Um terço dos fundos DI para pessoas físicas reduz taxa na crise, mas poucos rendem mais de 80% do CDI

De 100 fundos DI destinados a investidores pessoas físicas, 8 superaram o CDI em um ano e apenas um terço rendeu ao menos 80% do benchmark

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait Lucas Bombana

(Getty Images)
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SÃO PAULO – Pressionada pelo contexto de taxa de juros praticamente no piso histórico no Brasil e com uma concorrência acirrada de produtos, uma parte das gestoras dos fundos de renda fixa mais conservadores do mercado decidiu reduzir os custos ao longo da crise gerada pela pandemia de Covid-19. A mudança, contudo, não foi relevante o suficiente para melhorar o rendimento desses produtos de forma significativa.

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O fundo em questão é o do tipo DI, cujas carteiras estão majoritariamente alocadas em títulos públicos federais, em especial no Tesouro Selic, e nos quais espera-se, portanto, um rendimento próximo do CDI, considerados os custos envolvidos.

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Um levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney mostra que, de 100 fundos DI destinados a investidores pessoas físicas, 33 reduziram a taxa de administração desde fevereiro de 2020, pouco antes de a crise atingir em cheio o mercado brasileiro.

Desse total, 29 renderam menos do que 80% do CDI em um ano e apenas um deles bateu o referencial. Voltado para investidores qualificados (com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras), o Ouro Preto Real FC FI RF LP reduziu sua taxa de administração de 1,00% para 0,60% ao ano desde o início da crise. O fundo rendeu 2,67% em 12 meses, até março, ou cerca de 120% do CDI.

Do total da amostra, oito dos 100 fundos superaram o CDI ao longo de um ano e apenas um terço (31) rendeu ao menos 80% do principal benchmark de renda fixa no Brasil, que teve variação de 2,22% no período. Vale lembrar que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 6,10% em 12 meses até março.

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Além do Ouro Preto, destaque para os seguintes fundos: Itaú Seleção Multifundos RF LP (com retorno de 159,7% do CDI em um ano); Itaú Institucional Global Dinâmico RF PL (114,8% do CDI); Bradesco FC de FI RF LP Multi-índices Plus (110,4% do CDI); Artesanal FI FR (108,5% do CDI); BNP Paribas Dinâmico RF FI RF LP (104,3% do CDI); Banrisul Foco IRF-M 1 FI RF (101,2% do CDI); e Itaú Global Dinâmico RF LP (101,1% do CDI).

O levantamento considera fundos DI disponíveis para investimento à pessoa física, o que inclui produtos para o segmento de varejo alta renda. Todos os fundos têm ao menos 100 cotistas, existem desde 2019 e possuem pelo menos 80% da carteira alocada em títulos públicos e operações compromissadas. Foram excluídos fundos previdenciários, exclusivos e fundos espelhos.

Há ainda um filtro de volatilidade, com alcance de até 2, de forma a buscar fundos DI “puros”, sem posições em crédito privado ou futuro de DI, por exemplo, que tendem a deixar a estratégia mais arrojada. Volatilidade é uma variável que aponta a frequência e a intensidade de oscilações nos preços.

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Entre os fundos com os piores retornos, há perdas que chegam a 0,64% em um ano e taxas de administração de até 1,75%. São eles Praticbec – FI RF CP (da Bradesco Asset Management, com baixa de 0,64%), Necton FI RF Ref DI (da Necton Investimentos, com queda de 0,50%), Santander Fc FI Top RF (da Santander Asset, com recuo de 0,23%) e Banrisul Vip FI RF LP (do Banrisul, com perda de 0,17%).

Os fundos com os maiores custos também ficam bem distantes do CDI não apenas em 12 meses, mas em uma base maior, com produtos que renderam apenas 23% do CDI em três anos, caso do Banrisul Super FI RF.

O que as gestoras dizem

Com 16 fundos do levantamento, dos quais 15 com retornos abaixo do CDI em 12 meses, a Bradesco Asset Management (Bram) disse, por meio de nota, que vem ajustando seu portfólio de produtos e as taxas de administração de seus fundos ao longo do tempo, em um movimento de “adequação ao mercado e à nova realidade de taxa de juros”. Isso inclui o lançamento de novos produtos e soluções, afirmou a asset.

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O Banco do Brasil, que, por meio de sua gestora, a BB DTVM, conta com oito fundos da amostra que perdem para o CDI em um ano, disse dispor de um amplo portfólio de fundos para todos os segmentos de clientes, considerando seus objetivos, horizonte de investimento e perfil de risco.

Para acompanhar os movimentos de mercado e os atuais patamares da taxa Selic, o BB afirmou ainda que vem promovendo alterações “significativas” no portfólio, como a redução de taxa de administração e das aplicações iniciais com valores a partir de R$ 0,01.

“É importante destacar que, no portfólio, existem fundos tanto com gestão ativa quanto passiva em relação ao CDI. Os fundos passivos possuem como estratégia acompanhar a rentabilidade do indicador de referência. Neste sentido, a rentabilidade líquida destes fundos pode ficar abaixo do CDI”, justificou a instituição.

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A Necton, por sua vez, informou que, em seu processo de crescimento inorgânico, adquiriu carteiras de outras corretoras e, com isso, herdou alguns fundos, como o Necton FI RF Ref. DI. A instituição afirmou que, desde que assumiu essa gestão, vem adotando estratégias para melhorar a condição de patrimônio e o desempenho dos fundos.

“Neste mês de abril de 2021, o Necton FI RF Ref. DI passou por um processo de fusão, incorporando o NIC Crédito Privado Referenciado DI – fundo com características semelhantes. Com isso, além de um patrimônio líquido mais adequado, foi possível reduzir sua taxa de administração, melhorando tanto o desempenho do fundo quanto a remuneração do investidor”, disse a Necton, também por nota.

A taxa de administração do fundo DI presente no levantamento caiu de 0,60% para 0,40% ao ano, neste mês.

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Por fim, o Banrisul informou que o Banrisul VIP Renda Fixa, que tem taxa de 1,60% ao ano e rendeu 15,3% do CDI em 12 meses, não é um fundo com o CDI como referencial. “Classifica-se como ‘Renda Fixa Duração Livre Soberano’, de forma que tem como objetivo buscar retorno por meio de investimentos em títulos públicos federais, sem compromisso de manter limites mínimo ou máximo para a duration média ponderada da carteira, caracterizando-se como de longo prazo”, afirmou o banco, por nota.

Segundo a instituição, o resultado dos últimos meses reflete a marcação a mercado das LFTs (Tesouro Selic), as quais vêm sendo impactadas por deságios, assim como pela menor atratividade diante do baixo patamar das taxas de juros. “Em consonância com o movimento do mercado, realizou-se, em 2020, reduções das taxas de administração, inclusive do Banrisul VIP Renda Fixa.”

Também procurado pelo InfoMoney, o Santander não se posicionou até a publicação da matéria.

O retorno aceitável de um fundo DI

Ainda que tenham como objetivo acompanhar o desempenho do CDI, os fundos DI estão sujeitos a custos que tendem a prejudicar o retorno final, o que explica que até mesmo produtos com taxa zero de administração percam para o referencial. Mas qual a tolerância que o investidor deve ter com relação a essa diferença?

Na visão de Eduardo Akira, sócio do escritório Vero Investimentos, o investidor não deve aceitar menos do que 90% do CDI em um fundo DI, dada sua característica mais conservadora e o perfil de gestão passiva. Entre os custos em questão, Akira chama atenção para a custódia dos títulos, a administração fiduciária e a auditoria.

Renato Iversson, gestor da Taler Gestão de Patrimônio, avalia que um fundo DI que pague cerca de 70% do CDI ainda é aceitável, levando em consideração que o IMA-S (índice da Anbima formado por títulos públicos pós-fixados atrelados à taxa básica de juros) rendeu cerca de 80% do CDI nos últimos 12 meses.

“Com os juros baixos, qualquer custo impacta o retorno. Por isso, o investidor tem que se atentar primeiro à taxa de administração, depois à composição da carteira do fundo. Se ele tem taxa zero e mesmo assim está rendendo muito abaixo do CDI, pode ter na carteira um risco extra”, afirma.

Alto custo e volatilidade na crise

Além do impacto da taxa de administração sobre a rentabilidade dos fundos, Iversson faz menção à marcação a mercado dos títulos públicos – quando o valor do investimento é avaliado de acordo com as condições reais de mercado – em 2020, citada pelo Banrisul. Em meio à crise, investidores exigiram mais prêmio para investir nos papéis, resultando em uma queda nos preços dos títulos na mão dos investidores.

O Tesouro Selic com vencimento em 2025, por exemplo, teve desvalorização de 0,46% em setembro do ano passado, algo que não ocorria desde maio de 2002, quando da eleição do ex-presidente Lula.

Iversson ressalta que fundos DI podem ser uma boa opção para o investidor conservador, que não gosta de correr o risco de grandes variações em suas aplicações. Os produtos podem ser uma alternativa para a parcela de reserva de emergência ou para quando o investidor pretende fazer uso dos recursos no curto prazo.

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Para o gestor da Taler, não faz sentido pagar uma taxa de administração nesse tipo de produto, dada a oferta de fundos sem esse custo. “Alguns fundos de renda fixa correm mais risco de crédito, mas os fundos DI não, sempre têm risco de primeira linha, então quanto maior a taxa de administração, pior será a rentabilidade”, diz.

Rodrigo Assumpção, planejador financeiro com certificação CFP, faz um alerta com relação à diversificação, diante do hábito do investidor brasileiro de recorrer a investimentos pós-fixados, como Tesouro Selic, fundos DI e alguns CDBs, para alocar 100% dos recursos. “Essas aplicações privilegiam a liquidez e não a rentabilidade”, afirma. “O brasileiro precisa, com os juros baixos, sair de uma postura de poupador para assumir uma de investidor.”

Tesouro Selic x Fundos DI

Na avaliação de Akira, da Vero Investimentos, o investidor não deve pagar mais do que 0,20% a.a. em um fundo DI, dado que a taxa de custódia do Tesouro Direto é de 0,25% ao ano. “Para o nível de juros atual, qualquer custo dentro do fundo acaba sendo muito oneroso para a estratégia”, assinala.

Vale lembrar que a B3 não cobra taxa de custódia sobre investimentos no Tesouro Selic no valor de até R$ 10 mil, desde agosto de 2020. Para montantes maiores, a taxa corresponde a 0,25% ao ano.

Akira diz preferir ter títulos Tesouro Selic a fundos DI, por conta dos custos que oneram a rentabilidade do montante aplicado no segundo caso, como o “come-cotas” – antecipação obrigatória do Imposto de Renda sobre o lucro da aplicação, que incide sobre fundos DI (entre outros) a cada semestre.

Dado que a liquidação de resgate do Tesouro Direto ainda é em ”D+1”, isto é, o dinheiro cai na conta um dia após a solicitação de resgate, Iversson, da Taler, diz preferir para a fatia do “dia a dia” fundos DI com liquidez diária (D+0), em que o montante fica disponível ao investidor na mesma data.

O Tesouro Direto, contudo, está com planos de diminuir esse prazo e aumentar a liquidez dos títulos ainda no segundo trimestre. Leia mais aqui.

Tanto os fundos quanto os títulos públicos têm incidência de Imposto de Renda com base na tabela regressiva, com a alíquota inicial de 22,5% sendo reduzida à medida que o dinheiro permanece aplicado, com possibilidade de chegar a 15%, quando no resgate acima de 720 dias.

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