Ainda dá para ganhar 1% na renda fixa? Como assegurar esse retorno antes que a Selic comece a cair

Simulação indica quanto um título de renda fixa precisa pagar para oferecer a rentabilidade mensal mais buscada pelos brasileiros

Leonardo Guimarães

Publicidade

Buscar rendimento de 1% ao mês, de preferência com pouco risco, é um desejo clássico dos investidores brasileiros. Com a taxa Selic estacionada em 13,75% ao ano desde 2022, ficou mais fácil alcançar esse objetivo no conforto da renda fixa. Afinal, 13,75% divididos em 12 meses é igual a uma rentabilidade 1,14% ao mês, certo?

É uma pena, mas… errado.

Por mais que os juros atuais colaborem com o anseio do investidor, é preciso fazer mais que uma divisão simples para conseguir o retorno de 1% ao mês. Imposto de Renda e juros compostos também devem entrar na equação, assim como uma boa pesquisa nas plataformas de investimento.

Newsletter

Liga de FIIs

Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Para obter uma remuneração mensal de 1% na renda fixa, é preciso um retorno de pelo menos 108,5% da taxa do CDI em títulos pós-fixados, como os CDBs (Certificados de Depósito Bancário). O cálculo – feito por Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, a pedido do InfoMoney – já desconta o Imposto de Renda.

Por conta da tributação, essa taxa seria a necessária para aplicações longas, mantidas por mais de dois anos, quando a alíquota do IR é de 15% sobre os ganhos. Para aplicações mais curtas, de até seis meses, em que o imposto é de 22,5%, o papel precisa pagar pelo menos 119% do CDI para assegurar o retorno líquido de 1% ao mês.

O CDI é o principal indicador de retorno da renda fixa e caminha junto com a taxa básica de juros a Selic. Ainda é preciso ponderar que a alíquota de Imposto de Renda nos investimentos taxados é regressiva e diminui conforme o tempo de aplicação.

Continua depois da publicidade

Em investimentos isentos de IR, como as letras de crédito imobiliário (LCI) ou do agronegócio (LCA) um título que pague 92,64% do CDI já é suficiente para obter retorno de 1% ao mês.

Confira a remuneração necessária para obter retorno de 1% ao mês líquido de IR com aplicações pós-fixadas de renda fixa:

Investimento de até 6 meses Investimento entre 6 meses e 1 ano Investimento entre 1 e 2 anos  Investimento acima de 2 anos
Alíquota de IR 22,50% 20% 17,50% 15%
Remuneração mínima para obter 1% ao mês 119% do CDI 115,3% do CDI 111,8% do CDI 108,5% do CDI

Fonte: Bruno Komura, Ouro Preto Investimentos

Continua depois da publicidade

Investimentos prefixados

Para Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante Investimentos, os títulos prefixados do Tesouro Direto são uma boa aposta para a composição de carteira de quem aceita tomar um pouco mais de risco. Ele indica o Tesouro Prefixado 2033, que paga juros semestrais e oferecia uma remuneração anual de 11,82% nesta quinta-feira (18).

Yamamoto afirma que os outros títulos prefixados do Tesouro “já capturaram muito ganho” e que talvez “esteja passando o tempo” de investir nos de vencimento mais longo.

Apesar da indicação, atualmente, os títulos prefixados do Tesouro Direto não são capazes de gerar retorno de 1% ao mês, já que seria necessária uma taxa de pelo menos 14,92% ao ano para chegar nessa rentabilidade mensal.

Publicidade

Confira a remuneração necessária para obter um retorno de 1% ao mês líquido de IR com aplicações prefixadas:

Investimento de até 6 meses Investimento entre 6 meses e 1 ano Investimento entre 1 e 2 anos  Investimento acima de 2 anos
Alíquota de IR 22,50% 20% 17,50% 15%
Remuneração mínima para obter 1% ao mês 16,36% 15,85% 15,37% 14,92%

Fonte: Bruno Komura, Ouro Preto Investimentos

Já nos investimentos prefixados que sejam isentos de Imposto de Renda, a remuneração mínima necessária para alcançar rentabilidade de 1% ao mês é de 12,68% ao ano.

