Não aposte contra o dólar e reforce a exposição global de sua carteira: confira as recomendações de gestores

Apesar de alta de juros no Brasil, gestores de patrimônio sugerem cautela com apostas direcionais no câmbio, mas reforçam o valor da diversificação

Beatriz Cutait Lucas Bombana

(Christine Roy / Unsplash)
(Christine Roy / Unsplash)

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SÃO PAULO – Sem apostas direcionais na alta ou na baixa do dólar, porém com um reforço na recomendação de alocação internacional nas carteiras. Esse tem sido o lema de boa parte dos alocadores e gestores de patrimônio no contexto atual.

Ainda que o início de um processo de alta de juros no Brasil em um ritmo mais acelerado que o previsto alimente as expectativas de alívio no câmbio, há certa cautela com mudanças de posições bruscas, dado que o mercado continua sujeito a pressões políticas, principalmente diante de preocupações com o quadro fiscal, além, é claro, das interferências do noticiário global.

Lá fora, as atenções recaem especialmente sobre o movimento dos juros nos Estados Unidos. Uma antecipação da subida de taxas de juros como reação ao reaquecimento da economia tende a contribuir para o fortalecimento da moeda americana.

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Por ora, o brasileiro enfrenta um quadro de real pressionado, taxa de juros ainda baixa e com perspectiva de subir apenas até 5% ao fim deste ano, e com a atividade econômica prejudicada pelo grande número de casos e mortes por Covid-19 e pela lenta vacinação no país, em contraste a países como os Estados Unidos.

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Com uma recomendação de alocação internacional que chega ao máximo de 8% na carteira de um investidor com perfil agressivo, a gestora de patrimônio TAG Investimentos zerou a proteção em câmbio que detinha até pouco antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Baco Central.

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A ideia, segundo Dan Kawa, CIO e sócio da TAG, responsável pela gestão e estratégia, foi ter um pouco mais de risco sem proteção. A diversificação global é apontada por ele como um caminho natural para o investidor brasileiro e a TAG tem ampliado a exposição fora do Brasil, especialmente em produtos como hedge funds e também em carteiras com o foco em Ásia.

Na renda variável, a gestora tem optado por sair de empresas de crescimento e de tecnologia em direção àquelas consideradas “de valor”.

A gestora americana AllianceBernstein tem visão parecida. Ela ressaltou em relatório recente que um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos poderia afetar diretamente o desempenho das ações de crescimento. Na direção contrária, ações de “valor” poderiam se beneficiar da inflação, com o aumento da confiança de investidores com o processo em curso de vacinações contra a Covid-19 e a retomada global.

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“Com as ações de valor global sendo negociadas com um desconto recorde de 52% em relação a ações de crescimento no fim de fevereiro, achamos que os investidores devem considerar iniciar ou aumentar a exposição da alocação em ações de valor”, disse a gestora.

Real mais baixo = janela para investidor

Para Kawa, a alta no Brasil da taxa Selic de 0,75 ponto percentual poderá ser utilizada a favor dos investimentos offshore. “O câmbio pode ter algum alívio de curto prazo, que pode ser utilizado como uma ‘janela’ para alocações fora do Brasil”, diz.

Entre quarta-feira (17), quando o Copom se reuniu, e sexta-feira (19), o dólar comercial teve queda de 1,81% em relação ao real, cotado próximo de R$ 5,48.

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Francisco Levy, CEO e fundador da Allea Wealth Management, também excluiu a moeda americana dos portfólios dos clientes dado o patamar atual. Para investidores mais endinheirados, com patrimônios na casa dos milhões, sua recomendação é ter dinheiro já fora do país, como forma de maior proteção.

Com o início do ciclo de aperto monetário, e, até mais do que isso, com a sinalização passada pelo Banco Central de uma postura incisiva contra a inflação por meio da alta dos juros, a tendência de valorização do real nos próximos meses ganha ainda mais força, prevê Reinaldo Lacerda, sócio da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento.

Por conta desse ambiente, na Hieron, a recomendação é que os investidores façam a alocação global para tirar proveito das oportunidades das economias em franca recuperação dos países mais desenvolvidos, mas com o hedge do câmbio, ou seja, sem a exposição à variação do dólar contra o real.

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Na visão da gestora, as regiões que apresentam as melhores perspectivas de crescimento neste momento são os Estados Unidos e os países da Ásia. “E os mercados que crescem são os que geram mais oportunidades”, afirma Lacerda.

Câmbio na mão de gestores de fundos

Embora o cenário-base seja de fortalecimento do real, Patricia Palomo, sócia da gestora de patrimônio Sonata, não recomenda aos investidores que façam o investimento no câmbio por conta própria.

Diante de uma volatilidade elevada da moeda, o melhor é deixar esse trabalho a cargo de gestores de fundos multimercados, que fazem as trocas de posições com muito mais agilidade, e que, inclusive, já estão posicionados em grande parte para tirar proveito da alta da moeda local, afirma Patrícia.

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“Este não é um momento para ter medo, embora seja importante manter a cautela”, afirma a especialista.

Patricia defende que a alocação global é importante por motivos de diversificação geográfica e de setores. “O fato de que há uma expectativa de apreciação do real com a normalização de juros não muda isso, mas pede uma estratégia mais bem desenhada pra fazer as alocações”, afirma a especialista, que sugere que o movimento seja feito em tranches, para mitigar o risco de volatilidade do câmbio.

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Entre os diversos gestores de multimercados com posições que apostam na alta da moeda local, está a Legacy Capital. O CIO da gestora, Felipe Guerra, entende que o aperto monetário, somado a uma política fiscal responsável e à chegada das vacinas, formam o cenário perfeito para a descompressão do real contra o dólar.

Segundo Luiz Nazareth, diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, diante dos desafios econômicos que o país tem à frente, especialmente no campo fiscal, a gestora não espera por uma valorização importante do real no curto prazo.

Nesse contexto, recomenda aos investidores que tenham alguma alocação em moeda forte como o dólar, que varia de 2% a 4% do portfólio total, a depender do perfil de risco de cada um.

Mas essa exposição ao câmbio não é feita diretamente na moeda ou em fundos cambiais, e sim por meio da alocação em estratégias de renda variável no mercado internacional que ficam expostas à variação do dólar contra o real, aponta Nazareth.

O diretor explica que, desde meados de 2020, quando a taxa Selic foi reduzida para combater os estragos causados pela pandemia, a Azimut passou a aumentar a diversificação do portfólio global dos clientes.

Às estratégias indexadas ao índice S&P 500 e ativas com o foco no mercado americano e global de ações, se somaram nos últimos meses multimercados de arbitragem entre ações de tecnologia. E, mais recentemente, fundos que tenham como proposta aproveitar as oportunidades no mercado chinês, diante do crescimento acelerado da região.

A alocação global nas carteiras dos clientes da Azimut conta com uma parte com exposição ao dólar e outra com o hedge contra a variação da moeda.

Segundo Nazareth, a alocação global com o hedge é importante por oferecer diversificação a setores e regiões que o investidor brasileiro não tem à disposição localmente, mas com uma volatilidade menor do que a alocação internacional com exposição cambial.

Alocação estrutural lá fora

Chefe de pesquisa da Aqua Wealth Management e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), Paulo Tenani, afirma que, pelo histórico de juros altos do país, o mercado de capitais brasileiro ainda é muito raso em termos de oportunidades de investimento, embora venha em evolução.

Por isso, independentemente do cenário, a alocação global é sempre recomendada aos investidores, dentro de um percentual que varia bastante dentro do universo de clientes, a depender do perfil de risco de cada um, explica Tenani. Na média, diz, os portfólios têm aproximadamente 20% do investimento em ativos globais.

“Quanto mais dinheiro a pessoa tem no Brasil, menores são as oportunidades, e essa pessoa acaba sendo forçada a ir para fora, nem que seja para fazer o hedge do real”, afirma o especialista.

Embora a alta dos juros seja benéfica para a valorização do real, nos dias de maior estresse o dólar, sempre vai servir como uma alternativa de proteção, lembra Tenani. “Ainda é muito barato apostar contra [o real], e a conta corrente está ajudando muito pouco”, diz o professor.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.