Por que você não deveria resgatar seus (bons) fundos multimercados?

Entenda porque a volatilidade na renda fixa global é a doença e o longo prazo é a cura

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Aqueles que acompanham essa coluna há mais tempo, sabem que procuro sair do óbvio em meus textos e trazer provocações “sem maquiagem” sobre o mercado financeiro e seus ativos. Esse espaço já está entre os 3 mais visitados do segmento no InfoMoney, obrigado pela confiança e companhia – vocês são o principal motivo para que eu possa exercitar minha paixão em escrever!

 Gostaria de conhecer melhor quem está por traz dos olhos que devoram essas linhas todas as semanas. Para isso, queria propor uma brincadeira: tire print dessa tela e marque meu Instagram, @_lucascollazo, será um prazer encontrar com você nas redes.

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A perseguição pelo não óbvio continuará no texto do dia de hoje. Em nossa última oportunidade, comentei sobre o momento dolorido dos fundos multimercado e o incômodo gerado aos seus respectivos cotistas.

A indústria de hedge funds brasileira passa pela pior fase desde 2008. Momento agudo e duradouro, justifica os questionamentos dos investidores sobre o que ocorreu na cozinha dessas gestoras e quais são as perspectivas daqui em diante.

Desde sempre, sou apaixonado em dados para fundamentar análises e argumentos. Gostaria de uma reflexão nesse formato para o tema.

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Fonte: Quantum Axis. Elaboração XPA Data base: outubro/2023

Acima podemos dimensionar melhor o tamanho dessa dor citada: observamos os spreads entre o IHFA (Índice de Hedge Funds da Anbima) e o CDI. Ou seja, a diferença de resultado desses fundos contra seu principal benchmark.

A janela recente é uma das piores de toda a história. Em 2020, tivemos uma queda aguda dos mercados, mas que foi rápida em duração, enquanto entre 2013 e 2014, a dor foi mais longa, mas menos profunda. A grande crise de 2008 é a que mais se equipara com a situação atual. Mas por quê?

Aparentemente, quando a volatilidade da renda fixa internacional (MOVE index) fica mais alta, os fundos multimercados brasileiros tendem a apresentar resultados piores. Muito curioso, mas pouco conclusivo.

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Eles perderam dinheiro da mesma forma? Ao longo desse ano, escutamos sobre uma posição consensual (e infeliz) “vendida” em bolsa americana. Uma aposta na queda dos preços das principais ações (S&P 500) da terra do Tio Sam.

Bom, ela pode ser parte dessa queda, mas certamente não foi a principal responsável para todos. Abaixo, a correlação dos multimercados desde março de 2016 até aqui.

Nessa janela terrível de retornos negativos, culmina nas mínimas de correlação da indústria. O que significa que, de formas diferentes, o resultado negativo foi conquistado – até diria que ele pode ser mais explicado em posições aplicadas em juros emergentes e no Brasil, mas os números mostram que não houve grande consenso entre eles.

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Aliás, é notável como essa correlação vem diminuindo ao longo do tempo. O que é ótimo para os investidores.

Muitos podem afirmar que o problema seria o tamanho da indústria. Porém, a principal gestora independente do Brasil em patrimônio, quando convertida para dólares, é 10 vezes menor que a quarta colocada dos EUA.

Essas informações me dão uma sensação de que, por mais que seja um momento ruim e que não seja motivo para colocar um sorriso no rosto, não há fundamentos para acreditar em ciclicidade dessa classe de ativos. Com isso, acho de bom tamanho termos uma leitura de longo prazo nessa história:

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A fronteira eficiente de Markowitz nos ajuda a entender o papel de uma alocação perene em multimercados dentro de um portfólio diversificado. Interessante notarmos a diferença que essa classe faz em 10 anos (tempo observado nos dados):

Vemos uma melhoria nos retornos, com redução de volatilidade, o que aumenta o índice Sharpe da carteira. Temos um ganho de eficiência no portfólio, simples assim.

O seu assessor de investimentos recomendou investimento em alguns fundos dessa classe? Você é cotista de produtos dessa categoria?

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Foco na janela longa. Em cima desses números, está comprovado como a classe pode fazer a diferença numa carteira balanceada e, os retornos ruins de curto prazo, que podem permanecer assim por ainda mais tempo (infelizmente), são resultantes de um momento ruim da indústria, nada mais.

Claro que essa análise não é válida para qualquer gestora. Assim como qualquer produto no mundo, existem fundos bons e ruins.

Gestoras de qualidade podem deixar de ser, caso alterem principais sócios e equipe, processos de investimento, assim por diante. O mesmo é válido para o contrário: nada é tão ruim que não possa melhorar (salve suas exceções).

Um acompanhamento próximo e qualitativo é necessário. É por esse motivo que os fundos de fundos fazem tanto sentido como solução financeira, como é o FoF Selection Stock Pickers, por exemplo.

A tentativa de “operar” cotas dos fundos, resgatar nesses momentos ruins, voltar a ser cotista quando os números melhoram. A TIR (Taxa Interna de Retorno) dos investidores destes fundos é pior que o retorno nominal do veículo em si, pouco mais de 1% ao ano ficam na mesa nessa tentativa de encontrar ciclos na indústria de gestão ativa.

A alocação estrutural com balanceamentos periódicos em janelas mais espaçadas é muito mais eficiente que perseguir “a bola da vez” em termos de produtos. Existem bustos de gestores de fundos de pensão de universidades nos EUA, o grande mérito deles foi a união de paciência com bons processos de investimento – talvez não ergam uma estátua sua por isso, mas você deveria se espelhar neles.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney