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Caso você não seja um herdeiro ou não tenha ganhado uma bolada na loteria, precisará se preparar financeiramente para a velhice. Imaginar-se, no futuro, descansando em um local paradisíaco é uma delícia – mas sem planejamento, o sonho da aposentadoria na praia não vai virar realidade.
De olho em quem decidiu planejar a aposentadoria, há pouco mais de um mês, o Tesouro Nacional passou a vender o Tesouro RendA+ na plataforma do Tesouro Direto. É um título público desenhado especialmente para assegurar renda aos investidores na velhice.
O Tesouro RendA+ é um título de inflação, como é o Tesouro IPCA+. A diferença é a forma como os recursos são recebidos na data do vencimento. Enquanto os papéis de inflação tradicionais devolvem o valor investido de uma vez, o RendA+ faz pagamentos mensais ao longo de 20 anos, em 240 parcelas.
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Nesse período, o investidor recebe o principal aplicado, os juros e a correção pela inflação, que ajuda a preservar o poder de compra do dinheiro.
As vendas no primeiro mês de vigência do Tesouro RendA+ indica que a opção tem agradado. Os investimentos no papel alcançaram R$ 211 milhões entre 30 de janeiro (quando começou a ser vendido) e 1° de março.
Nesse intervalo, o vencimento preferido do Tesouro RendA+ foi o de 2030, que respondeu por 39% dos investimentos. O público que mais comprou os títulos de aposentadoria foram as pessoas entre 40 e 59 anos, responsáveis por 43% do total.
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Na prática, isso indica que muitos investidores têm interesse em receber uma renda extra, complementar à aposentadoria, daqui a sete anos. Será que dá tempo de poupar o suficiente nesse prazo?
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Para obter uma renda de R$ 3 mil por mês durante 20 anos investindo no Tesouro RendA+ 2030, é preciso investir aproximadamente R$ 3,6 mil todos os meses, mostra simulação feita a pedido do InfoMoney pelo professor de finanças José Carlos Luxo, do Ibmec-São Paulo.
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O valor pode ser reduzido – e muito – se, além do investimento mensal, também for feito um aporte inicial de recursos já poupados. Começando com R$ 50 mil, por exemplo, o investimento mensal no Tesouro RendA+ 2030 daí para frente cai para R$ 2,9 mil. Com R$ 100 mil iniciais, vai a R$ 2,1 mil.
Confira a simulação de investimentos no Tesouro RendA+ 2030 para obter uma renda mensal de R$ 3 mil por 20 anos:
Aporte inicial | Investimento mensal necessário (aproximado) | Renda mensal nos 20 anos após o vencimento (2030) |
Zero | R$ 3.600 | R$ 3.000 |
R$ 50.000 | R$ 2.900 | R$ 3.000 |
R$ 100.000 | R$ 2.100 | R$ 3.000 |
R$ 500.000 | Zero | R$ 6.767 |
Cálculos: José Carlos Luxo
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Luxo fez o mesmo exercício para títulos com vencimentos em 2035 e 2040, que também ficaram entre os mais procurados pelos investidores nos primeiros dias de negociação do Tesouro RendA+, além do 2065, o mais longo disponível no Tesouro Direto. Ele considerou as taxas praticadas para cada vencimento em 7 de março de 2023, quando os juros do título de aposentadoria variavam entre 6,46% e 6,53% ao ano.
Mas como em todos os títulos públicos, a remuneração do Tesouro RendA+ não é estática – na verdade, muda todos os dias de acordo com as condições de mercado. Nesta terça-feira (14), por exemplo, as taxas do papel variavam entre 6,39% e 6,46% ao ano.
Além disso, os cálculos consideram que a taxa cobrada pelo Tesouro Direto é de zero (é o que prevê a regra para rendas mensais de até seis salários mínimos e para quem carrega os títulos até o vencimento). Foi adotada ainda uma alíquota de Imposto de Renda de 15% sobre o rendimento e um IPCA estimado de 3,25% ao ano.
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Se o investidor preferir adiar a aposentadoria por cinco anos, comprando o Tesouro RendA+ com vencimento em 2035, precisará guardar R$ 1,6 mil por mês, caso não faça um aporte inicial, para alcançar a renda de R$ 3 mil por mês pelos 20 anos seguintes. Caso possa fazer uma “entrada” de R$ 50 mil, o aporte mensal vai para cerca de R$ 1 mil – ou para R$ 430, se puder começar investindo R$ 100 mil. Se investisse R$ 500 mil de uma vez, não precisaria fazer aportes mensais e obteria renda de mais de R$ 11 mil.
