Jane Fraser: primeira mulher a comandar um dos maiores bancos dos EUA

Executiva assumiu em fevereiro de 2021 como CEO do Citigroup e quebrou um paradigma em Wall Street, que até então só tinha chefes homens.

Jane Fraser, nova presidente do Citi Group
(REUTERS/Erin Scott/File Photo)
Nome completo:Jane Fraser
Data de nascimento:13 de julho de 1967
Local de nascimento:St. Andrews, Escócia, Reino Unido
Nacionalidade:Naturalizada norte-americana
Formação:Economia
Ocupação:CEO do Citigroup

Jane Fraser é uma executiva escocesa naturalizada norte-americana. Desde fevereiro de 2021, ela é CEO do Citigroup, terceiro maior banco dos Estados Unidos. É a primeira mulher a chegar ao cargo mais alto de uma das principais instituições financeiras do país. Sua chegada à posição foi considerada uma quebra de paradigma, pois até então as maiores empresas de Wall Street só haviam sido comandadas por homens. A imprensa norte-americana diz que ela quebrou o “teto de vidro” do setor bancário nos EUA.

A promoção de Fraser foi anunciada em setembro de 2020, quando a executiva ocupava os cargos de presidente do Citi e CEO de Global Consumer Banking do grupo, o que inclui os negócios de varejo, cartões de crédito, financiamento imobiliário, operações e tecnologia em 19 mercados. Vale ressaltar que o Citi é o maior emissor mundial de cartões de crédito.

Fraser substituiu Mark Corbat, que estava havia 37 anos no Citi e foi CEO por oito. O posto de “presidente” que ela acumulava antes a colocava como segunda em comando do grupo e provável sucessora na chefia geral, o que se concretizou. A executiva foi considerada a sexta mulher mais poderosa dos negócios em 2020 pela revista norte–americana Fortune.

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Quem é Jane Fraser?

Jane Fraser nasceu em St. Andrews, na Escócia, em 13 de julho de 1967. Ela cursou o ensino médio na Austrália e chegou a pensar em estudar medicina, mas chegou à conclusão de que não era boa em biologia. Gostava, porém, de economia e matemática. De volta ao Reino Unido, frequentou o Girton College, da Universidade de Cambridge, onde se formou em Economia.

Aos 20 anos, foi trabalhar no departamento de Fusões e Aquisições do banco Goldman Sachs, em Londres, e posteriormente na consultoria Asesores Bursátiles, em Madri. No início dos anos 1990, foi para os Estados Unidos estudar na Escola de Negócios de Harvard, onde obteve um MBA em 1994.

Após a temporada em Harvard, Fraser pensou em voltar a trabalhar no Goldman Sachs, mas mudou de ideia. Ela avaliava que as mulheres bem sucedidas do setor bancário na época eram “bastante assustadoras” e vestiam-se como homens. “Nenhuma delas era muito feliz”, disse a executiva em uma conferência realizada em 2016, segundo o jornal New York Times.

Vida privada

De acordo com a revista Fortune, Fraser queria “ter uma vida”. Ela decidiu trabalhar na consultoria McKinsey & Company. Dois anos depois, se casou com Alberto Piedra, executivo do setor bancário nascido em Cuba, e engravidou no mesmo ano em que viria a se tornar sócia da empresa.

“Eu recebi bastante conselhos: ‘Não engravide no ano em que você vai se tornar sócia’. Eu achava isso uma bobagem”, afirmou a executiva à Fortune. Duas semanas após dar a luz seu primeiro filho, ela foi informada pela companhia que havia se tornado sócia. Dois anos depois, ela teve o segundo filho.

Para se dedicar à maternidade, Fraser passou os cinco anos em que foi sócia da McKinsey trabalhando em meio período. “Eu lembro que um dos meus mentores me disse: ‘Você terá várias carreiras em sua vida e suas carreiras serão mensuradas em décadas. Por que então este sentimento de pressa, de fazer tudo ao mesmo tempo?”, contou ela à Fortune. “Não foi fácil, meu próprio ego sofreu um pouco na época, porque você vê gente mais nova avançando mais rápido na carreira. Mais isso me permitiu ser realmente feliz e manter um equilíbrio entre vida profissional e pessoal”, acrescentou.

Fraser afirma que essa experiência modificou suas perspectivas e sua maneira de trabalhar. “Quando eu voltei a trabalhar em tempo integral, meus clientes diziam: ‘Você é uma pessoa com muito mais empatia; antes você era apenas uma máquina’”, destacou a executiva à Fortune.

Carreira no Citi

Em 2004, Fraser estreou no Citi na divisão de investimentos e clientes corporativos, em Londres. Depois, em 2007, ela assumiu a posição de chefe global de Estratégia e Fusões e Aquisições, em Nova York. Nessa época, a executiva comandou a venda da divisão de valores mobiliários do grupo no Japão para o banco Sumitomo Mitsui, um negócio de US$ 8 bilhões, e deu início à alienação da corretora Smith Barney ao banco Morgan Stanley.

Segundo a Fortune, nesse cargo Fraser supervisionou 25 acordos de fusão e aquisição em 18 meses, cujos valores somados representavam quase US$ 1 trilhão.

De volta a Londres, de 2009 a 2013 ela trabalhou como CEO global da divisão de “private banking” do Citi, responsável pela gestão de grandes fortunas. Sua missão seguinte foi como CEO das áreas de varejo e de financiamento imobiliário (hipotecas) do banco nos Estados Unidos, de 2013 a 2015.

