Um olhar através do vale: as dores da Bolsa americana e uma conversa séria sobre os ciclos de mercado

Uma breve reflexão sobre os ensinamentos e as oportunidades oferecidas pelos ciclos econômicos e de mercados, que não costumam falhar

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Existem poucas certezas na vida e uma delas é irrefutável: os ciclos econômicos e – como consequência – de mercado vão acontecer. Eventualmente os formatos mudarão, a temporização será diferente, mas eles sempre serão uma realidade.

Essa afirmação não é derivada do auge da rebeldia dos meus 26 anos de idade, está na ampla bibliografia, e nomes emblemáticos como Howard Marks dedicaram suas mais complexas teses a este tema. Estamos lidando com uma verdade absoluta.

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Saindo do campo dos estudiosos acadêmicos, os profissionais do mercado ao redor do mundo perseguem esses ciclos e tentam traduzir em ativos financeiros, em investimentos. A pergunta mais importante para essa turma sempre é: como ganhar dinheiro com isso?

Para a infelicidade de muitos deles, essa tarefa é extremamente árdua, beira o impossível em diversas ocasiões. O próprio Howard, que é chamado de “pai dos ciclos” em muitos corredores do mercado, costuma “carregar” suas posições durante janelas longas de tempo, quase como se ele ignorasse os tais movimentos que tanto estudou ao longo de sua vida.

Quando esse é o tema, não podemos deixar de falar sobre uma das classes mais famosas do mundo e mais longeva: o S&P 500, conhecido também como “Bolsa americana”. Ele é um dos temas mais polêmicos da indústria financeira neste ano, mas a verdade é que o assunto sempre dividiu opiniões e causou muita confusão.

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Essa “perturbação mental” que a Bolsa do “Tio Sam” causa é traduzida facilmente em números – diversos investidores perdem dinheiro tentando operara esse “troço”, e quando digo diversos, mentalize um número vasto de pessoas. Ao olhar para o Brasil por exemplo, consigo pensar em dois nomes de gestoras que ganharam dinheiro com essa classe na janela longa (não vou abrir, obviamente).

A Bolsa americana sempre está cara demais, nunca é um bom momento para investir, os preços sempre são questionáveis, e ela nunca para de subir. Essa foi a melhor classe de ativos da última década e quase todo mundo, ao menos no Brasil, ficou de fora desse retorno.

Se você perguntar agora a minha opinião, eu lhe afirmaria que acho ela cara, esse é o curioso. Aliás, essa é uma das perguntas que mais respondo todos os dias; na maior parte das vezes, eu mesmo a faço.

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Esse ano, a indústria de gestão de recursos brasileira queimou bilhões em posições vendidas nesse índice, ou seja, apostando contra a bendita da Bolsa americana. Após momentos dolorosos, a turma segue com uma visão pessimista, acreditando na concretização do tal ciclo, mas sem a coragem para estar vendido como antes.

Escolhi a coluna dessa semana para tomar um café e refletir sobre esse tema, convido você a fazer o mesmo:

A semana que passou foi marcada por decisões de política monetária no mundo. Além de outras geografias, tivemos a famosa “super quarta” que marca a divulgação da taxa basal de juros nos Estados Unidos e no Brasil.

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Por aqui, sem grandes novidades: a decisão de diminuir a taxa Selic em 50 pontos base e o comunicado vieram em linha com as expectativas do mercado. Nos próximos meses, mais dois cortes dessa magnitude já são esperados e os dados de curto prazo são menos relevantes para esse horizonte de política monetária.

Já na terra da Casa Branca, a história é diametralmente diferente nesse último trecho: o termo “data dependent” é o mais falado. Isso significa que, para o Banco Central americano, o Fed, os dados de curto prazo são muito mais importantes que a visão de longo prazo – cada decisão será extremamente importante.

“Por que, Collazo?” – vamos aos gráficos:

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A economia americana está “bombando”, isso a maior parte de vocês já sabe. Os salários seguem em expansão, que é menor do que antes, mas ainda em território expansionista (gráfico da esquerda):

O americano está com dinheiro no bolso, não apenas pelo que ele ganha hoje, mas por tudo que já ganhou:

Como podemos ver no gráfico seguinte, a poupança das famílias americanas está bem alta. Vem diminuindo, mas ainda segue alta.

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Naturalmente, com tanto dinheiro entrando e já no bolso dos americanos, o sistema recebe esses recursos:

Resumindo: o americano está mais rico, a poupança está extremamente elevada, os salários mais elevados, o mercado de trabalho está aquecido e a chance de ficar desempregado é menor. Além das derivadas econômicas, como inflação mais elevada e os juros mais altos, isso afeta os ativos financeiros, como a própria Bolsa americana.

Carlos Woelz, diretor da Kapitalo Investimentos, uma das gestoras mais admiráveis do Brasil, disse uma frase que achei excelente: “para o americano, a Bolsa é um item de consumo”. A dinâmica nos Estados Unidos é muito diferente quando comparada com a nossa.

Já que estamos falando em um dos itens da cesta de consumo americana, num momento em que existe excesso de liquidez e estímulo para tal, é natural que tenhamos uma “inflação nos preços da Bolsa”. Pela perspectiva dos ciclos, isso será corrigido em algum momento.

Os juros devem permanecer altos por mais tempo por lá, o mercado não é tão consensual sobre o tema, mesmo com o Fed deixando isso muito claro em seus comunicados, o primeiro corte de juros já precificado por lá. Eu discordo do mercado.

Porém, o que importa é sempre a pergunta sobre como ganhar dinheiro, e como eu disse, acho o S&P “caro”, mas com esse cenário que mostrei, não consigo ficar pessimista, diria que sou neutro. Isso no curto prazo, porque no longo é impossível estar pessimista com a Bolsa americana e acreditar que não é um bom investimento.

E se nem mesmo Howard Marks se atreve a operar os ciclos com a Bolsa americana, quem sou eu na fila da mesa de operações? Alocações de longo prazo e esquecer a senha da conta da corretora sempre serão mais vencedoras.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney