Proibir criptomoedas no mercado financeiro não é a melhor solução, diz Campos Neto

Roberto Campos disse que quanto mais perto os ativos digitais ficarem do governo, mais fácil será regular

Lucas Gabriel Marins

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Foto Lula Marques/ Agência Brasil)

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na quarta-feira (6), em Brasília, que impedir a entrada das criptomoedas no sistema financeiro talvez não seja a melhor solução para os reguladores e governos.

“Acho que melhor do que expelir e tentar proibir é tentar entender e trazer para perto do mundo financeiro”, falou ele no evento Digitalização da Economia: Agenda de Inovação do Banco Central do Brasil, da Casa Jota.

Campos Neto disse que quanto mais perto os ativos digitais ficarem do governo, mais fácil será regular e entender a tecnologia, e menos surpresas os agentes do Estado terão.

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“Se tiver algum problema em um setor que você expeliu, tem grande importância na economia e não é regulado, isso vai impactar o que está regulado, porque os fluxos financeiros se comunicam”.

Ele falou que o mercado cripto cresceu muito rápido e cometeu alguns “pecados” já superados pelo mercado financeiro tradicional, mas que o mundo está em um momento de “aprendizado”.

Entre as falhas citadas por ele estão o fato de corretoras custodiarem criptomoedas e ao mesmo tempo tomarem risco, conflitos de interesse ao fazer originação e venda de produtos no mesmo canal e concentração de custódia.

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As declarações do presidente do BC favoráveis às criptomoedas foram dadas no mesmo dia em que Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, foi pelo caminho contrário. Em audiência no Senado dos EUA, o executivo disse a legisladores americanos que acabaria com a indústria de criptomoedas se tivesse o poder dos parlamentares.

“Se eu fosse o governo, fecharia tudo”, falou em audiência anual de supervisão de Wall Street do Comitê Bancário do Senado americano.

Campos Neto também falou sobre as stablecoins, tipo “especial” de criptomoeda lastreada em outro ativo, como dólar e ouro. Ele disse que elas têm facilitado o acesso das pessoas à moeda norte-americana e são uma alternativa de reserva valor para aqueles que não têm confiança em suas moedas.

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“Isso é muito verdade em vários países emergentes onde a moeda tem menos credibilidade”, falou. Na Argentina, parte da população tem recorrido às stablecoins para fugir da inflação e da desvalorização do peso.

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Campos Neto falou, no entanto, que os usuários de moedas estáveis precisam ficar atentos às empresas por trás delas e ao lastro prometido. Ele citou o caso da Tether, emissora da USDT, maior stablecoin do mundo, que teve problemas com a Justiça. No Brasil, o ativo é ligado a práticas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, revelou reportagem do InfoMoney publicada em junho.

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Moedas digitais transnacionais

Nesta quinta-feira (7), em encontro anual do Drex promovido pelo BC em Brasília, Campos Neto também ressaltou o papel das moedas digitais como a que vem sendo desenvolvida pela autoridade monetária. Para ele, a moeda digital faz o debate de moeda única entre Brasil e Argentina parecer velho.

“Fui contra essa moeda comum nas duas vezes. Esse debate vai ficar bem velho bem rápido. Se a gente tiver todos os países com moeda digital, todas as moedas digitais conectando com liquidação imediata, qual é a vantagem de você ter uma moeda única se você pode ter a mesma vantagem, que é a velocidade e a diminuição de fricção e custo de intermediação no comércio internacional basicamente tendo um sistema digital?”, falou

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney