Volodymyr Zelensky: o ex-comediante que se tornou presidente da Ucrânia

Conheça a trajetória política do líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky

Nome completo:Volodymyr Alexandrovich Zelensky
Data de nascimento:25 de janeiro de 1978
Local de nascimento:Kryvyi Rih, Dnipropetrovsk
Formação:Direito pela Universidade Nacional de Economia de Kiev
Profissão:Advogado, ator, comediante, roteirista, produtor e diretor de cinema
Partido:Servo do Povo
Cargo de destaque:Presidente da Ucrânia de 2019 a 2024

Volodymyr Zelensky é o 6º presidente da Ucrânia desde a dissolução da União Soviética, estando em seu primeiro mandato. Apesar de ter se formado em Direito, sua carreira foi construída na televisão e no cinema. Antes de assumir a presidência do país, trabalhava como ator, produtor, roteirista e diretor.

Zelensky ficou conhecido na Ucrânia por “Servo do Povo”, série em que interpretou o protagonista Vasiliy Goloborodko, um professor de História que é eleito presidente da Ucrânia após viralizar na internet com um discurso inflamado contra a corrupção.

Assim como seu personagem, Zelensky foi eleito sustentando o discurso de outsider: um cidadão comum que entra para a política motivado pelo espírito cívico de fazer de seu país um lugar melhor. Seu partido inclusive mudou o nome de Mudanças Decisivas para Servo do Povo, o mesmo da série, em 2017.

Novato na política, Zelensky passou a campanha tentando se afastar do meio político e defendendo o combate à corrupção, à burocracia e às oligarquias políticas da Ucrânia, sempre com um tom nacionalista. Sobre os movimentos separatistas existentes no leste do país, defendeu a unidade do território e do povo ucraniano. Também discursou em prol da retomada do controle sobre regiões então dominadas pela Rússia, como a Crimeia.

O sucesso do seriado ajudou Zelensky a alcançar a vitória nas eleições com 73,22% dos votos, contra 26,78% de Petro Poroshenko, que tentava sua reeleição. Mas a série também fez sua imagem ficar muito associada a Igor Kolomoisky, proprietário da emissora de TV 1+1 — que transmitia “O Servo do Povo”. Seus opositores acusavam Zelensky de ingressar na política apenas para defender os interesses do empresário.

Em maio de 2019, Zelensky assumiu o governo ucraniano com o desafio de dar prosseguimento às tratativas do país com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e com a União Europeia (UE). A escalada da tensão com os movimentos separatistas de populações de origem russa nas regiões de Donetsk e Luhansk também pesariam sobre sua gestão.

Mas Volodymyr Zelensky vai ficar para sempre marcado pela invasão russa à Ucrânia no fim de fevereiro de 2022.

Quem é Volodymyr Zelensky

Volodymyr Zelensky nasceu em 25 de janeiro de 1978, em Kryvyi Rih, cidade da província de Dnipropetrovsk. Por causa da ascendência da população local, a primeira língua de Zelensky foi o russo, mas também foi alfabetizado em ucraniano.

Sua família é de origem judaica. Zelensky inclusive é o primeiro presidente judeu da história da Ucrânia. Atualmente, o país é o único do mundo (sem contar Israel) que tem um presidente e um primeiro-ministro, Denys Shmygal, de origem judaica.

O presidente ucraniano se formou em Direito pela Universidade Nacional de Economia de Kiev em 2000. Desde 1997, no entanto, Volodymyr Zelensky já trabalhava com audiovisual. Até 2011, foi ator, roteirista e diretor artístico vinculado ao Quarter 95, um estúdio especializado na produção de obras de comédia. Entre 2010 e 2012, foi produtor executivo no canal TV Inter. Depois, começou a colaborar com o canal 1+1, onde iria estrelar “Servo do Povo”.

