Usou FGTS na Eletrobras? Fundos de “carteira livre” de ações driblam ano ruim e lucram; veja se vale migrar

Primeiros produtos do tipo "carteira livre" que divulgaram os resultados tiveram ganhos de até 5,41% no ano, contra perda acima de 20% nos tradicionais

Bruna Furlani

(Eletrobras)
(Eletrobras)

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Em um ano marcado por uma série de ruídos e poucos sinais envolvendo a Eletrobras (ELET3;ELET6), as ações da gigante do setor elétrico estão sendo penalizadas pelos agentes financeiros – com uma queda nos preços que chega a -16% entre janeiro e o fim de maio.

Para a tristeza de quem investiu o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) nas ações da empresa em junho de 2022, época da sua privatização, a maré negativa de notícias refletiu em perdas também por lá.

Só nesse ano, foram resgatados quase R$ 640 milhões dos fundos mútuos de privatização (FMPs) da Eletrobras, usados por quem quis comprar as ações com o FGTS. Parte desses recursos pode ter sido embolsada (possivelmente com perdas) pelos trabalhadores. Já a outra parcela, ainda que não seja possível cravar, pode ter migrado para um tipo diferente de FMP – e, ao que tudo indica, com resultados melhores.

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Desde dezembro, é possível transferir os recursos dos FMPs da Eletrobras para fundos de privatização que compram outras ações – incluindo os chamados de “carteira livre”, que investem em papéis variados (e não apenas nos de uma única empresa).

Os primeiros FMPs de “carteira livre” lançados no mercado completaram seis meses de existência nas últimas semanas, e agora estão autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a divulgar seus resultados.

Lançados no fim de novembro de 2022, dois fundos da XP – XP Balanceado FMP e XP Investor FMP – acumulam ganhos de 4,32% e de 5,41% nos últimos seis meses, até 25 de maio, segundo levantamento Nelogica/Comdinheiro para o InfoMoney. No mesmo período, o Ibovespa avançou 0,29% e vários FMPs da Eletrobras tradicionais registraram recuo na casa dos -22%.

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Segundo as normas dos fundos, os FMPs “carteira livre” precisam investir pelo menos 51% dos recursos em uma carteira de ações, incluindo cotas de fundos de índices (ETFs) e até derivativos destinados à proteção (hedge). Já os 49% restantes podem ser mantidos em caixa, em aplicações tradicionais de renda fixa.

Os FMPs da XP replicam uma parte ou toda a composição do fundo de ações mais antigo da casa, o XP Investor FIA, criado há mais de 15 anos. No caso do XP Investor FMP, a reprodução é integral. Já o XP Balanceado FMP destina 51% dos recursos para as mesmas ações e 49% para títulos públicos pós-fixados (LFTs, conhecidos como Tesouro Selic no Tesouro Direto).

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Como os demais FMPs de “carteira livre” têm menos de seis meses de operação, não é possível acessar suas rentabilidades – caso de fundos da Genial, Itaú, BTG Pactual e Santander.

Juntos, todos os nove FMPs de “carteira livre” da Eletrobras disponíveis atualmente somam depósitos líquidos (descontados os resgates) de R$ 709,7 milhões nesse ano.

Migrar ou não migrar? Cautela é o nome do jogo

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que é preciso ter cautela ao considerar uma transferência de recursos de um FMP tradicional para outro de “carteira livre”.

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“Acho cedo para migrar. A privatização foi muito recente e está sendo afetada por ruídos, não necessariamente por sinais”, alerta João Arthur Almeida, CIO da Suno Wealth.

Nos últimos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas e adotou uma postura combativa em relação ao processo de privatização da Eletrobras. O governo chegou a entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Advocacia-Geral da União (AGU).

Na ação, o governo pede a revogação do limite do direto de voto na Eletrobras, de forma que a União tenha voto proporcional à sua fatia na empresa, de 42,61%.

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A expectativa no mercado é de que haja acordo. A CNN noticiou que a possibilidade de mediação entre Executivo e Judiciário vem ganhando força. Uma das alternativas seria aumentar o número de indicados pela União no Conselho de Administração da Eletrobras de um para três ou quatro. Em troca, o governo assumiria o compromisso de não contestar outros pontos da desestatização.

Almeida, da Suno, defende que é difícil haver reversão da privatização, uma vez que a pauta foi discutida e aprovada no Congresso em 2021 – por isso, recomenda pensar duas vezes antes de migrar os recursos. Fora isso, os FMPs não têm desempenho uniforme. Fundos de ações da Petrobras, por exemplo, têm ganhos acima de 15% neste ano.

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“A Petrobras tem segurado bem, provavelmente pelo preço baixo das ações. Apesar do discurso de que vai aumentar capex [investimento], tem bom desempenho na Bolsa”, avalia.

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Fatores para análise

Também é preciso considerar o prazo curto de análise do desempenho dos FMPs de “carteira livre”. Para Almeida, é preciso um período para analisar e monitorar se a performance está superando o benchmark (taxa de referência), que é o Ibovespa. “Muitas pessoas viram uma janela e aproveitaram, mas é preciso avaliar se faz sentido”, pondera.

Filipe Ferreira, diretor financeiro da Comdinheiro e professor na FIA Business School, defende que o investidor verifique a sua estratégia de alocação pessoal antes de decidir pela migração.

“Não adianta contratar seguro de carro às vésperas de ser roubado”, diz. “Se está indo para o ‘carteira livre’ pela diversificação, a melhor hora é agora. Mas não vale presumir que vai acertar o momento para ficar ou sair do fundo que investe em ações da Eletrobras”.

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Um detalhe que pode chamar atenção é a taxa de administração, diferente entre FMPs tradicionais e “carteira livre”. Nos primeiros, costuma variar entre 0,15% e 0,40%, enquanto nos últimos pode chegar a 2,00% ao ano. Para Ferreira, no entanto, isso é um fator menor. “Nos fundos de ‘carteira livre’, há uma gestão mais especializada, por isso cobram mais”, justifica.

Eletrobras está descontada?

Para quem tem FMPs de Eletrobras, vale a pena considerar as perspectivas para a companhia. Em relatório para clientes, os analistas do JP Morgan mantiveram a avaliação overweight (acima da média do mercado) para as ações ordinárias da empresa, com preço-alvo de R$ 50 – os papéis fecharam a R$ 35,60 nesta quinta-feira (1).

A visão é compartilhada Enrico Cozzolino, head de análise da Levante Investimentos. Para ele, os fundamentos são bons e a Eletrobras está de 10% a 12% mais descontada que concorrentes como Cemig e Energisa, considerando o EV/Ebitda. O múltiplo compara o valor da empresa em relação à potencial geração de caixa, e é estimado em 6 vezes para este ano.

Para Cozzolino, o momento é propício para comprar Eletrobras. “A empresa é boa no fundamento e o ruído tende a ser sanado no longo prazo. Entendemos que o bom senso e o que for melhor para a companhia devem vencer”, pondera.

Bruno Komura, analista da Potenza Capital, concorda. Pelos seus cálculos, a ação entrega atualmente um retorno equivalente a IPCA mais 14% ao ano, uma taxa atrativa quando comparada a outras empresas do setor. Mesmo assim, sugere cautela com a empresa, em função do período forte de chuvas nos últimos meses, que pode pressionar os preços da energia para baixo.