Petrobras, Prio e mais: como gestoras enxergam setor com sobe e desce do petróleo nos últimos dias

Apesar do recuo da commodity em meio ao conflito Israel-Hamas, casas estão otimistas com alguns papéis – mas alertam sobre potencial de alta de uma ação

Bruna Furlani

(Getty Images)

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Os ataques do Hamas a Israel no fim de semana provocaram mais uma onda de aversão a risco nos mercados no começo desta semana. Mas, após uma sessão de alta expressiva nos preços do petróleo na segunda-feira (9), a preocupação de investidores com possíveis interrupções na oferta da commodity perdeu força. Agora, agentes de mercado preferem adotar um tom mais cauteloso e de atenção a novas movimentações.

“A primeira reação é aquela comum para qualquer guerra. É compreensível. Depois, investidores vão buscar entender se vai ter envolvimento de outras regiões. Acho que agora vai começar a pesar um pouco o quanto o conflito vai se alastrar”, pondera Tiago Cunha, gestor de ações da ACE Capital.

Cunha observa que nem a Palestina nem Israel são regiões produtoras de petróleo e que o efeito seria maior caso houvesse uma postura mais agressiva por parte da Arábia Saudita, que é o segundo maior produtor da commodity, e por eventuais embargos vindos do Irã, que responde por cerca de 3,6% da produção mundial.

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Após uma alta de mais de 4% nos contratos futuros de petróleo tipo Brent e WTI na última segunda-feira, os dois últimos dias têm sido de ajustes para baixo nos preços da commodity. Por volta das 12h (horário de Brasília), o Brent recuava 2,40%, aos US$ 85,55, enquanto o WTI caía 2,91%, cotado a US$ 83,42.

Compasso de espera

Diante de incertezas com relação ao desenrolar do conflito, a casa diz que não fez nenhuma alteração nas posições que detém em Petrobras (PETR3 e PETR4) e 3R Petroleum (RRRP3). “No caso do petróleo, não achamos que muda substancialmente a avaliação com os elementos que vimos no fim de semana”, afirma o gestor da ACE.

A Real Investor foi outra que preferiu também não realizar mudanças na carteira. Cecília Stremlow, sócia e analista da gestora, pondera que o conflito parece estar mais restrito à região da faixa de Gaza e Israel, e que, analisando apenas os efeitos sobre os mercados, as altas do petróleo do dólar poderiam ser considerados até alavancas para as companhias do setor petrolífero.

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Atualmente, a casa possui alocação em PetroReconcavo (RECV3), 3R Petroleum e Petrobras. “As empresas passaram o terceiro trimestre com um patamar de câmbio e de preço de petróleo mais favorável. Devemos ter uma surpresa com os resultados, porque as casas ainda estão com os números defasados”, destaca a sócia da Real Investor.

Embora algumas empresas demorem mais para repassar eventuais aumentos nos preços de petróleo, caso da Petrobras, Stremlow diz que a petroleira ganhou tempo agora para ver se faz sentido ou não promover um reajuste em breve.

Tem muita volatilidade. Ninguém sabe ao certo o que vai ocorrer. Não estaria fora esperar mais um tempo para ver se faz sentido ou não o aumento, algo que ela tem feito desde o passado. Isso não elevou a nossa preocupação.

Cecília Stremlow, sócia e analista da Real Investor

Declarações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, feitas após a eclosão do conflito Hamas-Israel, reforçaram a cautela com o cenário atual em relação a novos reajustes. “Não tem que fazer muito mais do que a gente está fazendo, tem que ir acompanhando os preços, principalmente do diesel, e ir se organizando”, explicou. “Isso não quer dizer que vamos fazer ajuste o tempo todo”, destacou.

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A ACE Capital também acredita que, se for necessário, a Petrobras irá realizar o repasse de preços, diante da situação mais delicada das contas públicas. “O grande ponto é a necessidade de arrecadar mais impostos e gerar caixa”, lembra Cunha.

De olho na pressão do governo para equilibrar as contas, ambas as gestoras também não descartam a chance de que a Petrobras pague um dividendo extraordinário neste ano. O profissional da ACE afirma que há espaço, mas que tudo vai depender do plano de investimentos da companhia, que será apresentado em breve.

Petrobras passou do “ponto óbvio de entrada”

Ainda que esteja com perspectivas mais positivas para a Petrobras, Stremlow, da Real Investor, não nega que as ações já teriam passado o “ponto óbvio de entrada”. No acumulado do ano, os papéis preferenciais da companhia sobem quase 79%, contando o fechamento da última terça-feira (10).

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O investimento também é visto com maior cautela pela Toro Investimentos, que, ao contrário da Real Investor, prefere manter os papéis fora das recomendações. Lucas Serra, analista de investimentos da Toro e responsável pelo setor de óleo e gás, explica que houve uma mudança recente na política de investimentos da companhia e que há dúvida sobre a destinação dos lucros. “Será que vai para os ativos que geram retornos favoráveis para a companhia?”, questiona.

Junior oils: Prio mais próxima do preço justo

Já entre as companhias consideradas como junior oils, caso da Prio (PRIO3), 3R Petroleum e PetroReconcavo, o papel que estaria mais próximo do preço justo de forma unânime na visão das casas ouvidas pela reportagem é a Prio.

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“O preço está girando em torno de R$ 48, o que não gera um upside [valorização] tão favorável. É difícil recomendar mais por uma questão de preço e menos por conta do operacional, que está bem estável e redondo”, afirma Serra.

Por outro lado, especialistas avaliam que há oportunidades no caso da 3R Petroleum e da PetroReconcavo. Nos cálculos da Toro, o preço-alvo das ações da 3R pode chegar a R$ 73,72, o que representaria um aumento de quase 140%, levando em conta o fechamento de R$ 30,82 visto na última terça-feira (10).

O especialista da Toro explica que a alta poderia ser impulsionada por uma redução no custo de extração, com o aumento de produção.

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Já com relação à PetroReconcavo, o maior otimismo é puxado pela visão de que o mercado teria “exagerado” na reprecificação dos papéis. Stremlow, da Real Investor, destaca que a companhia possui os melhores ativos onshore [domésticos], tem crescido no segmento de gás natural e que apresenta uma produção robusta, que fica em torno de 28 mil barris por dia.

“Também gostamos do qualitativo. Ela possui um modelo mais verticalizado. Tem sócios estratégicos e uma equipe c-level mais experiente”, conclui a sócia da Real Investor.