Confira a simulação de investimentos no Tesouro RendA+ 2035:
Aporte inicial | Investimento mensal necessário (aproximado) | Renda mensal nos 20 anos após o vencimento (2035) |
Zero | R$ 1.600 | R$ 3.000 |
R$ 50.000 | R$ 1.000 | R$ 3.000 |
R$ 100.000 | R$ 430 | R$ 3.000 |
R$ 500.000 | Zero | R$ 11.123 |
Cálculos: José Carlos Luxo
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Caso a aposentadoria seja em 2040, o valor mensal do investimento no Tesouro RendA+ precisaria ser de R$ 850 a zero, a depender do tamanho do aporte inicial.
Confira a simulação de investimentos no Tesouro RendA+ 2040:
Aporte inicial | Investimento mensal necessário até o vencimento (aproximado) | Renda mensal nos 20 anos após o vencimento (2040) |
Zero | R$ 850 | R$ 3.000 |
R$ 50.000 | R$ 350 | R$ 3.000 |
R$ 100.000 | Zero | R$ 3.590 |
R$ 500.000 | Zero | R$ 17.900 |
Cálculos: José Carlos Luxo
Já para os mais jovens, que têm bastante tempo até chegarem à idade de se aposentar, o planejamento é mais simples. Investindo no Tesouro RendA+ com vencimento só em 2065, o investimento mensal pode ser de R$ 64. Nos demais casos, com a realização de um aporte inicial, não seria necessário fazer aportes todos os meses. É importante dizer que, neste cenário, não foi descontada a taxa de custódia do Tesouro Direto, de o,10% sobre o valor mensal que exceder seis salários mínimos.
Confira a simulação de investimentos no Tesouro RendA+ 2065:
Aporte inicial | Investimento mensal necessário até o vencimento (aproximado) | Renda mensal nos 20 anos após o vencimento (2065) |
Zero | R$ 64 | R$ 3.000 |
R$ 50.000 | Zero | R$ 19.600 |
R$ 100.000 | Zero | R$ 39.100 |
R$ 500.000 | Zero | R$ 195.000 |
Cálculos: José Carlos Luxo
Vale a pena?
Para Thiago Maran, head comercial na Braúna Planejamento Financeiro, o Tesouro RendA+ têm prós e contras. A principal vantagem é que os ativos são corrigidos pela inflação, o que assegura o poder de compra do investidor, tanto na fase de acúmulo quanto na de usufruto. “E o retorno é garantido pelo governo, com risco soberano do país, uma excelente ideia”, diz.
Maran chama a atenção para o prazo. Quem tem menos tempo, como é o caso dos investidores de 40 e 59 anos, os maiores compradores no primeiro mês de negociação do Tesouro RendA+, o título se torna uma opção menos interessante. “A pessoa acaba tendo que fazer um esforço muito grande para conseguir uma renda relativamente pequena e limitada”, detalha.
Um ponto a avaliar é que o título proporciona uma renda mensal por 20 anos, e não vitalícia. “O dinheiro fica preso, o investidor receberá a renda mensal e não terá a opção de tirar o dinheiro em outro prazo – só por vinte anos”.
Para os mais jovens, diz o especialista, pode ser uma uma forma eficiente de acúmulo. “Um investidor com 40 anos, que pretenda se aposentar aos 65 anos, e já contribua para o INSS, terá as duas rendas”.
Já Adriana de Mello Alves, especialista em investimentos na Unicred, acredita que as pessoas na faixa etária entre 40 e 59 anos podem se beneficiar do Tesouro RendA+ 2030. Ela lembra que a expectativa de vida da população aumenta a cada ano e hoje está em 73 anos. “Além disso, o RendA+ mantém o poder aquisitivo do dinheiro, por ter sua rentabilidade atrelada à inflação”.
Mas é preciso que o investidor que quer fazer aplicações mensais, seja cuidadoso, já que o Tesouro RendA+ traça uma estratégia de longo prazo e a disciplina é prioritária.
O Tesouro Direto oferece uma calculadora para que o investidor simule a aposentadoria, alinhando a expectativa com relação à renda extra que deseja receber na idade em que planeja se aposentar, com a quantidade de títulos RendA+ que precisará adquirir mensalmente para realizar o objetivo. “As simulações são baseadas em projeções de mercado e não garantem resultados futuros”, ressalta Adriana.
“Um dos pontos importantes para o investidor avaliar, antes de começar a formar sua reserva para aposentadoria exclusivamente com o RendA+, é a quantidade de títulos, e não o valor a ser investido mensalmente. O valor mensal a ser aplicado será variável com tendência a aumentar, em função do valor do dinheiro no tempo”, explica a especialista.
Ela deixa claro que isso não é um problema, e sim uma característica do produto – e o investidor precisa estar ciente. Desta forma, para que a simulação no site do Tesouro Direto não seja frustrada, o investidor precisa comprar mensalmente a quantidade de títulos indicada.
“Atualmente, títulos públicos e privados, que têm como remuneração uma taxa prefixada acrescida da variação da inflação (IPCA), como o RendA+, estão oferecendo ótimos rendimentos. Portanto, para o investidor que já possui recursos acumulados, vale a pena avaliar a possibilidade de comprar uma grande quantidade de títulos RendA+ de uma vez”, sugere.
O título é indicado para um perfil específico: quem possui longo horizonte e pode mantê-lo até o seu vencimento. Se precisar resgatar o RendA+ antecipadamente, o investidor pode ter uma desagradável surpresa. O Tesouro garante a recompra dos títulos ao preço de mercado – com possível deságio.
Tesouro RendA+ ou previdência privada?
O que vale mais a pena: o Tesouro RendA+ ou a previdência privada? Segundo os especialistas, é preciso avaliar caso a caso. Isso porque os planos de previdência possuem características específicas que devem ser consideradas.
Entre os pontos que precisam ser levados em conta estão as taxas (de carregamento e de administração) cobradas nos planos de previdência – enquanto podem chegar a zero no caso do Tesouro RendA+, caso o investimento seja mantido até o vencimento.
Fora isso, é preciso lembrar que o novo título do Tesouro Direto é uma aplicação exclusivamente de renda fixa, enquanto os planos de previdência podem fazer investimentos em outras classes de ativos, como ações, moedas e no exterior. Por isso, a comparação entre os dois produtos deve ser criteriosa.
Mas a principal desvantagem do Tesouro RendA+ em relação a um plano de previdência está na tributação. O investidor não poderá deduzir o valor investido da base de cálculo do Imposto de Renda, como acontece nos planos de previdência do tipo PGBL.
Fora isso, a menor alíquota possível de IR cobrada sobre o rendimento do título público é de 15%, ante 10% na previdência privada para quem escolhe a tabela regressiva (após dez anos da aplicação).
Patrícia Palomo, head de investimentos da Unicred do Brasil, concorda que a tributação do novo título pode ser menos atrativa do que a oferecida por fundos de previdência. “O Imposto de Renda será o mesmo da regra vigente para títulos de renda fixa, com cobranças que ficam menores, quanto mais longo for o prazo de aplicação: de 22,5% para investimentos de até seis meses, caindo gradualmente até 15% para prazos superiores a dois anos”.
Já no caso de fundos de previdência, é possível optar por alíquotas progressivas de Imposto de Renda (IR), que vão aumentando de acordo com o valor do benefício ou do valor a ser resgatado (máximo de 27,5%); ou regressivas, que partem de 35% (acumulação ou resgate em até 2 anos) e podem cair para o mínimo de 10% (acima de 10 anos).
E há que se levar em conta também a questão da sucessão patrimonial. Planos de previdência privada não entram no inventário, em caso de morte do titular. O dinheiro é liberado rapidamente e, em alguns Estados, não há cobrança de imposto de transmissão.
Como funciona o Tesouro RendA+
Como a previdência privada, o RendA+ prevê um período de acumulação (ou de investimento) e outro de conversão (ou de recebimento da renda). Todo o valor é pago ao longo de 20 anos, em 240 parcelas mensais, acrescido dos juros. Durante a fase de recebimento, o montante é corrigido pela inflação até a data final, para preservar o poder de compra do investidor.
Uma vantagem do novo título do Tesouro Direto é a possibilidade de isenção da taxa de custódia, que é cobrada pela B3. A Bolsa brasileira é quem operacionaliza o sistema de negociação de títulos do governo.
A taxa de custódia será zerada para quem carregar o Tesouro RendA+ até a data de vencimento, com o limite de até seis salários mínimos de renda mensal nos 20 anos seguintes.
A tributação do ativo segue as regras da tabela regressiva do Imposto de Renda. Se o montante for resgatado em até 180 dias, a alíquota de imposto sobre os rendimentos é de 22,5%; entre 181 até 360 dias (20%); entre 361 até 720 dias (17,5%); após 720 dias (15%).