Small caps com dividendos acima da Selic? Sim, elas existem – e podem garantir salário extra; veja simulação

Cálculos consideram aporte mensal de R$ 1.000 com e sem reinvestimento dos proventos

Katherine Rivas

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Com a taxa Selic novamente mantida em 13,75% ao ano na última quarta-feira (3), poucas ações ainda têm capacidade para oferecer uma taxa de retorno com dividendos (dividend yield) superior aos juros básicos da economia nos próximos meses.

Mas, sim, elas existem. Ainda.

A maioria, segundo especialistas, pertence a setores cíclicos – que podem, em algum período, pagar proventos altos e, em outro, reduzir a remuneração. Por isso, costumam ser utilizadas em estratégias de alocação tática.

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Entre as grandes empresas da Bolsa, nomes como Petrobras, Gerdau, Taesa e CSN costumam ser figurinhas carimbadas entre as ações que pagam dividendos acima da Selic. Mas haveria papéis com o mesmo potencial entre as “nanicas” da Bolsa?

Segundo um levantamento do TradeMap para o InfoMoney, há nove alternativas entre as small caps – empresas com menor valor de mercado e potencial de crescimento – capazes de entregar dividendos superiores a 13,75% nos próximos 12 meses.

As projeções do TradeMap levam em conta que as empresas mantenham um lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e a mesma política de distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) dos últimos 12 meses.

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O levantamento estabeleceu alguns filtros. Foram consideradas small caps apenas ações de companhias com valor de mercado de R$ 10 bilhões ou menos. Também foi levado em conta um critério de liquidez, limitando os ativos àqueles com negociação média diária de R$ 500 mil, no mínimo, nos últimos seis meses.

Confira as small caps com dividend yield projetado para os próximos 12 meses acima do patamar atual da Selic, de 13,75% ao ano:

Ação Dividend yield projetado para os próximos 12 meses Dividend yield realizado nos últimos 12 meses Dividend yield médio dos últimos 5 anos ajustado pela inflação
Marfrig (MRFG3) 25,46% 9,18% 17,09%
Grendene (GRND3) 21,95% 15,16% 7,16%
Unipar (UNIP6) 21,18% 13,28% 11,18%
Banco BMG (BMGB4) 18,62% 13,29% 15,71%
Syn Prop Tech (SYNE3) 15,55% 9,49% 74,29%
Movida (MOVI3) 14,85% 8,06% 6,97%
Kepler Weber (KEPL3) 14,57% 10,53% 4,40%
Metal Leve (LEVE3) 14,43% 17,63% 7,01%
Brasilagro (AGRO3) 13,93% 9,38% 9,99%

Fonte: TradeMap e Fábio Sobreira. Obs: O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 03/05/23. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP do mesmo período. O dividend yield médio considerou o valor dos dividendos pagos pelas ações nos últimos 5 anos ajustados pela inflação do período. No caso do BMG, o ajuste ocorreu nos últimos três anos, pelo histórico menor da companhia.

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Como receber um salário mínimo com os dividendos dessas ações?

Enquanto a taxa básica de juros fica estacionada, o que subiu recentemente foi o salário mínimo. A remuneração mensal dos brasileiros passou de R$ 1.302 para R$ 1.320 em 2023.

A renda, contudo, é insuficiente para satisfazer todas as necessidades da população. Segundo cálculos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), considerando os preços da cesta básica de alimentos, seriam necessários pelo menos R$ 6.676,11 para suprir tais necessidades.

Na tentativa de complementar a renda, seria possível obter um salário mínimo com dividendos das small caps que ainda pagam mais do que a Selic?

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Uma simulação feita por Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos, indica que investindo R$ 1.000 por mês nestas ações é possível, sim, conquistar o primeiro salário mínimo com dividendos. Quando o investidor opta por reinvestir os proventos recebidos, o tempo para alcançar essa renda acelera.

Por exemplo: considerando que as ações não valorizem ao longo do tempo e tomando como base o dividend yield médio dos últimos cinco anos, já ajustado pela inflação, um investidor precisaria ter um patrimônio de R$ 92.678 na Marfrig (MRFG3) para conseguir receber o equivalente a R$ 1.320 em dividendos por mês.

