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Em uma nova assembleia de antigos fundos da Infinity Asset Management, atualmente sob a gestão da Vanquish Asset Management, Felipe Wada de Souza, um dos executivos da nova casa, defendeu que ele e seus sócios não foram responsáveis por iniciar a montagem de uma posição com opções flexíveis que causou prejuízo de mais de 80% às carteiras.
“Quem apertou o botão não fomos nós. Mas não estamos nos isentando da responsabilidade”, destacou Wada. Ele falou durante a assembleia do fundo Vanquish Coral, antigo Infinity Lotus, que ocorreu nesta segunda-feira (12), e que o InfoMoney teve acesso ao conteúdo. Iniciada às 15h, a reunião terminou por volta das 17h30. A administradora do fundo – RJI Corretora – agora aguarda a contagem de votos.
Wada, hoje diretor de gestão da Vanquish, é egresso da Infinity – ao adquirir parte das operações da antiga gestora, a nova casa também incorporou os principais executivos responsáveis pela gestão.
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Na assembleia, Wada alegou, no entanto, que não tinha acesso aos detalhes de outras estratégias na Infinity que não as suas próprias. Segundo ele, a estratégia com opções IDIs flexíveis sem garantias – que acabaram não sendo honradas por uma contraparte e foram precificadas a zero em maio passado – não pertencia a nenhum dos três sócios que foram para a Vanquish.
Além dele, migraram para a gestora André de Godoy Perez Ximenez e Fernando Paulo Pinheiro de Souza, todos ex-Infinity. De acordo com documento divulgado pela Vanquish Asset em abril, Wada possuia participação de 5% no capital social da Vanquish, enquanto Ximenez detinha 93% e Souza, 2%.
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Documentos da Infinity indicam que Wada teria sido sócio e atuado como diretor de fundos de fundos da gestora entre julho de 2020 e fevereiro de 2023. Já Ximenez teria sido sócio entre janeiro de 2022 e fevereiro de 2023, ocupando as funções de portfólio manager e superintendente de investimentos. Souza também fazia parte da Infinity e aparecia como controlador direto e indireto em relatórios passados.
Mas durante a assembleia, Ximenez defendeu que os três detinham uma participação societária “irrelevante” na Infinity, mantendo, sim, um “vínculo apenas empregatício” com a antiga gestora.
Contraparte “misteriosa”
Na assembleia desta segunda, um dos principais objetos de discussão entre os cotistas girou em torno de quem seria a contraparte final que não honrou o pagamento aos fundos.
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Em uma nova comunicação formal apresentada durante a assembleia do fundo Vanquish Coral, a RJI Corretora – administradora da carteira – reiterou que a contraparte é a ICP Ventures, empresa pertencente ao próprio grupo Infinity e responsável pela estruturação, consultoria e geração de negócios.
Mais do que isso: o documento que identifica a ICP Ventures como contraparte é assinado por David Jesus Gil Fernandez, CEO e fundador da Infinity.
Não é a primeira vez que uma empresa que tem David Fernandez como acionista majoritário é contraparte de operações realizadas pelos fundos de sua gestora – e também não foi só agora que essa prática resultou em problemas.
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Em um processo sancionador da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com julgamento marcado no próximo dia 20, David Jesus Gil Fernandez, CEO e fundador da Infinity, e outros executivos da antiga gestora são acusados de irregularidades em operações com contratos derivativos envolvendo opções flexíveis sem garantia entre 2014 a 2016, em uma situação marcada pelo conflito de interesses.
Em um “repeteco” do caso atual, as contrapartes eram uma empresa chamada I.C.P. e a Infinity CCTVM – David Fernandez era o único acionista da primeira e o acionista majoritário da segunda na época. O InfoMoney não conseguiu confirmar se a I.C.P. e a ICP Ventures são a mesma empresa, porque o CNPJ não está disponível.
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Após anos de fechamentos e reaberturas dos fundos por problemas com a liquidação de ativos, a falta de pagamento das operações jogou luz sobre a contraparte – que, embora formalmente identificada como sendo a ICP Ventures, ainda não é de fato conhecida.
A empresa alega não ser a contraparte final, mas, sim, estruturadora, intermediária e representante perante o fundo de um grupo empresarial que atua diretamente no setor de agronegócios, crédito de carbono e energia – essa, de fato, a ponta inadimplente do negócio.
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Durante a assembleia de hoje, Wada destacou não saber sobre as operações nem quem era a contraparte porque as operações foram feitas em balcão, ou seja, apenas as partes sabiam dos pormenores.
“A Vanquish não apertou o botão. Não rolamos a operação”, disse Wada. Na sequência, o diretor afirmou que a operação é de longa data e acenou positivamente com a cabeça quando um investidor participante da assembleia questionou se a decisão foi tomada por única pessoa.
Segundo advogados consultados pelo InfoMoney sob condição de anonimato na semana passada, um dos fatores que causam estranheza é as duas gestoras – tanto a Infinity quanto a Vanquish – nunca terem revelado quem é a contraparte efetiva.
“Não é incomum que empresas que fazem estruturações de investimentos se apresentem como contrapartes em fundos. O que é estranho é a empresa assumir uma obrigação por um terceiro que ainda não foi revelado”, destaca uma fonte.
Outro advogado pontua que não há clareza sobre a existência de uma “terceira pessoa” nos fatos relevantes divulgados até agora pelas gestoras. Nos documentos, a administradora RJI ou a gestora Vanquish mencionam apenas a palavra contraparte no singular.
Os problemas com os antigos fundos da Infinity começaram a se aprofundar no último mês. No fim de maio, a Vanquish informou à administradora RJI que a antiga gestora havia montado uma operação de compra e venda de opções IDIs flexíveis que só poderia ser exercida na data de vencimento: 17 de maio deste ano.
Opções IDIs são um instrumento utilizado pelo mercado institucional em que o principal objetivo é tentar “acertar” o ritmo de altas ou quedas de juros que será adotado nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) até a data de vencimento do ativo.
No mercado, há opções IDIs padrão e IDIs flexíveis – sendo que as primeiras são as mais comuns e as mais líquidas. Já as últimas se diferenciam por não ter características pré-definidas pela B3. Na prática, os detalhes são acertados entre as partes (comprador e vendedor) e podem envolver o tamanho do contrato, o vencimento etc.
A Vanquish alega que tentou exercer as opções no dia 17 de maio, mas a contraparte não cumpriu com o pagamento, conforme consta em registro da Cetip.
Como a transação não possuía qualquer garantia, fiduciária ou real, a administradora RJI atribuiu valor zero para os ativos, após a falta de pagamento no vencimento. A partir daí, o fundo passou a ser credor da contraparte.
Diante do imbróglio, a Vanquish propôs que a contraparte liquidasse as opções IDIs flexíveis até o dia 12 de fevereiro de 2024 – ou seja, com nove meses de atraso em relação ao vencimento original. A garantia, nesse caso, seria feita por meio de uma Stand by Letter of Credit, ou SBLC, na sigla em inglês.