Tesouro Direto: com mais perdas do que ganhos em fevereiro, títulos chegam a desvalorizar mais de 1,5%

Apenas dois títulos públicos tiveram retorno positivo no mês, marcado pela queda de braço entre governo e Banco Central

Neide Martingo

Notas de reais (Sidney de Almeida/Getty Images)
Notas de reais (Sidney de Almeida/Getty Images)

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O cenário político determinou o (mau) humor do mercado em fevereiro. Entre os títulos negociados no Tesouro Direto, o mês acabou sendo mais de perdas do que de ganhos – em alguns casos, repetindo os fortes recuos já vistos em janeiro.

Um dos destaques foi a queda de braço entre governo e Banco Central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) coloca em questão a independência do Banco Central e tem criticado o patamar da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

Enquanto isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala que o governo precisa mostrar qual será o arcabouço fiscal, em substituição ao teto de gastos, que ainda vai ser apresentado. Quando tudo estiver à mesa, aí sim, alguma providência sobre os juros poderá ser tomada, segundo ele.

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No cenário externo, os juros americanos provocam preocupação. A expectativa de um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa básica dos Estados Unidos na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, banco central), nos dias 21 e 22 de março, se intensificou no mercado, após a publicação da inflação de janeiro (PCE) vir acima da previsão.

“Se em janeiro houve um movimento de precificar menos juros, com uma expectativa de que o Fed iria diminuir o ritmo de alta, em fevereiro foi diferente”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

A leitura em fevereiro, na visão de Cruz, foi de que o Fed avançará com os juros para patamares mais próximos a 5,5% ao ano. “Isso não fica retido só nos Estados Unidos, também afeta a leitura de que talvez seja necessário manter os juros no Brasil e em outros mercados em patamares mais elevados, diante das taxas da maior e mais segura economia do mundo”, explica.

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No Tesouro Direto, o único papel prefixado a apresentar rentabilidade positiva no período foi o Tesouro Prefixado 2026, que avançou 0,37% no mês e 6,95% nos últimos 12 meses.

O destaque negativo ficou por conta do Tesouro Prefixado 2029, com retorno de -1,18% e ganho de apenas 1,13% nos últimos 12 meses.

Os títulos atrelados à inflação apresentam comportamento parecido. O Tesouro IPCA+ 2029 foi o único a oferecer ganho ao investidor em fevereiro, de 0,15%. Os investidores que optaram pelo IPCA+ 2045 perderam 1,52% no mês passado, enquanto o retorno negativo chega a -5,66% nos últimos 12 meses.

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Foi um reflexo do avanço dos juros, capturado pela marcação a mercado dos títulos públicos. Quem compra um papel e o mantêm na carteira até o vencimento receberá exatamente a remuneração prometida inicialmente. Porém, isso não significa que o valor do papel permaneça inalterado o tempo todo. O preço se movimenta, e não é pouco.

Os papéis mais longos são os que se saíram pior, por serem mais sensíveis à volatilidade causada pelas incertezas fiscais.

Título Vencimento Rentabilidade em fevereiro (%) Rentabilidade em 12 meses (%) Taxa de compra (%) Taxa de venda (%)
Tesouro Prefixado 01/01/2026 0,37 6,95 12,79 12,91
Tesouro Prefixado 01/01/2029 -1,18 1,13 13,34 13,36
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 -1,17 2,53 13,31 13,43
Tesouro IPCA+ 15/05/2029 0,15 6,16 6,28
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -1,01 3,17 6,4 6,52
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -1,52 -5,66 6,51 6,63
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 -0,19 7,57 6,24 6,36
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -0,13 4,29 6,39 6,51
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -0,28 1,99 6,4 6,52

Fonte: Tesouro Direto. Obs: dados relativos ao dia 28/02/23.

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“Nas últimas quatro semanas, houve aumento da projeção de IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] para os próximos quatro anos, de acordo com o boletim Focus. Há muito reflexo da discussão de mudança da meta de inflação e ruído com a queda de braço entre governo e Banco Central”, afirma Gustavo Cruz. “Com essa precificação de inflação mais alta, há uma busca um pouco maior por títulos ligados à inflação e com a precificação de juros um pouco mais altos também”.

Ele chama a atenção ainda para a especulação sobre quem será o novo diretor de Política Monetária do Banco Central, em substituição ao atual, Bruno Serra. Alguns nomes ventilados são mais ligados ao mercado; outros, menos. Isso, segundo Gustavo, trouxe desgaste para o Banco Central.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney