Tesouro Direto: juros têm ligeira alta, com mercado avaliando a nova regra fiscal; IPCA+2045 vai a 6,33%

Piso dos prefixados, detido pelo Tesouro Prefixado 2026, tinha retorno de 12,03%, maior do que os 11,98% vistos nesta quinta-feira

Neide Martingo

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O novo arcabouço fiscal, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), nesta quinta-feira (30), gerou reações diversas entre especialistas em contas públicas. De um lado, a criação de uma regra que limita a evolução de despesas foi vista como sinalização positiva do governo em direção a um maior controle sobre as contas públicas − embora alguns tenham visto o esforço como tímido pelo fato de a regra sempre permitir aumento real dos gastos.

De outro, há críticas à ausência de indicações de cortes de gastos, o que deverá comprometer o resultado fiscal atingido nos próximos anos ou exigirá movimentos mais expressivos do lado das receitas em um ambiente de percepção de espaço limitado em razão da carga tributária já elevada.

O último dia da semana também tem a notícia de que a taxa média de desemprego no Brasil chegou a 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, uma alta de 0,5 ponto porcentual em comparação com o trimestre anterior (entre setembro e outubro). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta sexta-feira (31) pelo IBGE.

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Nos Estados Unidos, o núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), um dos indicadores mais importantes para o Federal Reserve (Fed, banco central americano), subiu 0,3% em fevereiro ante janeiro e 4,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado anual, segundo o Departamento de Comércio.

O resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, uma vez que o consenso Refinitiv projetava alta mensal de 0,4% e anual de 4,7%.

A maioria dos juros dos títulos do Tesouro Direto, às 15h27, apresentava ligeira alta. O piso dos prefixados, detido pelo Tesouro Prefixado 2026, tinha retorno de 12,03% no horário, maior do que os 11,98% ao ano vistos nesta quinta-feira. O destaque era do Tesouro Prefixado 2033, com retorno de 12,78% ao ano, abaixo dos 12,81% da véspera.

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Entre os ativos indexados à inflação, o Tesouro IPCA+2045 apresentava alta, saindo de 6,3o% ao ano na sessão anterior para 6,33% hoje. Já os juros do Tesouro IPCA+ 2029 recuavam de 5,91% para 5,90% ao ano.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (31): 

Tesouro Direto

Fonte: Tesouro Direto

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Desemprego

A taxa média de desemprego no Brasil chegou a 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, uma alta de 0,5 ponto porcentual em comparação com o trimestre anterior entre setembro e outubro), conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta sexta-feira (31) pelo IBGE. Entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, a taxa média estava em 11,2%.

O indicador ficou um pouco abaixo do consenso Refinitiv, que previa taxa de 8,7% no mês.

Segundo o IBGE, esse é o menor resultado para o período desde 2015, quando o indicador ficou em 7,5%.

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O número de desocupados cresceu 5,5% e chegou a 9,2 milhões de pessoas, o que representa um acréscimo de 483 mil pessoas à procura por trabalho.

Para Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, o aumento da desocupação ocorreu após seis trimestres de quedas significativas seguidas, que foram muito influenciadas pela recuperação do trabalho no pós-pandemia.

“Esse é o segundo mês consecutivo de piora do mercado de trabalho, revertendo a trajetória de forte melhora que ocorreu ao longo de 2022. Isso é reflexo dos efeitos cumulativos do ciclo de alta das taxas de juros, aumento da inadimplência e perda de tração da atividade econômica, principalmente do setor de serviços que costuma ser o segmento que mais contrata”, diz Rafael Perez,  economista da Suno Research.

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No entanto, segundo ele, é importante pontuar que existe uma certa sazonalidade nos trimestres encerrados em fevereiro, já que são marcados por aumento do desemprego. As dispensas dos trabalhadores temporários contratados durante o período de festas costumam ter forte influência nos primeiros meses do ano.

“De toda forma, já se nota uma perda de dinamismo do mercado de trabalho, que deve ocorrer ao longo deste ano, mas que poderá ser mais moderada com as recentes medidas que tendem a incentivar o consumo e sustentar a demanda em um nível estável, possibilitando uma queda menor no emprego e na atividade econômica”, detalha Perez.

Arcabouço fiscal

Analistas de mercado veem que o novo arcabouço fiscal anunciado nesta quinta-feira, 30, pela equipe econômica depende do aumento de receitas para ter êxito. Sem sinalização de corte de despesas, há o receio de que o governo promova uma elevação na carga tributária. Mais cedo, como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse apostar no lançamento de um pacote de medidas “saneadoras” neste ano que pode elevar a arrecadação federal entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões por ano.

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Segundo Haddad, a ideia da Fazenda é promover medidas para pôr fim aos “jabutis tributários”, além de cobrar impostos de setores favorecidos e que não estão regulados, como as apostas eletrônicas, como já tinha antecipado.

“O arcabouço ainda tem que ser aprovado pelo Congresso. É preciso ter mais detalhes a respeito de como a regra fiscal vai acontecer, como vai ser a negociação e qual é o potencial de arrecadação em função dessas medidas. E de quanto pode gerar de receita. Será que é suficiente para, por exemplo, só estabilizar a dívida ou vai promover algum tipo de superávit?”, afirma Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.

Déficit setor público

O setor público consolidado fechou o mês de fevereiro com déficit primário de R$ 26,5 bilhões, ante superávit de R$ 3,5 bilhões no mesmo mês de 2022, informou nesta sexta-feira (31) o Banco Central. O dado veio baixo do consenso Refintiv, que esperava déficit de R$ 30,0 bilhões no mês.

Segundo o BC, no Governo Central houve déficit de R$ 39,2 bilhões, enquanto os governos regionais tiveram superávit de R$ 11,8 bilhões e as empresas estatais registraram em fevereiro saldo positivo de R$ 938 milhões em sua contas.

Nos últimos doze meses até fevereiro, o setor público consolidado obteve superávit de R$ 93,2 bilhões, o equivalente a 0,93% do PIB, e 0,31 p.p. inferior ao superávit acumulado até janeiro.

PMI

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) de Chicago subiu de 43,6 em fevereiro para 43,8 em março, segundo pesquisa da própria instituição.

O resultado deste mês surpreendeu analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam queda do indicador a 43,0.

PCE

O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, um dos indicadores mais importantes para o Federal Reserve, subiu 0,3% em fevereiro ante janeiro e 4,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado anual, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (31) pelo Departamento de Comércio americano.

O resultado veio abaixo do esperado pelo mercado, uma vez que o consenso Refinitiv projetava alta mensal de 0,4% e anual de 4,7%.

O núcleo do PCE exclui variações de preços de alimentos e energia, considerados mais voláteis. Considerando esses preços, a inflação de consumo americana foi de 0,3% na base mensal e de 5,0% na anual em fevereiro.

Os preços dos bens subiram 0,2% e os de serviços avançaram 0,3% em fevereiro ante janeiro, enquanto os preços dos alimentos tiveram variação de 0,2% e os de energia cresceram 0,4%.

Ante fevereiro de 2022, os preços dos bens aumentaram 3,6% e os dos serviços cresceram 5,7%. Já os preços dos alimentos estavam 9,7% mais altos e os preços da energia aumentaram 5,1%.

Lagarde/BCE

“O que aconteceu com o SVB não deve acontecer na Europa, porque não temos a mesma concentração do Silicon Valley Bank; havia muitos depósitos não garantidos. Nosso sistema é robusto. Monitoramos essa situação com muito cuidado”, disse Christine Lagarde, presidente do BCE, durante a sua conversa com jovens estudantes na Itália.

Fed

A presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Boston, Susan Collins, afirmou nesta quinta-feira, 30, que prevê mais uma alta de juros pelo BC dos EUA, seguida de uma pausa no aperto monetário até o fim do ano. Segundo a dirigente, que participou de painel em evento do National Association for Business Economics (Nabe), ainda há mais trabalho a fazer para conseguir restaurar a estabilidade de preços.

Collins ressalta que, para desacelerar a inflação, o Fed provavelmente não deverá cortar juros até o fim de 2023, visto que indicadores, como os gastos de fevereiro – que vieram mais fortes que o esperado -, ainda indicam que há ‘mais trabalho a fazer’.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney