“Se o jogo está difícil, não há porque colocar dinheiro”, diz gestor da Kapitalo, que prefere commodities a ações e juros brasileiros

Bruno Cordeiro, gestor do multimercado K10, diz que as alocações na Bolsa brasileira são "marginais", com destaque para posições em Petrobras e CBA

Bruna Furlani

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Em meio a uma série de incertezas que rondam os investidores mundo afora, Bruno Cordeiro, gestor do K10, fundo multimercado da gestora Kapitalo, adota uma máxima para suas aplicações: “Se o jogo está difícil, não há porque colocar dinheiro”.

O resultado dessa escolha traz seus frutos. Com investimentos no exterior, além de posições marginais na Bolsa brasileira e no mercado de juros local, o K10 está entre os dez multimercados com melhor performance dos últimos 12 meses, até janeiro. O fundo acumulou retorno de 19,94% no período, contra 5,03% da taxa do CDI, índice de referência mais comum para a classe.

O desempenho positivo se estende ao longo prazo: desde sua criação, em 2018, o fundo obteve retorno anual médio de 12,10%, contra 6,13% dos multimercados brasileiros de gestão ativa, segundo o Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA). Os dados, da Economatica, compreendem o período entre 16 de maio de 2018 e a última quinta-feira (17).

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Em meio a altos e baixos, o K10 também se mostrou resiliente: seu maior drawdown já registrado desde o início das negociações foi de 10,70%. Na prática, a métrica representa a maior queda que o fundo teve em relação a sua cotação máxima durante um determinado período. No caso do K10, o pior ponto de recuo foi registrado em 2 de janeiro de 2020.

Após a contração, o fundo levou 70 dias para se recuperar. Enquanto isso, o maior drawdown dos fundos multimercados em geral (novamente, medidos pelo IHFA) foi de 11,40%, com o pior momento sendo alcançado em 19 de fevereiro de 2020 (considerando o período a partir de 16 de maio de 2018). O IHFA levou 109 dias para se recuperar, segundo a Economatica.

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A consistência dos retornos está bastante ligada à atuação mais tática e focada em mercados globais com liquidez elevada, diz Davi Fontenele, analista de fundos de investimentos da XP. Isso permite que o gestor tenha grande flexibilidade para montar uma posição ao identificar um choque relevante nos preços dos ativos, afirma.

Outro destaque: a alocação em commodities. Fontenele observa que o gestor possui grande experiência nesse tipo de mercado e que, por isso, costuma operar mais com commodities do que seus pares. A posição em commodities foi responsável por quase 29% do desempenho do fundo desde sua criação, seguida por Bolsa (13%) e juros (11%), indica a lâmina do fundo.

De olho nas commodities

As commodities ajudaram a garantir o bom desempenho do fundo ao longo dos últimos anos – e permanecem sendo uma das principais apostas do K10, segundo Cordeiro, seu gestor. A expectativa é de valorização de algumas delas, em especial do alumínio, paládio e petróleo. Além disso, há também posições vendidas em ouro e níquel, acreditando na desvalorização dos metais.

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Bruno Cordeiro, Kapitalo
Bruno Cordeiro, gestor do K10. Crédito: Divulgação

Segundo o executivo, o otimismo com algumas commodities está ligado ao fato de que os estoques estão muito baixos e há sinais de “escassez aguda”, o que pode impulsionar os preços de algumas matérias-primas no curto prazo.

Cordeiro afirma ainda que as condições desfavoráveis do clima – que está mais seco e quente – têm provocado revisões baixistas para as safras de soja e milho, fator que também pode levar a uma alta dos preços.

Outro ponto que provoca impacto, observa Cordeiro, é o aumento das tensões envolvendo Rússia e Ucrânia, o que adiciona ainda mais incerteza ao suprimento global de energia e grãos. Os russos fornecem cerca de um terço do gás natural importado pela União Europeia e são fonte importante do petróleo que chega até a Europa. Isso sem contar o fato de que Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo e milho.

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Fed: ajuste mais rápido do que o esperado

Além de acompanhar com atenção o sobe e desce nos preços das commodities, uma das grandes preocupações do gestor hoje está no movimento de aperto monetário que deve ocorrer com breve nos Estados Unidos.

Cordeiro afirma que a gestora acredita que o ajuste do Federal Reserve (Fed), banco central americano, vai ser mais rápido do que espera hoje o mercado. Segundo as expectativas da casa, a autoridade monetária deveria realizar três altas de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) nos próximos seis meses.

