SÃO PAULO – Energia elétrica, mineração, telecomunicações e financeiro. Esses são os setores vistos por analistas do mercado financeiro como os mais defensivos e com as melhores perspectivas para a distribuição de dividendos nos próximos meses, sendo os preferidos para investir em outubro.
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É o que mostra levantamento feito pelo InfoMoney com dez corretoras, cujas recomendações recaem sobre duas transmissoras de energia elétrica – Taesa (TAEE11) e Isa Cteep (TRPL4) –, a holding Itaúsa (ITSA4), além de Vivo (VIVT3) e a mineradora Vale (VALE3). A última recentemente anunciou o pagamento de R$ 40,2 bilhões em dividendos, acima do esperado pelo mercado.
Os rendimentos com dividendos são vistos como uma boa oportunidade, em especial diante da alta da taxa básica de juros, a Selic, e da inflação. Além da possibilidade de ganho de capital, o investidor conta também com uma rentabilidade adicional na forma de proventos.
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São normalmente empresas consideradas mais consolidadas, com capacidade de gerar caixa e que têm pouca dívida. Isso acontece porque são companhias grandes, melhores que concorrentes em vários aspectos e que conseguem captar dívida a preços menores.
A estratégia de dividendos vem ganhando mais destaque em meio à reforma do Imposto de Renda, com empresas anunciando o pagamento de proventos extraordinários e até adiantando para este a ano a distribuição de dividendos futuros.
Isso porque o projeto de lei aprovado na Câmara prevê taxar os dividendos – hoje isentos – em 15%, além de acabar com os Juros Sobre Capital Próprio (JCP). O texto ainda precisa passar pelo Senado.
Para Jennie Li, estrategista de renda variável da XP, o momento abre oportunidade para o investidor que busca dividendos, com nomes que podem ter corrigido nos últimos meses diante do cenário mais volátil e em meio às discussões sobre a reforma do IR.
Nesse sentido, a estrategista da XP diz gostar de empresas que já são mais consolidadas e não têm hoje tantas avenidas de crescimento – fazendo sentido recompensar o investidor via dividendos. É o caso de grandes empresas de commodities e elétricas, que tipicamente pagam mais dividendos e sofreram mais na Bolsa com a notícia da reforma tributária, diz.
“No cenário macro atual, de incerteza fiscal e política, o stock picking [seleção a dedo das ações] é a forma mais favorável de investir, porque todas as preocupações macro puxaram a Bolsa para baixo, mas os bons fundamentos das empresas permaneceram”, diz Jennie.
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A carteira de dividendos é novidade no InfoMoney, que começa a compilar, a partir deste mês, além de ações e fundos imobiliários, as pagadoras de dividendos preferidas de analistas do mercado. A seleção inclui os cinco nomes mais citados pelas corretoras consultadas. O número de indicações pode ser maior, se houver empate.
Confira, a seguir, o desempenho dos papéis na Bolsa e o dividend yield nos últimos 12 meses:
Taesa (TAEE11)
Com oito recomendações, a transmissora de energia elétrica Taesa é a preferida das casas de análise consultadas para investir neste mês.
A empresa é um dos maiores grupos privados de transmissão de energia elétrica do Brasil em termos de Receita Anual Permitida (RAP) e dedica-se exclusivamente à construção, operação e manutenção de ativos de transmissão. Atualmente, a companhia possui presença em todas as cinco regiões do país, com 36 concessões e cerca de 13 km de linhas de transmissão.
Em relatório, a XP escreve que a Taesa possui uma posição confortável para manter a distribuição de 100% dos lucros este ano. Os analistas destacam que a companhia tem apresentado um histórico de pagamento de dividendos acima da remuneração mínima que consta em seu Estatuto e, segundo eles, deve pagar um dividend yield (retorno com dividendos) de 8,2% em 2021 e 2022.
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A Ágora, por sua vez, afirma que a Taesa é um nome resiliente para períodos voláteis no mercado. Isso porque o segmento de transmissão de energia elétrica não depende da demanda por energia, uma vez que suas receitas são pré-estabelecidas, com reajustes pela inflação.
“A empresa pode investir em novos projetos e ainda assim seguir com payout elevado, levando a um dividend yield na casa dos 8,5% em 2021 e 2022″, escreve o time de análise.
Vale (VALE3)
Para outubro, a mineradora Vale – que perdeu pela primeira vez em 17 meses a liderança isolada nas carteiras de ações – recebeu este mês seis menções para a estratégia de dividendos.
A companha ficou sob o holofote do mercado no último mês após anunciar a distribuição de dividendos no valor de R$ 40,2 bilhões, ou R$ 8,20 por ação. O montante superou a expectativa do mercado financeiro. Saiba mais aqui.
Em relatório, a Santander Corretora escreve que, apesar da maior volatilidade das ações VALE3 no curto prazo, em função da crise imobiliária na China, a casa tem uma visão construtiva no médio e longo prazo para os setores de mineração e siderurgia. A avaliação é de que as empresas brasileiras do setor, a exemplo da Vale, estão bem posicionadas no mercado interno e externo, com fluxos de caixa fortes, alavancagem controlada e, em sua maioria, oferecem boa distribuição de dividendos.
Segundo os analistas, a demanda por minério de ferro de alta qualidade deve continuar elevada no curto prazo, em decorrência de medidas de estímulos econômicos adotados na China, como a priorização de obras de infraestrutura.
A Guide também chama atenção para os preços de minério em patamares elevados e vê como positivo o foco da Vale no controle de custos, além da contínua redução de capex (despesas de capital) e endividamento.
Para o time de análise da corretora, o momento oferece um bom ponto de entrada nos papéis de Vale, devido aos “patamares interessantes”, com a empresa negociada com desconto em relação aos pares australianos.
Transmissão Paulista (TRPL4)
A transmissora de energia elétrica Isa Cteep, que atua em 17 estados do país e é responsável por cerca de 33% de toda a energia elétrica transmitida pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), recebeu cinco menções para este mês.
Com recomendação de compra para a companhia, o BTG Pactual vê Isa Cteep com um dividend yield atrativo de 6% para 2021.
O time de análise lembra que a Aneel aprovou, em junho, um aumento de 9,75% nas receitas (RAP) de 2018 do contrato 059/2001 – incluindo Rede Básica Sistema Existente (RBSE), de R$ 2,45 bilhões para R$ 2,69 bilhões. Esse aumento gerou uma parcela de ajuste de R$ 892 milhões, que será recebido pela companhia por um período de três anos, até 2023.
“Com o substancial fluxo de caixa extra do RBSE a receber recentemente impulsionado pelo componente do custo de capital próprio, acreditamos que a empresa continuará pagando dividendos consideráveis nos próximos anos”, escreve o BTG Pactual.
Já na XP, os papéis da companhia foram incluídos na carteira de dividendos deste mês, dado o caráter mais defensivo da transmissora, diante da crise hídrica no país, dado que é menos exposta a variações hidrológicas.
Telefônica Brasil (VIVT3)
Do setor de telecomunicações, Telefônica Brasil também recebeu cinco recomendações para outubro.
A justificativa, segundo a Santander Corretora, é de que a companhia apresenta um “excelente perfil risco-retorno e, nos preços atuais, uma oportunidade bastante atrativa de investimento, devido à sua sólida geração de caixa e pagamento de dividendos aos acionistas”.
Segundo a casa, o posicionamento estratégico da empresa é apoiado pela sólida cobertura no Brasil, pelo posicionamento “premium” entre os clientes de serviços móveis, além de seus recentes investimentos em fibra ótica e novas iniciativas digitais.
O time de analistas da Santander Corretora lembra ainda que o consórcio composto pela Telefônica Brasil, TIM Brasil e America Movil fez uma oferta vencedora para a divisão de wireless da Oi por R$ 16,5 bilhões. “Vemos uma criação de valor significativa com esse movimento de consolidação no mercado, e a repartição dos ativos entre as partes compradoras como altamente estratégica, uma vez que reduz os riscos regulatórios e de aprovações antitruste”, escreve a corretora.
Já a Guide Investimentos avalia que os papéis VIVT3 estão sendo negociados a um múltiplo atraente quando comparado à sua média histórica, além de possuir um dividend yield “robusto”.
Itaúsa (ITSA4)
A holding Itaúsa, constituída para centralizar as decisões financeiras e estratégicas de um conjunto de empresas, como Itaú Unibanco e suas controladas, recebeu quatro recomendações dentre as casas consultadas.
Dentre os principais direcionadores para os papéis da companhia, a Santander Corretora cita as decisões favoráveis ao setor nos projetos a respeito de tributação e taxas de juros praticadas pelos bancos (atualmente em discussão no Congresso), além de uma retomada da economia mais rápida do que a esperada.
Já a Ágora Investimentos diz ver a Itaúsa como uma boa alternativa ao Itaú, tendo uma grande exposição ao banco, ao mesmo tempo em que está se diversificando cada vez mais, como via venda de participações em empresas de serviços financeiros (caso XP Inc.) ou com a exploração de outros segmentos, como distribuição de energia e agronegócio.
Na semana passada, Alfredo Setubal, CEO da Itaúsa, afirmou que o payout (fatia do lucro destinada ao pagamento de dividendos) da empresa deve voltar aos níveis pré-pandemia nos próximos anos.
Ele explicou que as últimas distribuições de proventos da companhia foram impactadas por uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), que entrou em vigor no ano passado, e limitava a distribuição de dividendos das empresas do setor financeiro ao mínimo previsto em estatuto social. Setubal acredita, contudo, que “o pior já passou”.
Além do Itaú Unibanco (ITUB4), a Itaúsa tem participação na Alpargatas (ALPA4), na Dexco (DXCO3, ex-Duratex) e na Copa Energia (ex-Copagaz). Setubal explicou, porém, que a Itaúsa repassa apenas dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) pagos pelo Itaú Unibanco. Os proventos das demais controladas são utilizados no pagamento de despesas e impostos.
“Dependemos de dividendos, pois não somos uma empresa operacional, que gera caixa”, afirmou o executivo ao ser questionado se a empresa poderia antecipar pagamento de dividendos.
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