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Meta é Paris: empreendedora transforma vila em Pernambuco e agora projeta expansão para França

Mércia Moura mudou a cultura de uma vila transformando um engenho em fábrica de confecção, em Pernambuco. Quer inaugurar, em 2019, uma loja no Shopping Iguatemi (SP) e, em 2020, na França

Equipe InfoMoney

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A empreendedora Mércia Moura mudou a própria vida e a de toda uma vila que se formou na cidade de Itambé, zona da Mata pernambucana, a cerca de 100 km do Recife. Criada “para ser dona de casa”, é hoje uma empresária que planeja inaugurar uma loja, com peças de suas confecções, na rue Saint-Honoré de Paris – referência em moda e luxo. Suas peças têm identidade com o artesanato do Nordeste “e um toque europeu”. Todo ano, Mércia viaja para se atualizar em design e tecnologia em centros de referência como Barcelona e Tóquio. “A moda anda buscando inspiração em culturas. Neste ano, por exemplo, a Rússia vem forte, por causa da Copa do Mundo. Mas nossas peças sempre vão ter detalhes no corte, bordados e nervuras. Têm cara de ‘roupa feita à mão’, como se fala”, afirma.

Por questão de marketing, hoje a marca MMSpecial é direcionada ao atacado. E a Marie Mercié, para franquias de lojas. Com 33 anos no setor, Mércia conseguiu tamanha aceitação que, além das duas lojas-piloto no Shopping Recife e no Riomar Recife, as 1,2 mil peças/dia são vendidas para todo o Brasil e exportadas para América do Sul, Estados Unidos, Portugal, Espanha e Angola. Mércia quer inaugurar sua loja no Shopping Iguatemi de São Paulo até o início de 2019. A de Saint-Honoré, em Paris, está projetada para 2020. “Eu vou ter uma loja naquela rua”, afirma a empreendedora.

Mércia Cavalcanti tinha estudado Desenho Industrial na Universidade Federal de Pernambuco, mas se casou e foi morar no Engenho Pangauá, do sogro Itamir, em 1977. Cuidava da casa, costurava para os três filhos (Paulo, Filipe e Marisa), desenhava estampas e roupas. Mas, pelo marido, Paulinho Moura, viveria isolada. O sogro deu o primeiro empurrão na carreira da nora: “Por que você não cria galinhas?” Mércia encarou o desafio, e juntou dinheiro com o negócio de aves. Mas depois fez empréstimo em banco e foi adiante com a sugestão da mãe, Marisa: voltar-se para o ramo de moda. Em 1985, com Nelita, a costureira da família, mais as vizinhas Penha, Tezinha e Vera, iniciou o negócio que mudaria todo um município. Em 1986, já haviam chegado mais dez costureiras, e Mércia foi parar em uma feira na Alemanha. Em 1987, esgotou seus produtos para venda no segundo dia da Feira Internacional da Indústria Têxtil (Fenit), em São Paulo.

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Peças produzidas pela confecção de Mércia Moura
Peças produzidas pela confecção de Mércia Moura, que “têm cara de feitas à mão”, com detalhes no corte, nervuras e bordados

Com o sucesso, os maridos das costureiras, que trabalhavam com cana-de-açúcar, passaram a acreditar na empreitada. “Foram chegando, trazidos pelas mulheres. Agora, muitos trabalham no campo, mas também fazem bordados e se orgulham em dizer que estão ajudando a pagar a faculdade dos filhos. E isso na Zona da Mata, da cultura machista canavieira!” A história mudou a cultura do lugar, diz Mércia. “Ganhando o próprio dinheiro, mulheres submissas passaram a se dar valor, a ter atitude. Somos uns 300 trabalhando aqui no engenho. E com alta tecnologia. Dizem que temos o maior conjunto de maquinaria de costura do Brasil em um só lugar. Mais uns 200 que pegam trabalho para fazer em casa. E de uma área desapropriada enorme, de 50 hectares, foi se formando uma vila, com as famílias vindo.”

A empreendedora se orgulha de tudo que catalisou no entorno do engenho – da mudança de mentalidade das mulheres, dos cursos técnicos, de não ter se rendido às confecções da China. “Nunca foi o meu propósito. Quero dar segurança às nossas meninas, fazer com que se tornem melhores, aprendam a enfrentar desafios e ter sucesso”, afirma. Os filhos estudaram fora e voltaram para trabalhar com a cana. Filha e noras (Priscila e Mariana) optaram por ajudar na confecção. Funcionárias “como Vânia” seguem na lida há 20 anos. E vieram os netos.

“Poderíamos estar morando em qualquer lugar do mundo, mas estamos aqui. Minha neta Mercinha, de 5 anos, outro dia fez três corações em um molde, na sala de corte. Daí explicou: ‘Um é da minha família aqui da fábrica; o outro, da minha família de pai, mãe, irmão, avós. O outro, da família que vou ter, com marido, filhos…’ É isso mesmo. Aqui conseguimos pensar no passado, presente e futuro. E com amor.”

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*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de 2018 da revista Fórum & Negócios.