O tempo para alcançar essa renda aplicando R$ 1.000 mensais é de sete anos e nove meses. Se, além dos aportes, todos os dividendos recebidos ao longo do tempo fossem reinvestidos, o plano tomaria menos tempo: cinco anos e um mês.

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Dentre as ações que ainda têm dividend yield superior à Selic, as da Syn Prop Tech (SYNE3) são as que permitiriam alcançar a renda mensal de um salário mínimo em menos tempo: um ano e três meses (com reinvestimento). Mas atenção: segundo o analista, investir nesta companhia pensando em ter renda passiva pode ser mau negócio, dado que a empresa conta com pouca liquidez – um claro exemplo de que nem todo dividend yield elevado é uma boa oportunidade.

Já o prazo mais longo é o da Kepler Weber (KEPL3): 19 anos e três meses para chegar a dividendos mensais de R$ 1.320, considerando o reinvestimento dos proventos. Sem reinvestimento, o prazo chegaria a 30 anos.

O estudo considerou como premissas o dividend yield médio das ações nos últimos cinco anos até dezembro de 2022, ajustados pela inflação do período. No caso do Banco BMG (BMGB4), que não possui cinco anos de histórico, foi calculado o dividend yield médio desde que foi listado na B3.

O levantamento considerou a situação hipotética de distribuições mensais para todos os papéis (embora a periodicidade de pagamentos varie entre eles).

Veja no quadro abaixo como obter renda de R$ 1.320 por mês com dividendos investindo R$ 1.000 por mês:

Ação Dividend yield médio dos últimos 5 anos ajustado pela inflação Patrimônio necessário para ter uma renda mensal de R$ 1.320 com dividendos Tempo necessário para obter renda mensal de R$ 1.320 (com reinvestimento e aporte mensal de R$ 1 mil) Tempo necessário para obter renda mensal de R$ 1.320 (sem reinvestimento e com aporte mensal de R$ 1 mil)
Marfrig (MRFG3) 17,09%  R$ 92.678 5 anos e 1 mês 7 anos e 9 meses
Grendene (GRND3) 7,16% R$ 221.168 11 anos e 11 meses 18 anos e 5 meses
Unipar (UNIP6) 11,18% R$ 141.701 7 anos e 8 meses 11 anos e 10 meses
Banco BMG (BMGB4) 15,71% R$ 100.859 5 anos e 6 meses 8 anos e 5 meses
Syn Prop Tech (SYNE3) 74,29% R$ 21.321 1 ano e 3 meses 1 ano e 9 meses
Movida (MOVI3) 6,97% R$ 227.381 12 anos e 3 meses 18 anos e 11 meses
Kepler Weber (KEPL3) 4,40% R$ 360.000 19 anos e 3 meses 30 anos
Metal Leve (LEVE3) 7,01% R$ 226.096 12 anos e 2 meses 18 anos e 10 meses
Brasilagro (AGRO3) 9,99% R$ 158.536 8 anos e 7 meses 13 anos e 3 meses

Fonte: Fábio Sobreira, da Ivest Consultoria. Obs: a simulação considera a cotação das ações no fechamento de 03/05/2023. Não foi levada em conta a variação dos preços ao longo dos anos. 

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No universo da renda passiva, disciplina e paciência contam muito para conquistar os objetivos. Mas antes mesmo de completar o prazo final no período de acumulação, já é possível ver os efeitos da renda crescendo, principalmente quando todos os dividendos recebidos são reinvestidos.

Por exemplo: no caso da Brasilagro (AGRO3), seria necessário conquistar um patrimônio de R$ 158.536 para receber uma renda mensal de R$ 1.320 com dividendos. Para isso, um investidor teria que aportar R$ 1.000 todo mês no papel e reinvestir todos os proventos recebidos no período de 8 anos e 7 meses.

Em cinco anos, no entanto, esse investidor já estaria recebendo dividendos de R$ 609,88. Se optasse por continuar investindo mesmo após conquistar o seu objetivo, em dez anos ele receberia uma renda mensal de R$ 1.591,72 com dividendos.

