Dá para se aposentar investindo R$ 1 mil todo mês? Veja simulações com Tesouro RendA+, IPCA+ e CDBs

Investir na aposentadoria não é a realidade da maioria dos trabalhadores do Brasil. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostrou que apenas 32% dos brasileiros das classes A e B (ou 18% no geral) já começaram a fazer reservas pensando em parar de trabalhar.

Pensando nisso, Tesouro Nacional disponibilizou no início deste ano o Tesouro RendA+, novo título público visa auxiliar no planejamento da aposentadoria, tornando a modalidade mais simples e ao alcance de todos os bolsos. Pelo menos 52 mil pessoas já aderiram.

Mas será que esta é a melhor opção para aposentadoria?

A pedido do InfoMoney, Renan Capelli, assessor da Braúna Investimentos, calculou quanto é possível obter com um aporte mensal de cerca de R$ 1 mil por mês em um título do RendA+ com vencimento em 2040, e comparou com Tesouro IPCA+, CDBs (Certificados de Depósito Bancário) pós-fixados e CDBs indexados à inflação no mesmo prazo de 17 anos (os fundos ficaram de fora, já que cada um tem retorno diferente).

Para bolsos menores, o especialista também verificou horizontes de investimentos mais longos, de 32 anos, dessa vez tomando por base o título do RendA+ com vencimento em 2055. Em seguida, comparou com outros instrumentos no mesmo período — nesse cenário, o aporte mensal cai para menos de R$ 300.

Por fim, um cálculo leva em conta a realidade do investidor que pode começar com um aporte inicial maior, de R$ 50 mil, cenário em que os investimentos mensais caem ainda mais.

R$ 1 mil mensais

Segundo Capelli, com um investimento inicial de R$ 1 mil, além de aportes mensais de R$ 1.070,69, é possível atingir renda de R$ 3 mil usando títulos do RendA+ em 17 anos.

Nos mesmos 17 anos e com os mesmos R$ 1.070,69 mensais, o investidor que apostou no Tesouro IPCA+ com cupons semestrais teria uma aposentadoria bem menor, de R$ 1.941,25.

Já os CDBs apresentam resultados mistos, a depender da modalidade.

Confira o primeiro cenário simulado, com investimento inicial de R$ 1 mil e aportes mensais de R$ 1.070,69 por 17 anos:

Fonte: Renan Capelli, assessor da Braúna Investimentos

*As simulações consideram inflação anual de 3,89%

Menos de R$ 300 mensais

O horizonte de investimento escolhido foi de 17 de anos porque RendA+ e Tesouro IPCA+ têm títulos com vencimento em 2040. Se o título escolhido tiver vencimento em 2055, o aporte mensal para chegar aos R$ 3 mil mensais no RendA+ cai para R$ 246,05.

Confira a aposentadoria extra que cada investimento rende após investimento inicial de R$ 1 mil e aportes mensais de R$ 246,05 por 32 anos:

Fonte: Renan Capelli, assessor da Braúna Investimentos

E se tenho R$ 50 mil para investir agora?

Se o investidor já tem um dinheiro reservado para começar a planejar a aposentadoria extra, o valor do aporte mensal pode diminuir. Com investimento inicial de R$ 50 mil, o aporte mensal para chegar a R$ 3 mil de rendimento líquido no Renda+ cai para R$ 823,61.

Veja a aposentadoria extra que cada título garante com investimento inicial de R$ 50 mil e aportes mensais de R$ 823,61 por 17 anos:

Fonte: Renan Capelli, assessor da Braúna Investimentos

No horizonte mais longo, de 32 anos, o aporte mensal após investimento inicial de R$ 50 mil precisa ser de apenas R$ 118,52 para chegar aos R$ 3 mil mensais no RendA+. Em outros ativos, porém, a remuneração fica muito mais atrativa.

Confira a renda que cada título garante com investimento inicial de R$ 50 mil e aportes mensais de R$ 118,52 por 32 anos:

Fonte: Renan Capelli, assessor da Braúna Investimentos

RendA+, Tesouro IPCA+ ou CDBs?

Enquanto o RendA+ faz pagamentos mensais ao longo de 20 anos após o vencimento do título, no Tesouro IPCA+ seria necessário reinvestir o dinheiro com a mesma taxa para alcançar os valores da simulação. No cenário simulado, o investidor reaplica os cupons semestrais do Tesouro IPCA+ até o fim da fase de acumulação. Depois, passa a usar o rendimento de uma nova aplicação.

Para Capelli, o RendA+ é a melhor opção para a aposentadoria. Uma das vantagens é o incentivo que o Tesouro Nacional dá para esse investimento: “não tem taxa de custódia se você levar o ativo até o vencimento”. Em outros títulos do Tesouro, a taxa de custódia é de 0,2%. “No longo prazo e com os juros compostos, isso faz muita diferença”, completa Capelli. Porém, se o resgate acontecer em até 10 anos, a taxa do RendA+ é maior, de 0,5%. Se a saída do investimento acontecer entre 10 e 20 anos, a taxa de custódia é de 0,2%, a mesma do Tesouro IPCA+.

“No RendA+ não há risco de reinvestimento, já que o título começa a te pagar depois do vencimento, enquanto no Tesouro IPCA+ é preciso reinvestir em outro ativo e as condições de mercado podem estar ruins”, explica Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante.

Apesar das vantagens do RendA+ quando o assunto é aposentadoria, o investimento nos títulos de inflação do Tesouro Direto não é descartado por especialistas. “O Tesouro IPCA+ também é um veículo válido e seguro, a diferença é que o recebimento não é diluído no longuíssimo prazo, como no RendA+”, explica Lucas Muraguchi, diretor de administração fiduciária da Ouro Preto Investimentos.

Já os CDBs, apesar da rentabilidade maior, não são recomendados para quem não quer depender exclusivamente do INSS. “Eles são pensados para as necessidades de curto e médio prazo, não para o planejamento de longo e longuíssimo prazo”, segundo Muraguchi.

Os riscos dos CDBs podem pesar no momento da escolha de onde investir para se aposentar. Apesar da proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para aplicações até R$ 250 mil, já há o risco atrelado à instituição financeira que emite o título. Além disso, o risco de reinvestimento também é fator importante. Hoje, com juros altos, as taxas são atrativas, mas esses papéis costumam ser mais curtos que os oferecidos pelo Tesouro Direto, logo o sucesso da estratégia passa a depender da condição de mercado quando o vencimento dos títulos chegar.

“Prazos mais curtos significam que o resgate e o recolhimento de impostos vão acontecer mesmo se o investidor não precisar do dinheiro”, diz Carolina Volcov, sócia-fundadora da Semeare Investimentos, que não recomenda os CDBs para aposentadoria.