SÃO PAULO – Um dos principais gestores de recursos do país, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, é conhecido pelo viés pessimista que costuma adotar nos portfólios dos fundos sob os seus cuidados.
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Diante do nível crescente de incertezas sobre a condução da política fiscal do governo brasileiro, e com a pandemia do coronavírus ainda bastante presente no contexto em termos sanitários e econômicos, a postura atual não poderia ser diferente.
Em live nesta quarta-feira promovida pela casa de análise Spiti, o gestor destrinchou dois grandes cenários possíveis: um pessimista, pelo qual tem maior inclinação, e um otimista.
Na pior hipótese, as conversas entre as lideranças em Brasília voltam a desandar, com os políticos pressionados pela sociedade no período eleitoral pela continuidade do auxílio emergencial, e com uma segunda onda da pandemia chegando ao país.
“A probabilidade [do cenário pessimista] não é pequena, por isso estou preocupado”, afirmou Xavier. “Nada do que falei me soa absurdo”, acrescentou o especialista, que afirmou ainda que é preciso tomar muito cuidado na condução da gestão do patrimônio em um ambiente com tamanho nível de incerteza.
Já no melhor cenário, a mais recente reaproximação entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, se mostra duradoura, com uma coordenação da agenda política entre Executivo e Congresso mais afinada, que resultaria à frente na elaboração de um novo programa de renda mínima que respeite o teto de gastos.
Aposta na alta dos juros
Pelo risco fiscal que se desenha no horizonte, prosseguiu o sócio da SPX, a precificação de uma piora do mercado ainda está até modesta, e não só entre os títulos públicos de mais longo prazo, mas também entre os curtos.
Se até a virada do ano a percepção de descontrole das contas públicas seguir ganhando força entre os investidores, Xavier acredita que o Banco Central (BC) pode se ver obrigado a ter de subir os juros antes do previsto.
Por esse motivo, no “book” de renda fixa dos fundos da SPX, o gestor tem optado por manter posições tomadas nos juros, que tendem a se beneficiar de um futuro aumento das taxas.
“O nível dos juros está muito errado”, afirmou Xavier, que se mostrou bastante crítico com a atuação do BC na crise, considerada excessivamente arrojada pelo gestor, ao reduzir tanto a Selic a ponto de oferecer taxas de juros reais negativos, com uma inflação que já há algum tempo tem dado sinais perigosos.
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A decisão da autoridade monetária, disse, expulsou o estrangeiro, e está forçando milhares de investidores conservadores locais a partir em busca de alternativas de maior risco, em um cenário de extrema falta de visibilidade.
“O brasileiro está entrando loucamente na Bolsa, enquanto o estrangeiro está saindo. Será que isso é um bom sinal?”, questionou o especialista, que entende que a taxa básica de juros deveria ser pelo menos o dobro da atual. “Trabalhar com juro real negativo nesse cenário é uma loucura.”
Caso o quadro pessimista traçado venha a se materializar, disse Xavier, as perdas para os novos investidores locais tomadores de risco podem ser muito grandes.
“Não acho que a gente está em um cenário que é bom de se tomar muito risco no Brasil”, afirmou o gestor da SPX, que emendou: “Estamos na hora da decisão; se der certo, ótimo, tem algum para ganhar nesse nível de prêmio. Se der errado, isso não é nada.”
Em relação ao câmbio, Xavier afirmou que está comprado em dólar, contra moedas de emergentes e também de desenvolvidos.
A desvalorização do real foi atribuída em grande medida à saída do estrangeiro, e o gestor não descarta que o mesmo movimento comece a ganhar corpo cada vez mais também entre os investidores locais.
“O equilíbrio que está sendo colocado nas taxas de juros expulsa o investidor brasileiro do seu próprio país”, afirmou. “As pessoas primeiro mandam o dinheiro para fora, e depois se mandam”, complementou Xavier, falando diretamente da capital inglesa.
“Risk-on”
O gestor afirmou ainda que a SPX tem mantido posições compradas na bolsa dos EUA, diante de uma percepção cada vez mais positiva dos investidores da região sobre uma vitória tripla dos democratas, com as conquistas da presidência, da Câmara e do Senado.
Os democratas, observou Xavier, têm uma agenda pró-gastos para combater a pandemia, e não devem ter grandes dificuldades de levar suas propostas adiante se confirmarem o favoritismo nas urnas.
Embora o mercado veja o presidente Donald Trump com bons olhos, o gestor da SPX afirmou que hoje o maior risco no radar é uma reeleição do republicano com derrotas em uma ou nas duas casas.
Seja quem for o eleito, é certo que os juros seguirão em níveis extremamente estimulativos ainda por bastante tempo.
E em um cenário assim, o gestor afirmou que segue com uma aposta na valorização do ouro. “A correlação histórica entre os juros reais, que hoje estão negativos, e o ouro é espetacular.”
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