Com isso, nas estimativas da Kapitalo, a taxa dos Fed Funds (que reflete os juros americanos) deveria encerrar o ano em pelo menos 2%. Atualmente, essa taxa está entre 0% e 0,25%. Não é à toa que o executivo possui também uma posição em que aposta na alta dos juros no País.

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“Essa é a nossa visão. Agora, parece que os dirigentes com postura mais hawkish [inclinado ao aperto monetário] vão ser voto vencido na próxima reunião. Deve começar com 25 pontos-base e deixar aberto para 25 bps [pontos-base] ou mais na segunda reunião”, destaca.

Apesar de esperar que o Fed opte por uma postura menos agressiva do que a considerada pela Kapitalo, o gestor argumenta que a casa está “bem convencida de que o banco central americano deve ir para o juro neutro o mais rápido possível”.

Nesse caso, observa, o ano vai ser desafiador para a Bolsa – não necessariamente de grandes quedas dos principais índices americanos, mas sim de forte volatilidade para o mercado acionário americano em 2022.

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A razão, pontua, é que o processo será diferente do que ocorreu no passado. Ele destaca que entre 2017 e 2018, por exemplo, a alta de juros foi de cerca de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), feita em reuniões alternadas. Com isso, a Bolsa sofreu menos e o cenário continuou de alta para o mercado acionário americano.

O ponto agora é outro: “Quando o Fed sair do nível neutro para o restritivo, as condições mudam e o ambiente vai ser mais difícil”, pondera Cordeiro.

Com isso, o gestor vem realizando apenas movimentos mais táticos na Bolsa americana. Após um ajuste de preços em janeiro, quando os índices americanos recuaram bastante, Cordeiro diz que montou uma posição comprada no mercado acionário americano.

Ele, no entanto, pondera que já zerou a alocação em fevereiro. “A Bolsa americana voltou bem e diminuímos a posição. Ela foi rentável, mas a ideia era atuarmos de forma mais tática mesmo”, afirma.

Juros e alocações em Bolsa brasileira

Apesar de deter apenas alocações marginais no Brasil, o gestor afirma que adicionou uma posição pequena tomada (que aposta na alta) em juro mais longo no Brasil na passagem de dezembro para janeiro.

A razão, explica, é que a questão fiscal segue sendo o “calcanhar de Aquiles” do Brasil. Nesse sentido, Cordeiro argumenta que a situação continua preocupante e que o prêmio de risco – ou seja, quanto um investimento com risco rende a mais do que um investimento considerado sem risco – nas taxas nominais mais longas deveria estar acima do que está agora. Por isso, montou recentemente a posição.

Em sua avaliação, os juros devem se manter mais altos por algum tempo para garantir que a inflação volte a convergir para a meta. A maior probabilidade, segundo a casa, é de que isso ocorra até o fim de 2023. Para tanto, o gestor afirma que o Banco Central deve elevar a Selic para até 12,25% ao ano até maio. Um ciclo de corte pode, eventualmente, começar no início de 2023.

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O risco fiscal também é um dos fatores que afastam o gestor de uma alocação maior na Bolsa brasileira. O executivo defende que o mercado acionário brasileiro e a renda fixa estão baratos. Mas que a questão das contas públicas precisa ser “encaminhada de maneira mais séria”.

“O Brasil tem um endividamento relativamente alto e nós temos que endereçar o primário para que as pessoas vejam uma trajetória de dívida/PIB convergente no longo prazo”, destaca o gestor.

Sem ver grandes novidades no radar local e com a aproximação das eleições, a gestora possui hoje apenas uma alocação marginal na Bolsa brasileira, especialmente em ações de empresas de commodities, como Petrobras (PETR3;PETR4) e CBA (CBAV3), que é uma grande produtora de alumínio.

Ao explicar um pouco sobre a alocação em ambas, o gestor diz que as duas podem ser beneficiadas em um cenário de alta nos preços das commodities, como petróleo e alumínio. Fora isso, algumas ações – como é o caso da Petrobras – continuam muito baratas.

Retorno alto, risco também

Embora os retornos entregues pelo K10 tenham sido maiores que a média dos multimercados de gestão ativa nos últimos anos, Luiz Felippo, sócio da Nord Research, faz um alerta: é preciso que o investidor tenha cuidado e não ache que a performance vai se “perpetuar até o infinito”.

“Gestores vão passar por momentos bons e ruins. Esse é um ponto bem relevante para o investidor”, destaca. “Ele é um fundo que tem uma volatilidade relativamente alta justamente para justificar esses retornos maiores”, pontua Felippo.

O K10 tem cerca de 10% de volatilidade. Por isso, Felippo – que não possui uma recomendação específica para o K10 – afirma que o investidor deve estar atento ao nível de risco que está disposto a correr antes de investir.

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