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A renda fixa está entre os investimentos mais indicados para 2023. Mas diante de tantas opções – títulos prefixados ou pós-fixados, públicos ou privados, curtos ou longos – como saber qual caminho é o mais indicado?
Esta foi a pergunta que norteou a conversa de Camilla Dolle, head de research de renda fixa da XP, e Marília Fontes, economista e sócia-fundadora da Nord Research, no Onde Investir 2023, evento organizado pelo InfoMoney. Até esta quinta-feira (19), os mais diversos temas que influenciarão suas finanças e investimentos ao longo do ano serão discutidos. Clique aqui para se inscrever.
A perspectiva das especialistas é de que a taxa oficial de juros – a Selic – se manterá no patamar atual de 13,75% ao ano em 2023, principalmente por conta da expectativa de inflação do mercado. “A inflação, já há tempos, está bastante desancorada em relação à meta. Primeiro, é preciso ganhar credibilidade e depois, fazer um ciclo mais longo de queda”, disse Marília.
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Num momento de volatilidade, como o atual, a recomendação mais frequente é de que o investidor evite exposição significativa a papéis prefixados e de longo prazo. Mas é preciso levar em conta, neste cenário, que as taxas prefixadas andam atrativas de modo geral.
Para Marília, o caminho é ficar de olho na inflação. “Embora as taxas dos prefixados estejam muito altas, o risco ainda continua muito forte”, diz a especialista. “Uma coisa é ter um risco de dívida no cenário de crescimento. Outro problema é estar diante de uma realidade de dívida crescente, e em um cenário de queda no PIB”.
Por isso, na visão dela, o melhor é evitar os prefixados, sim. “E isso vale para todos os tipos de perfis de investidores. O risco não precisa ser tomado sempre. O investidor com perfil agressivo não precisa expressar a ‘agressividade’ a todo momento, e sim quando vê uma situação de risco e retorno mais favorável”.
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Camilla diz que a hora é de cautela, quando o assunto são os prefixados. “Há ainda um período de volatilidade. Houve momento, no ano passado, em que nem tínhamos prefixado nas nossas carteiras. Vimos um espaço para acrescentar, mas são percentuais bem baixos, justamente por conta de todo esse cenário”, explica. “E para quem for comprar, recomendamos que seja um título com prazo mais curto. Quanto mais longo o papel, mais ele pode oscilar por conta da volatilidade do mercado”.
As opções, segundo ela, são tanto os títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação, que costumam chamar bastante a atenção do investidor, quanto as debêntures.
Tesouro IPCA+, CRIs e CRAs
Nem muito longo, nem muito curto. Resumidamente, desta forma pode ser explicado o sucesso do Tesouro IPCA+ 2026, presente em muitas das carteiras recomendadas de títulos públicos. “O ativo é um dos mais líquidos. Com liquidez, num momento de crise, o prazo é suficiente para ganhar um dinheirinho”, afirma Camilla.
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Já Marília cita os títulos isentos de Imposto de Renda, como os que envolvem projetos de infraestrutura. Mas é preciso tomar muito cuidado com os projetos. “Eu, particularmente, gosto dos CRIs [Certificados de Recebíveis Imobiliários] e dos CRAs [Certificados de Recebíveis do Agronegócio]. São seguros, pagam uma taxa em torno de IPCA+ 6,5% ou IPCA+ 7% e são isentos de Imposto de Renda. Desta forma, é uma ‘super taxa'”.
Americanas
O rombo contábil da Americanas afeta o mercado de várias maneiras. O crédito privado não fica de fora. Na verdade, a totalidade dos efeitos só poderá ser avaliada com o tempo.
“Haverá um cuidado maior dos analistas com relação aos varejistas para entender o risco. Tudo leva a crer que a Americanas vai pedir recuperação judicial, o que causa impacto para os papéis de renda fixa”, afirma Camilla.
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“Muita gente está preocupada porque, com o pedido de recuperação judicial, os pagamentos são suspensos. Mas a grande verdade é que isso acontece a cada dois ou três anos”, diz Marília. “O mercado é cíclico nesse ponto e, quando acontece o problema, impacta muito os fundos de crédito”. Para ela, quem opta por um fundo de crédito deve estar ciente que o risco existe. “Quem não quer lidar com isso, pode optar pelo Tesouro Direto, por exemplo”.
Marcação mercado
A marcação a mercado começou a vigorar no dia 2. A novidade mostra, dia após dia, quanto o título está valendo segundo as condições de negociação no mercado. O que Camilla tem falado aos investidores é que existe mais transparência. “Quem tem renda fixa acha que só tem valorização. Mas não é assim. A marcação a mercado pode ter causado um desconforto inicial, mas é possível saber quanto o ativo vale a cada dia”.
Para Marília, trata-se de uma das melhores mudanças que já aconteceram no mercado. “O grande problema dos títulos públicos é que, principalmente no mercado secundário, é preciso ir ao balcão e colocar esses ativos. Mas se o investidor não estava familiarizado com esse processo, como saber qual é o preço justo?”, afirmou. Desta forma, explica ela, o investidor pode ser enganado nos preços.
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FIDC
Recentemente, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) liberou, para os pequenos investidores, a aplicação nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, ou FIDCs. É um investimento de renda fixa que, até então, era restrito ao investidor qualificado. Agora está aberto a qualquer investidor.
Para Marília, os FIDCs são boa alternativa. “Muitos investidores querem optar por produtos só acessíveis aos qualificados. Não fazia sentido. Agora o processo está mais simples e transparente”, diz.
Camilla faz coro e observa que é preciso fazer uma análise criteriosa do crédito: que dívidas compõem o FIDC, qual é o gestor, em que títulos de crédito ele investe. “Mas é um veículo maravilhoso”.
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Tesouro RendA+
O título público do Tesouro Direto, focado em aposentadoria – o Tesouro RendA+ – estará disponível para o investidor a partir do dia 30. Para Camilla, trata-se de uma boa alternativa para quem está começando e cumpre um papel de democratização dos investimentos para as pessoas físicas.
“Oferecer um título voltado para a aposentadoria, num programa como o Tesouro Direto, faz com que as pessoas comecem a pensar nesse assunto. O produto, porém, não pode substituir outros focados em aposentadoria, como a previdência pública. É uma forma de complementar”, diz.
Marília também enxerga a novidade com “bons olhos”. “Tudo que é fácil de organizar, de explicar quando o investidor vai receber, é bem-vindo. O problema é que a pessoa vai receber por vinte anos apenas. As pessoas estão vivendo mais atualmente e esse prazo pode ser curto”.