Tesouro Direto: juros têm queda, com prefixados a 11,80%; foco do mercado são falas de Lula e regra fiscal

IPCA+2045 oferecia retorno de 6,14% ao ano, em linha com os 6,15% registrados na quinta-feira (20)

Neide Martingo

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A expectativa com relação à tramitação do arcabouço fiscal no Congresso e as duras críticas do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, dão o tom nesta segunda-feira (24), volta do feriadão prolongado. Além disso, a projeção de inflação para 2023, feita pelos analistas de mercado, voltou a subir nesta semana, de 6,01% para 6,04%, na quarta alta seguida, enquanto as estimativas para 2024, 2025 e 2026 foram mantidas, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (24) pelo Relatório Focus, do Banco Central. Para o PIB, a estimativa para 2023 subiu para 0,96%.

No Tesouro Direto, os juros dos títulos públicos intensificaram a queda nesta segunda-feira, às 15h17. O Tesouro IPCA+ 2045 oferecia retorno de 6,13% ao ano, menor do que os 6,15% registrados na quinta-feira (20). Já o Tesouro IPCA+ 2029 apresentava retorno de 5,77%, inferior aos 5,79% ao ano da sessão anterior.

Entre os prefixados, o destaque era o Tesouro Prefixado 2033, que tinha valor de 12,55% ao ano, menor do que os 12,57% da última quinta-feira. O retorno do piso desses ativos, o Tesouro Prefixado 2026, era de 11,80% ao ano, inferior aos 11,89% da sessão anterior.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (24): 

Fonte: Tesouro Direto

Arcabouço fiscal

Após críticas da oposição e do mercado sobre o fato de a proposta de novo arcabouço fiscal não trazer nenhum tipo de punição para o descumprimento das metas de resultado primário, reduzindo as exigências para o governo segurar as despesas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje ser contra “criminalizar” um estouro fiscal e argumentou que o cumprimento das metas não depende apenas do governo. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) atualmente coloca o descumprimento da meta de primário como crime de responsabilidade.

“Eu tenho ouvido esse tipo de comentário, mas ninguém pune o Banco Central por descumprir a meta de inflação. O que eu acredito é você ter regras que tornem a gestão mais rígida. Isso eu acredito que seja possível. Mas o resultado fiscal depende do Congresso, do Judiciário, não apenas do Executivo”, alegou o ministro.

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Para Haddad, manter a punição para o descumprimento de metas não faria grande diferença. “Não conheço nenhum país que criminalize, e somos os primeiros a propor uma regra robusta. Mas o Congresso tem a sua autonomia”, completou.

O novo arcabouço também acaba com os bloqueios preventivos para o cumprimento da meta, a cada dois meses no Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas. “Bloqueios a cada dois meses funcionam mal, é melhor você ter um fluxo contínuo monitorando as despesas, do que ter um garrote que é outro faz de conta. Você acaba prejudicando a boa gestão dos recursos públicos em vez de ter uma gestão macroeconômica consistente. Eu acho que o que é contínuo é melhor para fins de gerenciamento do orçamento”, acrescentou.

Focus

A projeção de inflação para 2023 feita pelo analistas de mercado voltou a subir nesta semana, de 6,01% para 6,04%, na quarta alta seguida, enquanto as estimativas para 2024, 2025 e 2026 foram mantidas, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (24) pelo Relatório Focus, do Banco Central. Para o PIB, a estimativa para 2023 subiu para 0,96%.

A projeção para o IPCA de 2024 foi mantida em 4,18%, enquanto as de 2025 e a de 2026 permaneceram em 4,0%.

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Para o Produto Interno Bruto (PIB) a projeção de 2023 subiu de 0,90% para 0,96% em uma semana, enquanto a de 2024 avançou de 1,40% para 1,41%, a de 2025 recuou de 1,72% para 1,70% e a de 2026 estacionou em 1,80%.

Especificamente para os preços administrados, a projeção do IPCA para 2023 manteve a tendência de alta verificada há 21 semanas e passou de 10,20% para 10,71%. Há um mês, a projeção estava em 9,48%. A estimativa para 2024 foi mantida em 4,50% e as 2025 e 2026, continuaram em 4,0%.

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) continuou em 12,50%. A de 2024 foi mantida em 10,0%. A de 2025 está 9,0% há onze semanas. Já a de 2026 permanece em 8,75% há três semanas.

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A estimativa para o dólar em 2023 caiu pela segunda semana seguida, de R$ 5,24 para R$ 5,20. A estimativa para 2024 recuou de R$ 5,26 para R$ 5,25, enquanto a projeção para 2025 está em R$ 5,30 há 18 semanas. Para 2026, a projeção recuou de R$ 5,35 para 5,32.

