Tesouro Direto: após duas suspensões, juros de prefixados acentuam alta e chegam a 13,27% com piora das projeções de inflação

Papéis atrelados à inflação entregavam remunerações reais de até 6,44%, caso do Tesouro IPCA+2045

Bruna Furlani Neide Martingo

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Em razão do cenário político, a semana começa com grande oscilação. As negociações do Tesouro Direto foram suspensas duas vezes nesta segunda-feira (23). As suspensões aconteceram em função da forte volatilidade nos preços e nas taxas.

Na volta dos negócios, às 15h25, os juros apresentam alta. O maior retorno oferecido por prefixados era entregue pelo papel com vencimento em 2029, de 13,27%, abaixo dos 13,18% ao ano vistos no começo do dia e dos 13,15% da sessão anterior.

Papéis atrelados à inflação entregavam remunerações reais de até 6,44%, caso do Tesouro IPCA+2045. O percentual está abaixo dos 6,48% vistos no começo do dia e está em linha com os 6,43% registrados na sexta-feira.

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A criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina – um dos temas que geraram mal-estar entre agentes financeiros no fim de semana após publicações a respeito na mídia internacional – voltou a preocupar os investidores nesta segunda.

Em visita à Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, nesta segunda-feira, a implementação de uma moeda comum com o país vizinho e disse que os chefes dos respectivos Ministérios da Fazenda estão trabalhando para apresentar uma proposta. As declarações foram dadas ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após encontro bilateral em Buenos Aires.

Respondendo a jornalistas, Lula sugeriu que se tentasse criar uma moeda comum entre países do Mercosul, de modo a reduzir a dependência do dólar em negócios regionais. Já ao ser questionado nesta manhã em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), buscou aclarar a confusão em torno do tema, dizendo que o debate envolve a criação de uma moeda virtual comum – e não uma moeda única, nos moldes do euro.

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Haddad afirmou que a moeda busca “incrementar” o comércio entre os países e não levaria ao fim do real ou do peso argentino.

Atenção também para nova piora nas projeções para a inflação neste ano e em 2024, apresentadas hoje no Relatório Focus do Banco Central.

Parte da explicação está em declarações do presidente Lula questionando a independência do Banco Central feitas na semana passada e em rumores sobre mudanças em torno da meta de inflação, que afetam as expectativas de inflação deste ano e começam a “contaminar” 2024 e 2025, de acordo com Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. “O mercado fica em torno dessa discussão e coloca prêmios na curva. Estamos vendo, nesses últimos dias, uma tendência de abertura [alta] dos juros”.

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Ele lembra que o mercado está se preparando também para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) amanhã (24). “Deveremos ter um IPCA-15 com pressões. Houve o impacto de recomposição de preços para o final do ano, com vários reajustes”, afirma Luciano.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (23): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Moeda única e viagem a Buenos Aires

A confusão em torno do tema surgiu após um artigo assinado conjuntamente por Lula e pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, confirmar a intenção de criar uma moeda comum sul-americana para transações comerciais e financeiras. O texto assinado pelos chefes de Estado, às vésperas do primeiro encontro bilateral entre presidentes dos dois países em mais de três anos, foi publicado ontem (22) no diário argentino Perfil.

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Uma declaração do ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, ao FT, neste domingo (22), colocou mais lenha na fogueira por afirmar que os dois países criaram grupos de estudo para a adoção de uma moeda que poderia ser ampliada para outros países da região, de forma parecida com o que ocorreu com o euro. Segundo apuração do jornal Valor Econômico, isso não foi cogitado em Brasília.

De acordo com o jornal, o que os dois governos estão discutindo agora é a criação de uma moeda digital para transações financeiras e comerciais. A confusão, diz o periódico, estaria entre os termos “moeda comum”, que seria a virtual, e “moeda única”, nos moldes do euro, o que gerou um debate dentro do governo sobre como comunicar sobre o assunto.

O presidente lembrou que Brasil e Argentina já tentaram movimento similar de fazer comércio com as moedas locais, mas ele classificou a experiência como “tímida” por ser uma decisão optativa, e não impositiva.

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“O que estamos tentamos trabalhar agora é que nossos ministros da Fazenda, cada um com sua equipe econômica, possa nos fazer uma proposta de comércio exterior e de transações entre os dois países que seja feita em uma moeda comum, a ser construída com muitos debates e muitas reuniões”, disse.

O presidente Lula também vai participar da reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), colegiado do qual o Brasil voltou a integrar após ter se retirado durante o governo de Jair Bolsonaro.

Durante a visita nesta segunda-feira, o chefe do executivo do Brasil disse que o País pode financiar um gasoduto na Argentina. “É isso que os países maiores têm que fazer para auxiliar os países que têm menos condições em determinados momentos históricos”, disse. Segundo o presidente, se há interesse dos empresários e do governo, “vamos criar as condições para fazer o financiamento que pudermos fazer para ajudar (a construção) o gasoduto argentino”.

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Boletim Focus

Já na cena econômica, analistas do mercado financeiro mantiveram nesta semana a tendência de alta em suas projeções para a inflação em 2023 e 2024, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (23) pelo Relatório Focus, do Banco Central.

Para este ano, a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem subido há seis semanas seguidas e chegou a 5,48%, contra 5,39% na semana passada. Já a projeção para a inflação em 2024 passou de 3,70% para 3,84%. A de 2025 ficou nos mesmos 3,50% projetados há uma semana e a de 2026 subiu de 3,22% para 3,47%.

Amanhã, será apresentado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial. O dado será referente a janeiro. A expectativa é que haja uma desaceleração em relação à alta de 0,52% registrada em dezembro de 2022, na avaliação de analistas do Bradesco.

Segundo a casa, a desaceleração deve refletir uma menor pressão de preços administrados (combustíveis e energia). Além disso, os profissionais acreditam que os serviços devem ficar de lado, o que deve levar a uma acomodação dos núcleos. Os dados podem fazer com que os economistas voltem a calibrar as projeções para o ano.

Já a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, segundo o Relatório Focus, subiu de 0,77% para 0,79%, enquanto a de 2024 foi mantida em 1,50%, a de 2025 permaneceu em 1,90% e a de 2026 continuou em 2,0%.

A previsão da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) foi mantida em 12,25% para este ano, mas a de 2024 subiu de 9,25% para 9,50%. A de 2025 também avançou, de 8,25% para 8,50%.

Fed no foco

Enquanto isso, na cena externa, os mercados globais têm ponderado a possibilidade de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) esteja se preparando para desacelerar o ritmo de seus aumentos de taxas no combate à inflação, depois que dados econômicos da semana passada mostraram um declínio nos preços no atacado e nas vendas no varejo.

Agentes do mercado também estão absorvendo os comentários feitos na sexta-feira (20) pelo governador do Fed, Christopher Waller, que disse ser a favor de um aumento de 0,25 ponto percentual na reunião de 1º de fevereiro, quando a autoridade monetária apresentará sua próxima atualização de política de taxa de juros. Waller também disse que as taxas já estão altas o suficiente para desacelerar a economia.