Veja a evolução dos dividendos recebidos em outras small caps da lista:

Ação Valor dos dividendos mensais recebidos depois de cinco anos (com reinvestimento e aporte mensal de R$ 1 mil) Valor dos dividendos mensais recebidos depois de dez anos (com reinvestimento e aporte mensal de R$ 1 mil)
Marfrig (MRFG3) R$ 1.201,03  R$ 3.844,53
Grendene (GRND3)  R$ 413,20  R$ 997,13
Unipar (UNIP6)  R$ 698,65  R$ 1.885,40
Banco BMG (BMGB4)  R$ 1.073,78  R$ 3.300,57
Syn Prop Tech (SYNE3)  R$ 15.084,73  R$ 257.718,39
Movida (MOVI3)  R$ 400,34  R$ 960,96
Kepler Weber (KEPL3)  R$ 240,23  R$ 538,17
Metal Leve (LEVE3)  R$ 402,94  R$ 968,23
Brasilagro (AGRO3)  R$ 609,88  R$ 1.591,72

Fonte: Fábio Sobreira, da Ivest Consultoria. Obs: a simulação considera a cotação das ações no fechamento de 03/05/2023. Não foi levada em conta a variação dos preços ao longo dos anos. A evolução dos dividendos leva em conta o dividend yield médio dos últimos cinco anos, ajustado pela inflação.

Oportunidade ou furada?

Analistas consultados pelo InfoMoney avaliam que boa parte das small caps da lista são companhias que integram setores cíclicos relacionados a commodities, agronegócio, indústria e consumo, o que por si já dificulta uma estratégia de dividendos com foco no longo prazo.

Outras, como Movida, são companhias mais focadas em investimento e crescimento. Já ativos como BMG e Syn não são recomendados para estratégias de dividendos – por conta do pouco histórico na Bolsa e a falta de liquidez, respectivamente.

Entre as companhias consideradas favoráveis para estratégias de dividendos, os analistas citam Unipar, Grendene, BrasilAgro e Kepler Weber.

A Unipar (UNIP6)  foi a única apontada como alternativa para o longo prazo, apesar de ser uma empresa de commodities e cíclica. A empresa trabalha com a fabricação de cloro e derivados e soda cáustica.

Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, destaca que mesmo em um setor cíclico, os produtos da Unipar são utilizados em diversos segmentos da economia.

Embora seja recomendação de Tahara para o longo prazo, ele adverte que a companhia deve ter uma piora dos seus resultados neste ano, por conta da redução dos spreads químicos- diferença entre o preço do produto final e o custo das matérias-primas – que pode afetar os dividendos. “Por outro lado, o valuation [preço] atual traz uma margem de segurança para essa queda, já precificada, o que deve contribuir para um dividend yield interessante”, afirma Tahara, reforçando que os proventos de 2023 serão inferiores aos dos últimos anos.

Sobreira, da Ivest Consultoria, lembra que a Unipar é a empresa favorita de Luiz Barsi Filho, conhecido como o “rei dos dividendos”. A ação representa há muitos anos a maior posição da sua carteira. “A companhia está barata e cresceu cerca de 35% ao ano nos últimos cinco anos. Empresa excelente, com lucro e retorno sobre patrimônio líquido bons”, avalia.

Outra que apresenta fundamentos interessantes é a Brasilagro (AGRO3), que trabalha com compra, desenvolvimento e maturação de terras – e, segundo Sobreira, tem uma boa capacidade de pagar dividendos e se encontra em um setor importante.

Embora o agronegócio seja um setor cíclico, agentes de mercado acreditam que os fundamentos da Brasilagro são capazes de proporcionar segurança ao investidor de dividendos no longo prazo.

Outra que deve pegar carona no desempenho do agronegócio é a Kepler Weber (KEPL3), que produz silos para armazenagem de grãos. Segundo Tahara, embora a empresa seja mais focada em crescimento, deve ser beneficiada pelo bom momento do agro, sendo uma alocação tática para dividendos no curto prazo.

Sobreira cita ainda a Grendene (GRND3), dona das marcas Ipanema, Melissa e Rider. O analista aponta que é uma boa empresa, com dividendos acima da média e considerada barata no momento. “Apesar da queda do lucro por ação desde 2018, no preço atual está pagando bons dividendos”, diz.

Recentemente, a companhia aprovou a distribuição de R$ 1 bilhão em dividendos que estavam represados desde 2016. Desconsideradas as antecipações, a Grendene deve pagar R$ 1,24 por ação no dia 17 de maio, equivalente a um dividend yield de 24%, em relação ao preço de fechamento na data do anúncio.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.