Tesouro Direto: só um prefixado valoriza em janeiro, enquanto títulos de inflação perdem até 7% no mês

Prefixado 2026 foi o único título público que ofereceu rentabilidade positiva no período, de 0,86%

Neide Martingo

(Getty Images)
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No primeiro mês do ano, os títulos públicos negociados no Tesouro Direto foram afetados principalmente pela profusão de notícias relacionadas ao novo governo. Entre os temas que mais provocaram instabilidade no período estiveram os debates sobre a formação do corpo técnico e ministerial e sobre a questão fiscal.

As taxas de juros no mercado externo também provocaram alguma preocupação. O Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) vem mantendo os juros crescentes para controlar a inflação.

Entre os títulos negociados pelo Tesouro Direto, o mês foi mais de perdas do que de ganhos – e, em alguns casos, de perdas fortes.

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O Tesouro IPCA+ 2045 registrou desvalorização de mais de 7% no mês, enquanto o Tesouro IPCA+ com juros semestrais e vencimento em 2055 recuou 3,6%.

Foi um reflexo do avanço dos juros, capturado pela marcação a mercado dos títulos públicos. Quem compra um papel e o mantêm na carteira até o vencimento receberá exatamente a remuneração prometida inicialmente. Porém, isso não significa que o valor do papel permaneça inalterado o tempo todo. O preço se movimenta, e não é pouco.

Durante a existência de um título público, seu preço é marcado a mercado diariamente. Significa que seu valor é atualizado, dependendo das condições atuais de negociação, incluindo a oferta e a demanda dos investidores.
Um dos elementos que mexem com os preços dos títulos públicos são as taxas de juros. Na prática, os papéis prefixados e os atrelados à inflação – especialmente os de longo prazo, que são mais sensíveis às variações – costumam desvalorizar quando as taxas de juros estão em tendência de alta. O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente sobem quando as taxas de juros caem.
Por isso, até o vencimento, eles podem apresentar rentabilidade negativa em alguns momentos – como foi o caso em janeiro.

Entre os títulos indexados à inflação, alguns ainda apresentam valorização nos últimos doze meses. Caso do Tesouro IPCA+ 2040, com retorno de 2,2% acumulado no período. Em janeiro, por outro lado, sua rentabilidade foi negativa: -2,53%. O destaque negativo em 12 meses é, novamente, o Tesouro IPCA+ 2045, que desvalorizou 9,56%.

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Dentre os papéis disponíveis para compra no Tesouro Direto, o único que teve valorização em janeiro foi o Tesouro Prefixado 2026, que avançou 0,86%. Nos últimos doze meses, o retorno do papel alcançou 6,42%.

Confira na tabela o desempenho dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto no mês, no semestre e nos últimos 12 meses:

Título Vencimento Rentabilidade em janeiro (%) Rentabilidade em 12 meses (%) Taxa de compra (%) Taxa de venda (%)
Tesouro Prefixado 01/01/2026 0,86 6,42 12,93 13,05
Tesouro Prefixado 01/01/2029 -0,76 13,22 13,34
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 -1 13,17 13,29
Tesouro IPCA+ 15/05/2029 6,22 6,34
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -3,96 0,36 6,42 6,54
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -7,04 -9,56 6,5 6,62
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 -0,71 6,27 6,39
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -2,53 2,2 6,43 6,55
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -3,6 -0,56 6,43 6,55

Fonte: Tesouro Direto. Obs: dados relativos ao dia 31/01/23.

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Todos os títulos disponíveis para compra tiveram desempenho abaixo da taxa do CDI (referência para investimentos de renda fixa) no mês passado. Os papéis mais longos são os que se saíram pior, por serem afetados pelas incertezas fiscais, além de estarem menos protegidos da inflação alta.

“O investidor olha essa rentabilidade e pode ter um desconforto de curto prazo, com relação ao que aconteceu em janeiro. Mas, se ele tiver horizonte de investimento mais longo, para formar uma poupança para a aposentadoria, por exemplo, esses ativos são bastante atrativos, apesar de terem ficado com a rentabilidade negativa neste início de ano”, diz Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

“Se o cenário se revelar minimamente favorável, do ponto de vista fiscal [com o novo governo contendo o déficit deste ano, com uma âncora fiscal que seja crível e convença os investidores de que pode estabilizar a dívida no médio prazo], boa parte desses prêmios serão reduzidos, o que estabelece uma tendência favorável para esses títulos”, diz Costa. “No curto prazo, porém, teremos volatilidade e tensão”.

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A tensão esteve presente no mercado principalmente no começo de janeiro, e se dissipou aos poucos conforme foram sendo divulgados alguns “desmentidos” do novo governo sobre a questão fiscal, lembra o especialista.

“As notícias na internet estressam o mercado, que acaba se acomodando. O que vemos na dinâmica dos títulos: tanto os que têm pagamento de juros semestrais quanto os prefixados sem pagamento de cupom estão todos rendendo abaixo do CDI, principalmente os títulos mais longos”, diz.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney