Vale a pena investir em ETFs de renda fixa mesmo com o possível corte na Selic?

Diversificação e Imposto de Renda baixo são atrativos do produto, mas mercado brasileiro ainda tem poucas opções

Leonardo Guimarães

(Shutterstock)

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Mesmo com a queda iminente da Selic, atualmente em 13,75% ao ano, o Brasil deve ter juros básicos em dois dígitos por um bom tempo – segundo o boletim Focus, o mercado espera que 2023 termine com a Selic em 12%.

Dada a projeção, os ETFs (sigla para Exchange Traded Funds) de renda fixa aparecem como opção para quem quer aproveitar o cenário de juros elevados. Além disso, o produto é indicado para investidores que buscam diversificação para construir carteiras cada vez mais robustas.

Esses instrumentos são fundos de investimento que replicam um índice de renda fixa. Alguns se baseiam no IMA-B, índice com 14 títulos de inflação emitidos pelo Tesouro Nacional. Outros investem somente em LFTs (Tesouro Selic). Há ainda ETFs de renda fixa com aplicação em títulos de dívida de outros países.

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Por que investir em ETFs de renda fixa?

O principal argumento para investir em ETFs de renda fixa é a diversificação. “Os ETFs oferecem diversificação instantânea, uma vez que contêm uma cesta de ativos dentro deles”, diz Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Porém, outros aspectos se destacam nesse tipo de investimento. A carga tributária é um deles. Os ativos de renda fixa sujeitos ao Imposto de Renda têm tributação regressiva, ou seja, o imposto se torna menor com o passar do tempo de investimento. Nos ETFs, o que conta é o prazo médio da carteira do fundo: se os ativos onde o fundo investe têm vencimento médio em 200 dias, por exemplo, o IR será de 20%.

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Porém, todos os ETFs listados na B3 hoje têm carteira com prazo médio acima de 721 dias para que a alíquota de IR seja a menor, de 15%. Para o investidor, significa que não importa o tempo de investimento, a fração de imposto a ser recolhido será a mesma, diferentemente do que acontece no investimento direto em títulos do Tesouro ou de crédito privado.

Outro benefício tributário dos ETFs é a isenção de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e do come-cotas, uma antecipação do Imposto de Renda que afeta fundos de renda fixa com gestão ativa.

A liquidez também é usada como argumento favorável aos ETFs de renda fixa. As cotas dos fundos são negociadas na Bolsa, o que dá agilidade na negociação dos ativos e mais facilidade para vendê-los.

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Cauê Mançanares, CEO da Investo, também destaca o reinvestimento automático como um dos benefícios desses fundos. “Às vezes, o investidor compra um título e tem como opções receber cupom ou resgatar o dinheiro no vencimento, mas não tem controle para reinvestir imediatamente e pode deixar dinheiro parado”, argumenta.

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Quais cuidados devo tomar?

Como todos os investimentos, os ETFs de renda fixa têm pontos de atenção. Um deles é o custo. É preciso analisar a taxa de administração dos fundos e comparar com os custos do investimento direto nos papéis.

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Gonçalvez ainda traz um alerta para o investidor que costuma acompanhar de perto suas aplicações: “o investimento direto permite maior controle (na comparação com ETFs de renda fixa) sobre os ativos, o que pode ser mais adequado para investidores que querem colocar em prática estratégias específicas”, diz.

Os ETFs são, por natureza, ativos que não permitem uma gestão ativa dos papéis que estão em sua carteira. Isso porque a ideia é que eles sigam índices da maneira mais fiel possível, o que impede que até mesmo o gestor de entrar ou sair de uma aplicação quando quiser.

ETFs de renda fixa disponíveis na B3

Quem pondera os prós e contras dos ETFs de renda fixa e quer seguir com o investimento não encontra, por enquanto, muitas opções na Bolsa brasileira. São 11 ativos do gênero, com seis deles concentrados em títulos públicos indexados à inflação. Além da gestora, o que muda entre os ETFs de inflação é o prazo dos ativos.

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Confira os ETFs de renda fixa listados na Bolsa brasileira e onde esses fundos investem:

ETF Ticker Índice de referência Replica o desempenho médio de Gestora
Debêntures DI DEBB11 Índice Teva Debêntures DI Debêntures indexadas ao CDI BTG Pactual
BRAD IMA-B IMBB11 IMA-B (Anbima) Títulos públicos indexados à inflação Bradesco Asset Management
IT NOW IMAB IMAB11 IMA-B (Anbima) Títulos públicos indexados à inflação Itaú
BRAD IMA-B5M B5MB11 IMA-B5+ (Anbima) Títulos públicos indexados à inflação com vencimento a partir de 5 anos Bradesco Asset Management
IT NOW IB5M IB5M11 IMA-B5+ (Anbima) Títulos públicos indexados à inflação com vencimento a partir de 5 anos Itaú
IT NOW IMA-B5 P2 B5P211 IMA-B5 P2 (Anbima) Títulos públicos indexados à inflação com prazo menor do que 5 anos Itaú
IT Now IRF-M P2 IRFM11 IRF-M P2 (Anbima) Títulos públicos prefixados com vencimento a partir de 2 anos Itaú
NTNS NTNS11 Teva Tesouro IPCA+ 0 a 4 anos Títulos públicos indexados à inflação com prazo de até 4 anos Investo
LFTS LFTS11 Teva Tesouro Selic Títulos públicos indexados à Selic com vencimento a partir de 2 anos Investo
USDB USDB11 Bloomberg US Aggregate Bond Float Adjusted Index Títulos de dívida dos Estados Unidos (Bonds) Investo
BNDX BNDX11 Bloomberg Global Aggregate EX-USD Float Adjusted RIC Capped Index Títulos de dívida de países desenvolvidos (exceto Estados Unidos) Investo

Fabrício Gonçalvez explica que a escolha entre prazos curtos ou mais longos depende da perspectiva que o investidor tem para a Selic. “Títulos mais curtos tendem a ser menos sensíveis às variações de juros, o que pode ser vantajoso no cenário de aumento das taxas, mas podem oferecer retornos menores”, pontua o especialista, que recomenda o investimento nesses ETFs para proteção do patrimônio contra a inflação.

Um dos argumentos para investir em ETFs de inflação com prazos menores é a volatilidade. Como esses fundos têm na carteira ativos menos sensíveis às mudanças na taxa de juros, a variação nos preços das cotas é menor. “O nosso objetivo foi trazer proteção contra inflação, mas controlando a volatilidade, que é muito ruim para o psicológico do investidor”, conta Cauê Mançanares.

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A Investo ainda tem um ETF que investe em Tesouro Selic. A ideia é que o ativo sirva para reserva de emergência e rentabilização de caixa sem grandes riscos. Mas o CEO da gestora afirma que o momento atual ainda permite pensar no LFTS11 para multiplicação do patrimônio: “é possível aproveitar o bom momento, com juros reais atrativos, na casa de 8%”.

Há ainda duas opções para investir em renda fixa internacional via ETFs. Além da diversificação, o momento de alta de juros lá fora também pode ser um atrativo: “quando a previsão for de queda nos juros, esses títulos (hoje na carteira dos fundos) começam a se valorizar”, diz Mançanares.

Esse tipo de aplicação, porém, não é adequada para todos os perfis de investidores. “Há riscos cambiais, políticos e econômicos associados aos países em que os títulos são emitidos e o investidor deve analisar esses riscos cuidadosamente antes de investir”, pondera Fabrício Gonçalvez, da Box Asset Management.

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