Na semana em que foi apresentado o novo arcabouço fiscal, as projeções do resultado primário foram mantidas para 2023 (-1,0% do PIB) e 2024 (-0,80% do PIB), mas caíram para 2025 (de -0,50% para -0,37% do PIB) e 2026 (de -0,30% para -0,20% do PIB).

Pacote de crédito

Uma das cabeças por trás do pacote de crédito anunciado pelo governo federal na semana passada, o secretário de reformas econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, argumenta que o mercado de capitais é a melhor ferramenta para reduzir o spread bancário.

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Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o economista aponta como referências modelos de países desenvolvidos, como o dos Estados Unidos, onde o mercado de capitais é cerca de cinco vezes maior que o de crédito bancário.

“Competição entre bancos é importante, mas a competição fora do sistema bancário é mais importante”, afirmou o secretário.

Lula na Europa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está em Portugal, criticou a taxa de juros no Brasil, dizendo que é “muito alta; ninguém toma dinheiro emprestado com taxa a 13,75%”. Segundo Lula, “país capitalista precisa de dinheiro e esse dinheiro precisa circular. A solução no Brasil é voltar a colocar o pobre no orçamento”.

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O presidente mencionou também a privatização da Eletrobras (ELET6): “foi uma desfaçatez o que aconteceu no Brasil nos últimos anos”.

Lula anunciou neste sábado (22) a instalação de um escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em Lisboa e assinou uma série de acordos com Portugal. Segundo o presidente, a medida vai “mostrar a seriedade da relação entre Brasil e Portugal”. A declaração foi feita na XIII Cimeira Brasil-Portugal, evento realizado em Lisboa com o objetivo de estreitar a cooperação bilateral entre os dois países.

Nomes para o BC

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse nesta segunda-feira que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da viagem a Portugal para definirem em conjunto os nomes dos indicados para as diretorias de Fiscalização e Política Monetária do Banco Central.

“O presidente Lula volta de Portugal para definir os nomes no tempo necessário. Tenho certeza absoluta que vindo dessa dupla – Lula e Haddad – só podemos esperar nomes muito qualificados tecnicamente e que tenham o compromisso com a saúde das contas públicas e a responsabilidade social”, afirmou Padilha.

Índice de atividade EUA

O Índice de Atividade Nacional Fed Chicago de março se manteve em -0,19, igual valor de fevereiro. A expectativa era por uma leitura de -0,02.

BCE

Gabriel Makhlouf, dirigente do Banco Central Europeu, considera “muito cedo” para que a instituição comece a planejar uma pausa no processo de aperto monetário, diante de sinais de inflação persistente na zona do euro. Segundo ele, os juros terão que permanecer em níveis restritivos por algum tempo para reequilibrar a oferta e a demanda, com objetivo de conter o preços. “Os riscos no setor não bancário podem surgir de descasamento de liquidez e alavancagem, o que pode afetar adversamente as condições de mercado caso esses riscos se materializem”, disse. (Estadão Conteúdo)

Agenda

Na terça-feira (25), saem as vendas do varejo brasileiro em fevereiro. O Itaú prevê uma queda de 0,2% na comparação mensal e um aumento de 0,6% em bases anuais. Para o índice amplo, o banco estima um crescimento mensal de 0,4%.

“Há muita incerteza em cima das estimativas de índice amplo, dado que uma nova atividade [atacado de alimentos] foi inserida na metodologia e há apenas 13 observações disponíveis”, diz o relatório do Itaú.

Na quarta-feira (26), sai a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) referente ao mês de abril. O Itaú prevê uma alta mensal de 0,58%, levando o índice anual a 4,2%. Assim, a inflação se aproxima do piso que o banco previu para o mês de junho – segundo o Itaú, de julho em diante, a expectativa é que a inflação volte a oscilar acima de 5%.

O índice de preços de gastos de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), referente ao mês de março, será divulgado na sexta-feira. O PCE é considerado termômetro favorito do Federal Reserve para medir o avanço de preços no país. O consenso Refinitiv prevê variação mensal de 0,3% para o núcleo do índice e de 4,5% na comparação anual.

Os números do PIB para o primeiro trimestre, bem como os dados de sentimento do consumidor de abril, serão divulgados entre uma enxurrada de outros indicadores econômicos.

“A leitura vai ser pressionada por preços regulados, especialmente da gasolina e produtos farmacêuticos. Em relação ao núcleo da inflação, serviços, como aluguel e alimentação fora de casa, devem acelerar na margem”, escreveu Mesquita.

Para o IGP-M, índice que costumava ser padrão de referência nos contratos de aluguel de imóveis, a expectativa é de contração de 0,74% em abril. “Tanto na indústria quanto na agricultura, os preços de atacado devem apresentar alguma deflação, com o ferro e a soja mais baratos”, diz o relatório do Itaú. O IGP-M será divulgado na quinta-feira (27).

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney