Retorno da renda fixa compensa risco em países como Brasil, diz BlackRock; ações de países ricos exigem cautela

Em entrevista, diretor de estratégia para América Latina disse que alocação em títulos americanos e bolsas de países desenvolvidos está abaixo da média

Bruna Furlani

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Com o ciclo de aperto monetário em países da América Latina mais avançado do que em economias desenvolvidas, os títulos de renda fixa emitidos por governos e empresas dessas nações ganharam espaço nas carteiras da renomada gestora americana BlackRock.

Em entrevista na última sexta-feira (8), Axel Christensen, diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock, destacou que o retorno oferecido por títulos do governo e títulos corporativos do Brasil e de outros países da América Latina, como México e Colômbia, “ultrapassa o risco”.

Para o diretor, como os bancos centrais desses países estão mais perto de encerrar do que do início do ciclo de aperto monetário, há um risco menor de que as taxas subam muito mais. Logo, há menos incerteza sobre a postura das autoridades monetárias.

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Embora tenha ocorrido uma desvalorização recente no preço das commodities e da moeda brasileira, a expectativa de Christensen é que o processo de transição energética global beneficie as commodities, o que também pode ajudar países da América Latina que são mais intensivos em matérias-primas, caso do Brasil.

Na avaliação do executivo, a subida nos preços das commodities deve permitir que tais nações tenham uma estabilidade maior do que a que foi vista em outros ciclos de alta dos juros feitos pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, no passado.

As visões fazem parte do Midyear Outlook Virtual Media Roundtable, documento escrito por uma série de executivos da gestora, com as perspectivas para o segundo semestre deste ano, antecipado ao InfoMoney.

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No documento, os especialistas da casa pontuaram que estão com alocações acima da média de mercado em papéis de renda fixa de mercados emergentes em moeda local. “Rendimentos elevados já refletem o endurecimento de medidas de política monetária nos países emergentes, o que, em nossa visão, oferece uma compensação ao risco da inflação”, afirmaram.

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O otimismo também é maior com títulos de crédito corporativo globais, que sofreram uma revisão para cima e agora representam posições acima da média de mercado (overweight) nas carteiras da BlackRock. Segundo Christensen, o prêmio recebido por investidores ao aplicar em títulos corporativos parece bastante atrativo.

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A preferência, no entanto, é por companhias com balanço financeiro mais sólido e maior qualidade de crédito, diz o executivo. “Acreditamos que há uma boa oportunidade em termos de valuation [preço] nesse classe de ativos”, pondera.

Para os especialistas da casa, em um cenário de desaceleração econômica, tais ativos de crédito também podem ser bons trunfos e apresentar desempenho melhor do que ações.

Embora tenha visões bastante positivas sobre alguns ativos de renda fixa, a BlackRock segue cautelosa com títulos do Tesouro americano (as treasuries), por exemplo, em que a casa possui recomendações abaixo da média de mercado.

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No documento, os executivos da casa afirmaram que os rendimentos oferecidos pelos papéis devem subir ainda mais, à medida em que os investidores demandem juros mais elevados, diante do risco que correm. Com o aumento das incertezas, a preferência é por papéis de prazo mais curto.

Na avaliação de Christensen, o grande cuidado com a renda fixa de alguns países reside no fato de que as taxas devem subir, mas não poderão ficar muitas altas, porque isso causaria uma série de impactos – como a elevação do custo da dívida pública dos governos.

Outro ponto está ligado à inflação. Para o executivo, a alta de preços no mundo atual não será passageira. Ao contrário, será cada vez mais persistente. Em outras palavras, investidores deverão buscar ativos que ofereçam retornos para além da inflação, que deve corroer boa parte dos rendimentos, já que seguirá elevada. “E isso será desafiador para a maior parte da renda fixa”, afirma.

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Ações perdem espaço com risco de recessão

A BlackRock também está cautelosa com os investimentos em ações. Embora mantenham alocações acima da média de mercado para essa classe de ativos para horizontes de longo prazo (entre cinco e dez anos), a casa rebaixou para underweight (abaixo da média de mercado) as posições em ações de mercados desenvolvidos (Estados Unidos, Europa, incluindo Reino Unido) com foco nos próximos seis a 12 meses.

Christensen cita que a visão de curto prazo não é tão positiva quanto a de longo prazo porque há uma incerteza grande sobre a postura que os bancos centrais irão adotar para controlar a inflação e quão persistente será a alta de preços. Para ele, há um risco alto de que ocorram maiores correções nos mercados acionários à frente, como as vistas nos últimos dias.

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Na avaliação do gestor, os números do relatório de emprego americano (payroll) divulgados na última sexta-feira (8) mostraram que o mercado de trabalho segue forte e que a atividade econômica ainda não está sendo muito afetada negativamente, o que reforça a ideia de que o Federal Reserve possui espaço para deixar as taxas de juros mais altas.

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Ao comentar sobre as perspectivas, especialistas da casa também reforçaram que o Fed deve elevar os juros para território restritivo e que os “preços ainda não caíram o suficiente para refletir a queda nos lucros”. Na avaliação do gestor, a chance de que o país entre em recessão num futuro próximo é de 50%.

As perspectivas também não são muito positivas para a Europa no curto prazo. No relatório, os especialistas da BlackRock afirmaram que a guerra na Ucrânia pode fazer com que o continente seja afetado pela estagflação – fenômeno em que além da alta generalizada de preços, a atividade econômica de um país desaquece e o desemprego aumenta.

Christensen também chama a atenção para o fato de que o continente é o que corre mais risco de ser afetado por uma recessão. Ele destaca que as restrições impostas pela Europa sobre a importação de energia russa, como gás natural, têm ajudado a encarecer os custos nos países e pesado sobre os índices de inflação.

Além disso, diz, o sentimento do consumidor tem sido impactado negativamente, diante da proximidade que as nações europeias possuem com a guerra.

Entre os países desenvolvidos, apenas as ações do Japão apresentam recomendação neutra para investimentos entre seis e 12 meses. No relatório, a equipe da BlackRock nota que a política monetária ainda mais “afrouxada” do país e o aumento do pagamento de dividendos são alguns dos pontos mais atrativos. A gestora, porém, não descarta que a economia japonesa possa ser afetada também pela desaceleração global.

Mercados emergentes e eleições no Brasil

Ações de países emergentes, como da América Latina, também estão entre as que receberam recomendação neutra para aplicações voltadas para os próximos seis a 12 meses, na visão da BlackRock. A justificativa, defende Christensen mais uma vez, está no fato de que a maior parcela desses países estão mais avançados no ciclo de alta dos juros.

O diretor da BlackRock nota que a pandemia acentuou um movimento conhecido como nearshoring – em que empresas transferem a operação para locais mais próximos, ou até para dentro do próprio país – com foco em buscar maior segurança para a produção. Isso poderia ajudar países como o México ou o Brasil, que são ricos em matérias-primas, afirma.

Christensen defende que agora não é apenas importante que as companhias tenham o menor custo de produção, mas que elas consigam garantir a produção daqueles bens. Ou seja, se houver outra pandemia, é preciso que as empresas tenham outras alternativas.

E se o resultado das eleições brasileiras não for muito diferente do que vêm mostrando as pesquisas, a expectativa do executivo é de que não haja grandes movimentos no mercado.

“A configuração do Congresso é que deve ser mais importante, porque vai determinar quanto espaço o novo governo terá para fazer políticas públicas”, ponderou o executivo. Segundo ele, as eleições são um elemento importante, mas a preocupação maior segue em aspectos fiscais e no crescimento da dívida pública brasileira.

Atenção para a China

Além da América Latina, a casa acompanha de perto as perspectivas econômicas da China e as idas e vindas no relaxamento de parte das restrições impostas pelos chineses contra a Covid-19.

Embora o país tenha adotado medidas que diminuíram alguns riscos no curto prazo, os especialistas da BlackRock reforçaram que será preciso aumentar os níveis de vacinação de idosos e incrementar o apoio do governo sobre a economia chinesa para que a gestora eleve novamente a recomendação das ações chinesas, que hoje estão neutras.

“Nós vemos um crescimento econômico abaixo dos 5,5% colocados como meta [pelo governo no início deste ano]. Nós também acreditamos que a relação mais próxima da China com a Rússia cria uma nova preocupação geopolítica que nos obriga a pedir uma compensação maior para deter ativos chineses”, concluíram os especialistas no relatório.

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