Tesouro Direto: com ata do Copom e retração no setor de serviços, juros dos títulos públicos apresentam movimento misto

Na segunda atualização da tarde, prefixados ofereciam retornos de até 10,67% ao ano. Recuo era maior entre papéis de prazo mais curto

Bruna Furlani

Publicidade

Após um comunicado considerado duro na última quarta-feira (8), a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – em que a Selic foi elevada para 9,25% ao ano – mostrou que “o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante”, segundo o documento divulgado nesta terça-feira (14).

A frase foi lida como um indicativo de que a política monetária deve seguir mais apertada por mais tempo para ancorar as expectativas. Dados mais fracos de atividade, no entanto, podem fazer com que a autoridade monetária “espere para ver”, na opinião de especialistas.

Números de serviços divulgados hoje ajudaram a reforçar as preocupações em torno do impacto que um aperto monetário mais duro pode provocar em termos de atividade.

Newsletter

Liga de FIIs

Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Ainda na cena local, investidores monitoram o início da análise pela Câmara dos Deputados do texto da PEC dos Precatórios, que começa a ser apreciado hoje.

Nesse contexto, os títulos públicos negociados no Tesouro Direto operam com movimento misto nas taxas na tarde desta terça-feira (14). Papéis prefixados de prazo mais curto recuam, enquanto os demais títulos apresentam ligeira alta.

No caso do Tesouro Prefixado 2024, os juros caíam de 10,71% ao ano, na sessão anterior, para 10,67% ao ano, na atualização das 15h20. No começo da manhã, os juros pagos por esse título eram de 10,64%. No mesmo horário, o Tesouro Prefixado 2031 com juros semestrais oferecia retorno de 10,47% ao ano, acima dos 10,43% ao ano vistos um dia antes e dos 10,35% ao ano, registrados no começo do dia.

Continua depois da publicidade

Com isso, a diferença de retorno entre o papel mais curto (2024) e o mais longo (2031) avançava para 20 pontos-base (0,20 ponto percentual), às 15h20. A distância entre ambos voltou a aumentar, depois de ter atingido cerca de 2 pontos-base no começo deste mês, com a resolução parcial da PEC dos Precatórios e a visão de que o Banco Central não deveria subir tanto os juros no ano que vem, leitura que era feita antes do Copom da última quarta-feira (8).

Já entre os papéis atrelados à inflação, às 15h20, os retornos reais oferecidos pelo Tesouro IPCA+ 2026 eram de 4,92% ao ano, frente aos 4,87% registrados ontem (13) e aos 4,84% ao ano, vistos na abertura dos negócios. Da mesma forma, os papéis com vencimento em 2055 e com pagamento de juros semestrais ofereciam remunerações reais de 5,07% ao ano, acima dos 5,05% ao ano registrados um dia antes.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta terça-feira (14): 

Continua depois da publicidade

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Ata do Copom e serviços

Um dos destaques da agenda econômica está na divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom). No documento, os dirigentes destacaram que “o Copom concluiu que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante”.

O colegiado disse ainda que, antes de tomar uma decisão sobre o novo patamar para a Selic, comparou cenários envolvendo ritmos de ajuste acima de 1,5 ponto percentual com cenários em que a taxa de juros permanecia elevada por um período mais longo. Após esses estudos, no entanto, o comitê entendeu que o ritmo de 1,50 ponto era adequado para garantir a convergência da inflação e a ancoragem das expectativas ao longo do ciclo.

Na ocasião, o colegiado também ponderou sobre o impacto que o ciclo de aperto monetário mais agressivo poderia gerar nos números de atividade do ano que vem.

Continua depois da publicidade

“Se por um lado a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica, por outro, o Copom avalia que o crescimento tende a ser beneficiado pelo desempenho da agropecuária e pelo processo remanescente de normalização da economia – particularmente no setor de serviços e no mercado de trabalho – conforme a crise sanitária arrefece”, destacaram os dirigentes.

Na avaliação de Caio Megale, economista-chefe da XP, o Copom está “ganhando tempo” para avaliar melhor o estado da economia global e doméstica no primeiro trimestre de 2022. “Enquanto isso, ele manterá o tom duro e aumentará outros 1,50 pp em sua reunião de fevereiro para manter as expectativas ancorada”, observou o executivo.

“Considerando que a atividade já está perdendo fôlego e que boa parte do aperto monetário ainda não atingiu a economia, ainda acreditamos que, até março, o Copom se sentirá confortável em reduzir o ritmo para 0.75 pp e, a partir daí, entrará em modo de esperar para ver com a taxa Selic em 11,50%”, disse. “Mas reconhecemos que o risco está integralmente inclinado para cima”, completou Megale.

Continua depois da publicidade

Ao participar de debate sobre política monetária realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, reconheceu hoje que o Brasil tem tido uma queda no ritmo de recuperação da economia, enquanto outros países têm acelerado seu crescimento.

“Os demais emergentes têm acelerado crescimento acima do Brasil, à exceção do México. O Brasil teve uma performance melhor em 2020, ficou na média dos emergentes em 2021, mas no pós pandemia voltou ao problema de crescimento estrutural baixo e inferior à média de emergentes”, afirmou no evento.

Também na agenda econômica, investidores monitoram dados de serviços, que recuaram 1,2% em outubro na comparação com setembro, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada nesta terça-feira (14).

Continua depois da publicidade

É a segunda taxa negativa consecutiva, acumulando uma retração de 1,9%. Com o resultado de outubro, o setor ainda ficou 2,1% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro do ano passado, mas está 9,3% abaixo do recorde alcançado em novembro de 2014.

Na comparação com outubro de 2020, houve uma alta de 7,5%.

O resultado veio abaixo do esperado. A projeção do consenso Refinitiv era de alta de 0,1% na base mensal e de 9,5% na comparação anual.

PEC dos Precatórios

Na agenda política, o destaque está na análise pela Câmara do texto da PEC dos Precatórios nesta terça-feira, após modificações feitas no texto por senadores.

Pela regra, Câmara e Senado precisam aprovar a mesma versão de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para que ela possa passar a valer. Por isso, apenas entraram em vigor as regras em comum aprovadas pelas duas casas legislativas.

A análise dos novos dispositivos introduzidos pelos senadores é fundamental para que seja aberto espaço fiscal defendido pelo governo com a proposta, que será usada em parte para financiar o Auxílio Brasil “turbinado”, com parcelas mensais de pelo menos R$ 400.

Pelos cálculos feitos pelo Ministério da Economia, a versão que havia sido aprovada pelos deputados liberava R$ 106,1 bilhões no Orçamento de 2022. E pode ser ainda mais. A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, está revisando suas estimativas para a casa de R$ 116 bilhões.

Cenário internacional

Enquanto isso, na cena externa, investidores repercutem os dados do índice de preços ao produtor nos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês), que avançou 0,8% em novembro na comparação com outubro, enquanto o consenso de mercado estimava uma variação positiva de 0,5%. Os números foram apresentados hoje pelo Departamento de Trabalho dos EUA. No acumulado de doze meses, o índice acumula alta de 9,6%, a maior em onze anos.

O foco dos mercados globais, no entanto, segue na reunião de amanhã (15) do Comitê de Mercado Aberto do Banco Central dos Estados Unidos (Fomc, na sigla em inglês). Não há previsão de alta de juros no encontro desta semana, porém os investidores aguardam o comunicado da autoridade monetária, que pode sinalizar uma retirada de estímulos mais rápida da economia americana. O Federal Reserve, que é o banco central americano, já diminuiu a compra mensal de títulos públicos, prática que adotou ao longo da pandemia da Covid-19.

Na Europa, contudo, a expectativa é que o Banco Central Europeu e o Banco Central da Inglaterra mantenham as medidas de estímulo, diante do avanço da variante ômicron. A Johnson & Johnson informou hoje que, na África do Sul, não há casos de morte pela nova variante entre pacientes imunizados com a sua vacina. Ainda assim, a nova cepa continua trazendo bastante incerteza aos mercados.

Quer sair da poupança? Em curso gratuito, especialista em renda fixa da XP mostra como receber até 200% acima da poupança tradicional, sem abrir mão da simplicidade e segurança!