nas disputas majoritárias terminaram em segundo lugar no primeiro turno.
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