Zelensky é casado com Olena Kiyashko. Também nascida em Kryvyi Rih, os dois se conheceram no período da universidade. Assim como o marido, a arquiteta Olena nunca atuou na área em que se graduou. Desde o início da operação do Quarter 95, ela trabalhou como roteirista do estúdio. O casamento foi em 2003, depois de oito anos de namoro. Eles têm dois filhos: Oleksandra Zelensky, de 18 anos, e Kyrylo Zelensky, de 9.

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Carreira no entretenimento

Volodymyr Zelensky venceu duas vezes o prêmio de melhor produtor pelo Teletriunfo, a maior premiação da TV ucraniana. A segunda vez foi pela série O Servo do Povo. Além das participações em TV, Zelensky atuou em mais de 10 filmes.

A crítica política sempre permeou suas produções. Em “Evening Quarter”, programa de auditório lançado em 2005, ele e seus colegas do Quarter 95 participavam de esquetes que satirizavam os acontecimentos políticos do país. Já em “Pure News”, que estreou em 2014 e ainda hoje está no ar com diferentes atores, Zelensky e Evgeniy Koshevoy faziam graça ao comentar as notícias da semana.

Em 2016, Zelensky protagonizou uma polêmica depois de se apresentar em Jurmala, na Letônia. Na ocasião, ele satirizava o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko (que três anos depois foi seu concorrente no segundo turno das eleições). Ao imitar Poroshenko, ele pediu empréstimo à plateia e comparou a Ucrânia a uma atriz pornô. “Quanto ao empréstimo, a Ucrânia, para ser honesto, se assemelha a uma atriz de filmes adultos alemães. Ou seja, está pronta para aceitar em qualquer quantidade, de qualquer lado”, disse.

À época, foi acusado de propagar uma imagem antipatriótica e negativa da Ucrânia. Depois do episódio, Zelensky se pronunciou e pediu desculpas. Disse que não estava “tirando sarro” do país, mas de Poroshenko. Justificou afirmando que o ex-presidente fazia uma má gestão da economia ao assumir muitos empréstimos.

Poroshenko era um alvo frequente de suas piadas. Em 2017, Zelensky se viu envolvido em outro caso controverso ao ironizar os negócios corporativos do ex-presidente. Em uma esquete especial de ano novo, Zelensky insinuou que os produtos vendidos pela Roshen, rede de lojas de chocolate cujo dono é Poroshenko, faziam mal aos dentes e o então chefe do executivo ucraniano os “empurrava” para a população para enriquecer. “Nosso negócio de chocolate tem uma lei – nunca experimente a merda que você vende”, disse.

O tom das piadas se acirrou quando Igor Kolomoisky, dono do canal 1+1, foi punido pelo governo da Ucrânia. A disputa começou em 2016, quando empresário perdeu o controle sobre o banco PrivatBank, após o governo nacionalizar a instituição bancária.

Segundo o Banco Central ucraniano, a administração do PrivatBank foi irresponsável na política de concessão de empréstimos, ameaçando estabilidade financeira do país. Na época, o PrivatBank era o maior banco privado do país, com mais de 20 milhões de clientes.

Em dezembro de 2018, o BC ucraniano acionou Kolomoisky na Justiça da Suíça, pedindo a compensação pelos empréstimos concedidos ao PrivatBank antes de sua nacionalização. Kolomoisky era o acionista majoritário da instituição financeira e a reparação solicitada somava 6,64 bilhões de hryvnias, correspondente a US$ 238 milhões à época.

Volodymyr Zelensky entra para a política

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia (Foto: Chris McGrath/Getty Images)

A ligação com Kolomoisky fez Volodymyr Zelensky entrar na política cercado por desconfiança. Especialistas questionaram seu real interesse em entrar para vida pública, cogitando que o ator fosse uma espécie de “fantoche” do empresário no governo ucraniano.

Durante a campanha, Zelensky foi perguntado por adversários e jornalistas sobre sua relação com o canal 1+1 e Kolomoisky. O candidato chegou a ser acusado de priorizar a emissora na distribuição de suas propagandas, o que Zelensky negou.

O início oficial de sua carreira na política aconteceu em janeiro de 2019, quando Zelensky protocolou sua candidatura no tribunal eleitoral ucraniano. Apesar de se declarar “apartidário”, ele é filiado ao Servo do Povo, partido que se define a favor de uma economia liberal em um Estado robusto.