De acordo com o NYT, Fraser classifica este trabalho como sua “virada”, já que ocorreu após a crise das hipotecas subprime nos EUA. Segundo o jornal, sua boa atuação na posição pavimentou o caminho para futuras promoções.

De 2015 a 2019, Fraser assumiu como CEO do Citi na América Latina, um cargo baseado no México. Nesse período, o grupo vendeu suas operações de varejo e cartões de crédito no Brasil, Colômbia e Argentina. De acordo com a Fortune, a divisão latino-americana é a menor do grupo em termos de receita líquida, mas tem a maior taxa de retorno.

No México, o Citi controla o Banamex, um dos maiores bancos do país. Ainda segundo a Fortune, durante o período de Fraser à frente das operações na América Latina, a receita líquida da divisão cresceu 8%, e o lucro líquido, 38%.

Em outubro de 2019, a executiva foi promovida a presidente do Citi e CEO global de Consumer Banking. “Entregar a ela os negócios de consumo, que representam metade de nosso faturamento, e torná-la presidente, foi para prepará-la para ser CEO”, afirmou o presidente do conselho do Citi, John Dugan, segundo a Fortune.

A indicação para o cargo mais alto da empresa se confirmou em setembro de 2020 e foi concretizada em fevereiro de 2021. Dugan disse também, de acordo com a BBC, que Fraser vai levar o banco para um novo patamar. “Ela tem grande experiência em vários de nossos negócios e em diferentes regiões, então nós temos muita confiança nela”, declarou ele.

Problemas? É com ela

Ao longo de sua carreira no Citi, Fraser ficou conhecida como solucionadora de problemas. É qualificada de “escocesa corajosa”(“Gutsy Scot”) pelo jornal Financial Times. Ela assumiu o comando da instituição financeira em meio à pandemia de Covid-19 e essa é uma das questões que está tendo que lidar.

Em março de 2021, por exemplo, ela proibiu a realização de videoconferências internas às sextas-feiras e instituiu um feriado geral na empresa chamado Citi Reset Day. O objetivo é evitar o esgotamento de funcionários na pandemia.

“A indefinição da separação entre casa e trabalho e a jornada de trabalho implacável da pandemia afetaram nosso bem-estar”, disse a executiva em comunicado aos 210 mil funcionários do Citi ao redor do mundo. “Esta situação simplesmente não é sustentável. Como um retorno para algum tipo de novo normal está ainda a alguns meses de distância para muitos de nós, precisamos redefinir algumas práticas de trabalho”, acrescentou.

No caso das videoconferências, às sextas-feiras elas só podem ser realizadas com pessoas de fora da empresa. Internamente, os contatos devem ser feitos por telefone. Além disso, ela recomendou que os funcionários só façam ligações durante os horários tradicionais de trabalho, e que tirem as férias a que têm direito. Já o feriado ocorreu em 28 de maio.

“Quando nosso trabalho segue regularmente noite adentro, começa muito cedo de manhã e invade os finais de semana, pode impedir um descanso completo. Isso não é bom para vocês e, em última instância, para o Citi”, declarou ela no comunicado.

Jane Fraser
Jane Fraser trabalhando no Global Community Day (GCD) de 2019, uma das iniciativas mundiais do Citi. (Reprodução/Facebook/Citi)

De acordo com o Wall Street Journal, o Citigroup, que já foi a maior instituição financeira do mundo, agora batalha para se manter próximo dos principais concorrentes. Este é outro desafio de Fraser.

O periódico informa que o Citi vale hoje a metade do que valia em 2006 em capitalização de mercado, sendo que os bancos Goldman Sachs e Morgan Stanley têm batido recordes nessa seara. Em termos de receitas e lucros, o Citi foi ultrapassado pelo JP Morgan Chase e pelo Bank of America. O grupo tem estado também sob a mira de órgãos reguladores.

O WSJ destaca que colegas de Fraser dizem que ela toma decisões rapidamente e sabe pensar de forma estratégica, olhando o longo prazo ao mesmo tempo em que toca o dia a dia do negócio. O jornal acrescenta que mesmo quando faz cortes de funcionários, afirmam estes colegas, a executiva “envolve suas mensagens com empatia”. Resta saber o que pensam os demitidos.

Fraser não perdeu tempo nesta área. Em abril, ela anunciou que o banco vai sair do ramo de varejo em 13 países para melhorar os retornos, segundo a CNBC. Uma das prioridades da executiva é elevar os resultados do Citi para perto dos exibidos por JP Morgan Chase e Bank of America.

O corte atinge a Austrália, Bahrein, China, Índia, Indonésia, Coreia, Malásia, Filipinas, Polônia, Rússia, Taiwan, Tailândia e Vietnã. As operações de consumer banking para Ásia, Europa, Oriente Médio e África ficarão concentradas em Cingapura, Hong Kong, Emirados Árabes Unidos e Londres.

O Citi vai centrar seus esforços mais na gestão de fortunas e em clientes institucionais, seguindo uma das primeiras decisões estratégicas tomadas por Fraser. Segundo a CNBC, o banco registrou no primeiro trimestre lucros acima das previsões de analistas. A expectativa é que mais desinvestimentos devem ocorrer.

No primeiro trimestre de 2021, o banco registrou receita de US$ 19,3 bilhões, um recuo de 6,76% sobre o mesmo período de 2020. O lucro líquido, no entanto, avançou mais de três vezes na mesma comparação, para US$ 7,9 bilhões. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 17,2%. O banco tem US$ 2,3 trilhões em ativos, segundo o NYT.

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