Continua depois da publicidade

E quando a Selic cair?

As simulações acima consideram a Selic em 13,75%, patamar que não deve ser mantido por muito tempo.

Investimentos feitos hoje em prefixados não terão variação na rentabilidade – caso sejam mantidos até o vencimento – se os juros básicos forem reduzidos nos próximos meses. Afinal, neste caso, a taxa acertada no momento da compra do ativo é a que vale até o fim do seu prazo.

Mas a variação da Selic altera, sim, os cálculos para os papéis pós-fixados e dificulta obter o retorno de 1% ao mês no longo prazo.

Publicidade

O Relatório Focus – pesquisa do Banco Central que compila as projeções dos economistas para as principais variáveis da economia – indica que a expectativa é de a Selic terminar o ano a 12,50%, chegando a 10% no fim de 2024 e a 9% em 2025.

Não há, porém, consenso no mercado sobre quando a Selic começa a cair, já que o Banco Central ainda não deu sinais claros a esse respeito. Portanto, a queda nos juros não está totalmente precificada e existem incertezas.

Yamamoto, da Levante, lembra: “A oportunidade de ganhos maiores está em momentos de incerteza. Quando o BC começar a sinalizar queda nos juros, o mercado estará totalmente posicionado nos títulos que fazem sentido para o momento”.

O cálculo abaixo, também elaborado por Bruno Komura, mostra que se confirmada a expectativa atual do mercado refletida na curva de juros futuros, em dois anos, será preciso procurar títulos que paguem 133,5% do CDI para conseguir 1% ao mês – uma tarefa bem mais difícil do que encontrar quem ofereça 108,5% do CDI.

Confira a remuneração necessária para obter um retorno de 1% ao mês líquido de IR com aplicações pós-fixadas, considerando a expectativa de queda dos juros:

Período do investimento Taxa projetada na curva de juros futuros para a data final do investimento Remuneração mínima para obter 1% ao mês Alíquota de IR
6 meses (nov/23) 13,53% 120,95% do CDI 22,5%
1 ano (maio/24) 12,78% 124,05% do CDI 20%
1 ano e 6 meses (nov/24) 12,03% 133,79% do CDI 17,5%
2 anos (maio/25) 11,51% 133,56% do CDI 17,5%
3 anos (maio/26) 11,20% 133,22% do CDI 15%
4 anos (maio/27) 11,27% 132,39% do CDI 15%
5 anos (maio/28) 11,40% 130,88% do CDI 15%

Os cálculos são compatíveis com a previsão de Fernando Camargo Luiz, gestor da Trópico Investimentos, que crava: “Essa condição de 1% ao mês na renda fixa vai durar pelo menos dois anos”. O argumento é que, mesmo com queda nos juros, ainda há muita incerteza na economia brasileira, principalmente na parte fiscal, cenário que demandará juros altos.

Quais instrumentos escolher?

Há alguns caminhos para alcançar o retorno de 1% ao mês na renda fixa. Komura recomenda LCIs (Letra de Crédito Imobiliário), que são isentas de Imposto de Renda e interessantes para o curto prazo, segundo o analista.

Para aplicações mais longas, os CDBs são os preferidos do especialista, que cita a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) como uma das principais vantagens desse instrumento.

Leia também:

O que é Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e quais investimentos são assegurados?

Já Yamamoto, especialista em títulos públicos, acha que é hora de apostar nos prefixados, esperando ajustes para cima nas taxas antes da queda dos juros e lucrando com a marcação a mercado.

A rentabilidade anual que os prefixados do Tesouro Direto oferecem hoje – entre 11,31% e 11,74% ao ano – ainda não é suficiente para o ganho de 1% ao mês, por isso a sugestão é considerada uma aposta para alcançar esse objetivo.

Fernando Camargo Luiz recomenda Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), instrumentos isentos de Imposto de Renda. Com a ausência da tributação, o retorno líquido pode ser superior a outras opções no mercado. Por outro lado, a liquidez desses papéis costuma ser mais baixa, o que não é interessante para quem não sabe se consegue manter o título até o vencimento.