O mote da campanha seguiu o script da série de TV. O candidato sustentou um discurso anticorrupção e contrário às oligarquias da Ucrânia. Na sua página oficial, Zelensky dizia que estava entrando se candidatando à presidência para implementar “um programa de governo para as pessoas e não para os políticos”.

Na economia, Zelensky defendeu maior transparência da lei orçamentária do país, cujo texto foi considerado resumido demais e pouco claro à população. Argumentou que a medida reduziria os desvios de dinheiro público e melhoraria as negociações para a entrada da Ucrânia na Otan. Além disso, defendeu que as empresas estatais do setor militar fossem privatizadas, mantendo o controle do governo ucraniano somente nas corporações “estratégicas”.

Além disso, propôs uma reforma do Poder Judiciário, com a ideia de atrair novos investidores para o país. Também disse que promoveria um perdão de dívidas de grandes empresas e criaria um imposto fixo de 5%, que poderia ser aumentado em diálogo com os agentes de mercado.

Sobre os movimentos separatistas no leste da Ucrânia, o ator assumiu um discurso em prol da unidade do país e da defesa do controle ucraniano sobre o território da Crimeia, controlado pela Rússia desde 2014. No entanto, Zelensky foi criticado quando disse que procuraria “um caminho do meio” para solucionar o impasse do país com o governo de Vladimir Putin. Internamente, a fala foi considerada subserviente ao governo russo.

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Tensão com a Rússia

A relação da Ucrânia com o governo russo foi um assunto central na eleição vencida por Volodymyr Zelensky.

Da dissolução da União Soviética até 2014, os presidentes do país tentaram estabelecer uma postura de não-confronto com o Kremlin. Mas a situação piorou após a investida russa contra o território ucraniano, que culminou na anexação da Crimeia por Moscou.

O episódio reacendeu a discussão sobre a adesão da Ucrânia à Otan. Desde 2008 o país tenta ingressar na aliança militar. Desde então, os ucranianos tiveram presidentes que eram mais ou menos favoráveis à medida.

Em 2010, por exemplo, com a eleição de Viktor Yanukovych, o país retrocedeu nesse propósito. Poroshenko, por sua vez, retomou as negociações com a organização e promoveu até uma alteração na constituição do país para adequá-la às regras da Otan.

Outra questão que resvala na relação com os russos é o interesse da Ucrânia em fazer parte da União Europeia. Em 2017, o país assinou um acordo para adequar sua economia e política de forma a se transformar em uma candidata à membro do bloco econômico. O Kremlin, porém, quer seus vizinhos longe da esfera de influência ocidental.

Volodymyr Zelensky foi eleito presidente com 73,22% dos votos em 21 de abril de 2019. Já assumiu o governo do país com a missão de controlar os movimentos separatistas, dar prosseguimento às negociações com a Otan e União Europeia e, ao mesmo tempo, baixar a temperatura das relações com a Rússia.

Com a atual investida de Moscou sobre Kiev, Zelensky tem apelado às instituições por apoio militar. Em 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após a invasão russa, o presidente da ucraniano entregou o pedido oficial de ingresso da Ucrânia na União Europeia, pedindo que o país fosse admitido no bloco econômico imediatamente para que a Rússia recuasse dos ataques.

No entanto, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a adesão ao bloco é um processo complexo e demorado, ressaltando que a aceitação da Ucrânia não pode acontecer “da noite para o dia”. A líder europeia, porém, manteve um tom amigável, dizendo que a Ucrânia faz parte da Europa e que é de interesse do bloco que o país ingresse no grupo.

A admissão pela Otan também parece distante. A organização tem evitado entrar em confronto direto com o presidente russo, Vladimir Putin, e argumenta que a Ucrânia ainda tem que promover diversas mudanças para estar pronta para ser uma integrante da aliança militar. Uma das questões centrais é a corrupção, considerada muito alta para as exigências do grupo.

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